O silĂȘncio no carro blindado era mais pesado que chumbo.
Melina deslizava os dedos sobre o visor do celular, os olhos fixos num Ășnico arquivo de ĂĄudio recĂ©m-transferido. Ela jĂĄ o ouvira trĂȘs vezes. NĂŁo precisava mais, mas ainda assim... dava play de novo. A voz de Amanda â sua amiga, sua confidente, a mulher que segurou sua mĂŁo nos bastidores da FGV quando ela ainda era sĂł uma menina com sede de mundo â ecoava fria, quase irreconhecĂvel:
- âEla nĂŁo faz ideia. Ainda pensa que sou dela. Mas no fundo... quem comanda tudo agora Ă© vocĂȘ, Miguel.â
A resposta dele veio em seguida, lenta como veneno escorrendo:
- âEla sempre foi brilhante. SĂł precisava de alguĂ©m que soubesse usĂĄ-la melhor.â
A risada dos dois, ao final do ĂĄudio, era uma lĂąmina.
Melina pausou. Encostou o celular no banco, com cuidado, como se temesse que a prĂłpria raiva estilhaçasse o aparelho. Depois, olhou para frente. Clara dirigia em silĂȘncio, mas sabia. Sabia que aquele ĂĄudio era uma sentença.
â Prepare a sala de reuniĂ”es d