Capítulo 2
Esfreguei minhas mãos avermelhadas pelo frio, sem me importar com a neve que caía cada vez mais forte, e fui depressa comprar os ingredientes.

Manejei desajeitadamente a linha interna da lagosta e, em pouco tempo, meus dedos ficaram vermelhos, surgiu uma grande erupção na pele ao entrar em contato com a casca da lagosta.

No entanto, ao pensar que aquela seria a última refeição junto com meu pai e meu irmão, forcei-me a suportar o desconforto e apressei os movimentos das mãos.

Quando coloquei os camarões ao alho na mesa de jantar, meu pai, meu irmão e Carrie já estavam sentados na sala de estar.

Risadas chegavam até mim em ondas.

Meu pai, sempre tão sério, olhava Carrie com uma ternura incomum.

Meu irmão conversava animadamente com Carrie sobre fatos engraçados do dia.

Ele pegou uma laranja das mãos de Carrie e falou, com carinho:

— Como pode deixar nosso tesouro descascar laranja? Carrie, suas mãos são para tocar piano, não para fazer esse tipo de coisa.

Meu ex-noivo, Joel, também estava lá com seus pais.

Eu sabia que, comparada a mim, eles preferiam que Carrie se tornasse a Luna de Joel.

Naquele momento, Joel estava sentado ao lado de Carrie, olhando para ela com indulgência.

Quando a marca da laranja ficava em seus lábios, ele gentilmente pegava um lenço para limpar, temendo machucá-la.

E eu, sozinha, estava ali em pé, sem receber um olhar sequer.

Como tantas outras vezes, enquanto Carrie estivesse presente, todos inevitavelmente se esqueciam de mim.

A sala de estar e a sala de jantar pareciam dois mundos distintos.

O dela era animado, o meu, solitário.

Quase esqueci que, muito tempo atrás, aquele lugar de Carrie era meu.

A pessoa que recebia o carinho e a atenção de todos também era eu.

— Mana, por que está aí em pé? Venha sentar ao meu lado.

Meu irmão franziu o cenho:

— Pra que chamá-la pra cá? Se ela vier, vai estragar o clima.

— Embora ambas sejam meninas, Carrie, nem todo mundo é tão bondoso quanto você.

Enterrei as unhas na palma da mão para não chorar diante de todos.

Forcei um sorriso:

— Não tem problema, não vou até aí. A comida já está pronta, venham todos experimentar.

Quando coloquei o último prato de camarões ao alho, todos já estavam sentados à mesa.

No lugar que antes era meu, agora estava sentada Carrie.

Nos outros lugares estavam meu pai, meu irmão, Joel e os pais de Joel.

Não havia mais lugar para mim naquela mesa.

Meu irmão olhou para mim.

Antes que dissesse qualquer coisa, peguei meu prato discretamente e voltei para a cozinha.

O olhar de meu irmão ficou confuso por um instante, mas foi só por um instante.

Logo ele já estava descascando camarões para Carrie.

Na cozinha, quase não restava comida. Apenas um pouco de caldo no fundo da panela, que bebi até o fim.

O sabor delicioso me fez olhar, sem querer, para a sala de jantar.

Carrie adorava frutos do mar.

E todos ao redor da mesa a mimavam instintivamente.

Alguém lhe descascava camarões, outros lhe davam água ou guardanapos, e seu prato nunca ficava vazio.

Os pais de Joel já haviam gostado muito de mim, mas agora, assim como Joel, preferiam a recém-chegada Carrie.

Parecia que queriam dar tudo a ela.

Ouvindo as risadas e conversas vindas da sala de jantar, não pude evitar recordar que aquele lugar de Carrie já foi meu.

Eu era quem recebia cuidados e mimos.

Me perdi tanto nesses pensamentos que, de repente, troquei olhares com meu irmão, ficando visivelmente nervosa.

Vi o olhar caloroso dele se tornar frio no mesmo instante.

Virei o rosto, constrangida, e dei dois passos para trás.

Sem perceber, acabei esbarrando em um prato sobre a mesa, derrubando-o.

O prato caiu ao chão com um som agudo, estilhaçando-se.

Meu pai interrompeu o gesto de descascar camarões, falando com impaciência:

— Eu sabia que ela não estava realmente arrependida. Faz uma refeição e deixa a cozinha uma bagunça, não consegue nem fazer uma coisa tão simples. É um verdadeiro inútil!

Apertei o local do meu braço que sangrava por causa dos cacos, sentindo-me profundamente injustiçada.

Pai, eu não sou inútil, só foi um acidente.

Hoje é nossa última refeição juntos, não foi de propósito.

Mas eu sabia que, mesmo explicando, ele não acreditaria em mim.

A mãe de Joel não conseguiu evitar de olhar para mim, demonstrando certa preocupação no olhar.

— Maria ainda é uma criança, nessa idade é normal querer chamar atenção, até fazer coisas erradas de propósito.

— Também foi culpa nossa por tê-la negligenciado. Coloquem mais uma cadeira, deixem Maria jantar conosco.

Sob olhares de desprezo, fui puxada pela mãe de Joel para me sentar.

— Maria, faz tempo que não te vejo, como emagreceu tanto? Precisa comer mais.

Foi só nesse momento que todos realmente me olharam de cima a baixo.

Meu pai, ao ver minha magreza, mostrou um breve espanto e abriu a boca, querendo dizer algo.

O olhar de Carrie escureceu de repente e ela exclamou, arrancando a manga da própria blusa e gritando:

— Está ardendo e coçando... está insuportável...

Meu pai, meu irmão e Joel imediatamente se amontoaram ao redor de Carrie, alarmados.

Logo, uma enorme erupção avermelhada apareceu em seu braço, e ao coçar, começou a sangrar.

Meu pai, aflito, tentou impedi-la de se machucar mais:

— Isso parece uma reação alérgica, mas como pode ter acontecido?

De repente, o olhar frio de meu pai recaiu sobre mim, e ele me encarou com raiva.

No instante seguinte, um tapa estrondoso ecoou pela sala de jantar.

— Como posso ter uma filha tão maldosa? Teve coragem de envenenar Carrie para causar alergia!

Cobri o rosto, que rapidamente ficou inchado e avermelhado, e caí no chão, tonta.

A tontura explodiu em minha mente e, ao recobrar os sentidos, todos já me cercavam.

Os olhares eram de reprovação e ódio, como se desejassem que eu sofresse no lugar da adorada Carrie.

Pálida, tremi ao tentar me explicar:

— Eu não fiz isso! Não fui eu...

Mas, como sempre, ninguém acreditou em mim, já me condenando como culpada.

Meu irmão gritou comigo:

— Como posso ter uma irmã como você? Que nojo!

— Agora entendo porque quis cozinhar para a Carrie hoje, queria era machucá-la!

Joel me olhou de cima, dizendo com desprezo à mãe, que havia sido a única a se preocupar comigo:

— Mãe, agora a senhora entende porque não gosto dela? Uma mulher tão maldosa, jamais poderia ser minha Luna.

Sua mãe tentou dizer algo, mas meu pai já saía carregando Carrie nos braços, gritando:

— Primeiro vamos levar Carrie para ser tratada, o resto resolvemos depois!

Todos correram atrás de Carrie, preocupados, deixando-me caída no chão, sozinha e humilhada.

A dor no rosto inchado e o corte no braço nem se comparavam à dor em meu coração.

Olhei para as costas deles, e as lágrimas finalmente escaparam dos meus olhos.

Sempre era assim.

Quando se tratava de Carrie, nunca escolheram acreditar em mim.

Senti que algo dentro de mim morreu completamente naquele momento.

A tristeza ameaçava me afogar.

Mas eu sabia, era a última vez.

Logo eu iria embora, desapareceria do mundo deles.

Então, não sofreria mais por eles.
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