Pedindo reforço ao morro do Borel.
Rocinha- 03h27 da madrugada.
O primeiro tiro ecoou como trovão em noite de tempestade. Veio da mata, seco, direto, certeiro. Acertou uma das câmeras que Rael tinha mandado instalar dois dias antes. Em segundos, o rádio explodiu de mensagens:
— Perdemos a visão da Curva do S! Repetindo: câmera foi derrubada!
— Várias silhuetas na mata! Os cara tão subindo!
— Contato visual! Contato visual!
Rael, já posicionado num dos pontos altos, puxou o fuzil e mirou pra mata escura. O silêncio tenso virou um caos de estouros e gritos abafados.
— ABRE FOGO! — gritou, e a Rocinha respondeu.
O barulho dos tiros virou trilha sonora da madrugada. Clarões cortavam o breu, refletindo nas fachadas humildes. A Serpente avançava com tudo: vinham por cima, pelos becos, testando cada entrada. Mas a favela não era boba. Cada viela tinha um guerreiro pronto. Cada escadão era uma emboscada armada.
Do lado da Curva, Rael se movia como sombra entre a laje e a contenção, orientando, gritando, socorrendo os feridos.