#19 Relutância

Alexa encarava Ana com cumplicidade, e Ana tentava de todas as formas fugir daquele olhar.  

— Amiga! Sei que já disse isso um milhão de vezes, mas vou dizer mais uma vez: você sempre foi apaixonada pelo Theo, mas guardou seus sentimentos a sete chaves porque é teimosa demais. Não acha que já é hora de dar uma chance para esse casamento dar certo?  

— Dar uma chance? Eu não posso fazer isso... Simplesmente não dá!  

— É claro que pode, amiga!  

— Não, Alexa! Não posso! Sofri demais com esse casamento. Sabe o que é ter pavor de andar sozinha na rua, mesmo em plena luz do dia? E a sensação de que, a qualquer momento, posso ser levada novamente e passar por aquele mesmo tormento que vivi? Ter medo de ser presa dentro de uma camisa de força, tendo alguém ao lado dizendo repetidas vezes que vai te mandar para um lugar de onde jamais poderei ser livre? Me sinto ainda dentro daquela camisa de força, lutando para ser liberta. Acha mesmo que consigo ignorar tudo isso e viver uma vida feliz ao lado dele? Sem que, a todo momento que eu olhar para ele, enxergue o Gabriel?

— Ana, o Theo não tem culpa dos erros do pai.  

— Eu também não. Eu não fiz nada de errado pra ter tido um tratamento de merda como o que tive.

Era doloroso ver seus amigos sofrerem, e Alexa era o tipo de pessoa que não sossega enquanto não consegue ajudar. Mas como ajudar uma pessoa quebrada?

— Ana, eu mais do que ninguém entendo você! Mas vamos ser racionais por um momento, tá bem? Você está sofrendo! Mas e quanto ao Theo? Sabe o quanto ele vem sofrendo todo esse tempo? Mesmo não sendo o culpado, ele se sente assim. Theo vem se martirizando dia após dia por conta da escolha que o pai fez, sem contar com a sua indiferença... Não acha que está mais do que na hora de dar um basta em tanto sofrimento? Acredito que tanto você quanto o Theo precisam se apoiar um no outro. E eu acho que vocês precisam de ajuda pra isso.

— Que tipo de ajuda? — Sem muita emoção na voz, Ana fez a pergunta. Mas, no fundo, já sabia a que tipo de ajuda sua amiga se referia. Bárbara já lhe havia feito tal sugestão.

— Vocês precisam de ajuda profissional.

— Psiquiatra!? — Deduziu Ana, encarando Alexa de forma não muito relaxada. Alexa a olhou perplexa.

— Você já tinha pensado a respeito?

— Não! Mas a Bá já tinha me dado essa ideia... Acha mesmo que preciso disso?

— Me responda você. Acha que está na hora de se curar dos traumas do passado? De ter uma vida tranquila e feliz?

A resposta não veio, mas Alexa notou que Ana estava pensativa, talvez considerando a possibilidade de aceitar ajuda profissional. Isso já era um bom começo; quem sabe, em breve, ela aceitaria tal ajuda. As horas foram passando, e as duas entraram em assuntos mais relaxados.

Até que Alexa notou uma figura masculina entrando no estabelecimento. O rapaz era moreno, musculoso, medindo seus dois metros e cinco de altura. Um verdadeiro homem de grande estatura. Dono de um rosto que parecia pintado a pincel. Seus olhos verdes chamativos exalavam um charme que fazia qualquer mulher molhar a calcinha apenas com aquele olhar lançado a elas.

As mulheres das mesas vizinhas torciam o pescoço, alvoroçadas, para conferir a beldade que ele era. E, claro, isso gerou revolta em Alexa, que não gostou nadinha de ver seu noivo sendo “secado” pelos olhos sem-vergonha daquelas mulheres abusadas.

— Não sei se mato primeiro ou trucido depois, ou se trucido primeiro e mato depois! — A voz de Alexa não saiu nada gentil. Ao contrário, soou tão alta que era possível ser ouvida a cerca de um metro de distância. Ana encarou a amiga, divertida. Essa era sua amiga: ciumenta e bem barraqueira, diga-se de passagem.

— Isso é porque você disse uma vez que não era nada ciumenta.

— Se disse, não me lembro. — Respondeu Alexa, com uma tromba maior que a de um elefante.

— Calma, amiga! Elas podem até olhar. Mas só você é quem pode pegar! — Ana estava se divertindo com a situação. Não tinha nada melhor do que provocar Alexa.

— Anram, tá! Queria ver se fosse o Theo que elas estivessem secando, se você ficaria nessa calma que tá aí!

Ana podia até gostar de provocar Alexa. Mas a morena sempre teve bons argumentos para debater com ela. E parece que mexeu no ponto certo. Ana até tentou disfarçar, mas estava na cara que pensou na possibilidade de ser Theo no lugar de Marlon. E a carranca que ela fez só confirmou que Alexa estava certa.

— Até parece que eu me importaria.

— Hum! Mente que eu gosto! — Alexa a provocou mais e sorriu vitoriosa.

Marlon já estava próximo o suficiente da mesa e sorriu lindamente para sua noiva, que não quis nem saber. Levantou-se apressada e se jogou nos braços fortes do moreno, que não se surpreendeu com tal atitude vindo dela. E, para mostrar que ele tinha dona, Alexa lhe tascou um beijão de língua, digno de um Oscar, fazendo com que as mulheres que o encaravam com insistência desviassem o olhar no mesmo instante.

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