Três

Ela aguentou as agressões por quatro anos, não aguentando mais, ela fugiu comigo no meio da noite.

Foi quando conheceu os meus tios, os pais de Kátia.

Eles ajudaram minha mãe dando um emprego em sua casa.

Ela trabalhou para eles por cinco anos antes de falecer devido uma infecção respiratório.

A justiça decretou que eu ficaria com meu pai, foi a pior decisão que eles tomaram.

Quando a assistente social foi me buscar em minha casa, após eu ter enterrado minha mãe, ela verificou apenas onde eu colocaria minhas roupas, mas não verificou qual o estado de minha alma, acho que nem se preocupou se eu tivesse se quer uma alma. Passei nove anos sendo humilhada e agredida.

Se não fosse Kátia e seus pais eu poderia estar morta agora. Penso sentindo um arrepio em meu corpo.

Eu nunca entendi o porque de tanto ódio de meu pai.

Mas agradeço a Deus porque tenho a minha Kátia por perto.

Não sei o que seria de mim sem ela.

Para uns, a família é só o pai,

para outros, só a mãe,

muitos só têm o avô, ou a avó, mas eu só tenho a Kátia e seus pais.

Eu e Katinha somos bem diferentes, mas temos uma ligação única, somos irmãs de coração.

Mesmo com toda a bagagem que trago comigo, ela escolheu está ao meu lado quando mais precisei.

__ O que foi amiga? Você está com aquele olhar perdido.

__ Minha mente só passou um instante pelo passado. __ Digo.

__ Esqueça esse maldito deusa, ele não pode mais te machucar.

__ Eu sei amiga, eu sei, estou tentando. Vamos voltar ao assunto sobre esse favor que não quero fazer.

Eu prefiro falar sobre isso do que lembrar o passado.

__ Também acho melhor. __ Ela diz e sorrir. __ Aceita deusa, por favor?

__ Você não pode faltar hoje amiga? __ Pergunto não querendo da o braço a torcer.

__ Não, Vladimir está em meu pé deusa, ele ficou sabendo que um homem rico e muito importante vai aparecer lá depois de muito tempo, então ele quer fazer um show, quero dizer, ele quer "Ô Show". Além do mais eu sou sua melhor dançarina... Exótica. __ Emenda orgulhosa.

Era quase palpável o orgulho em sua voz.

__ Aquele idiota ainda teve audácia de me dizer: Se você não aparecer se considere demitida. __ Ela diz imitando a voz grossa do patrão me fazendo sorrir achando graça. __ Ele fala isso sempre. __ Kátia suspirou exasperada. __ Só não dou uns t***s na cara dele, porque antes quero dar é uns t***s naquela bunda gostosa. Se é gostosa só em olhar, imagine tocando? __ Ela revira os olhos como se estivesse pensando em algo prazeroso. __ Uma pena que ele seja gay deusa, se não eu creuuu. __ Ela completou com um tom divertido.

__ Menos Kátia. __ Digo rindo. __ Menos.

Quando criança fizemos um pacto de uma proteger a outra e serem amigas até o fim. Kátia sempre foi mais ousada e eu a mais tímida.

Ela me ajudou tanto, foi com a ajuda dela e de seus pais que pude vim morar aqui na Rússia.

Sempre me sinto no dever de constantemente ajurda-la como posso, mesmo ela dizendo que não devo nada a ela. Ela sempre diz que faria tudo novamente por amor a mim.

Como dizer não a ela? Só porque estou com medo e vergonha? Penso. Não posso! Afirmo em pensamento suspirando em seguida.

__ Tudo bem Kátia, eu faço, mas é só hoje.

__ NÃO ACREDITO. __ Ela gritoi eufórica. __ Vou deixar Vladimir ciente, vai ser somente hoje amiga. Vai lá e seduza aqueles ricaços com esse corpão maravilhoso.

__ Menos Kátia, menos. Voltei a dizer.

Longe de mim querer seduzir alguém, se eu pudesse ficaria invisível.

__ Te amo deusa. __ Kátia declarou se Levantando do sofá.

__ Também te amo katita. __ Ela odeia esse apelido. Imagine a cara... Puro nojo.

__ Já está indo embora? __ Faço a pergunta não disfarçando a tristeza.

__ Sim, nem vou passar em casa, vou direto para o aeroporto, no caminho aviso a Vladimir. Olhe, a roupa que você vai usar deixei naquela sacola em cima da poltrona. __ Ela diz tudo de uma só vez apontando em direção a poltrona enfrente ao sofá com um sorriso vitorioso nos lábios.

__ Tá bom amiga, venha cá e me dê um abraço. __ Levanto do sofá também e ela caminha até mim e me da um abraço apertado. __ Vou sentir tanto a sua falta. __ Digo fungando ao chorar. _ E agora? Com quem vou brigar, discutir? Quem vai me tirar do sério? __ Pergunto sorrindo em meio as lágrimas.

__ Parece até que não vou voltar porra, fiquei com medo de pegar o avião agora. __ Ela diz em um tom brincalhão. __ Se você quer alguém pra brigar arranje um homem, esses sim nos tiram do sério.

__ Deus me livre, não quero chegar perto de relacionamentos.

__ Ahhh, pare deusa, você não vai ter a má sorte de sua mãe. Estamos aqui faz cinco anos, já tive dois namorados, já fiquei com alguns caras e você nada. Não quer saber como é ser preenchida por um homem?

__ Não quero falar sobre isso Kátia.

__ Eu sei deusa, mas pense nisso, você vai ver o quanto o sexo trás uma sensação de liberdade.

Eu estava morta de vergonha e ela sabe disso.

__ Agora é sério, tchau deusa, minha gostosa.

__ Tchau, vai com Deus meu amor.

__ Amém deusa. __ Assim que Kátia saiu me sentei no sofá suspirando.

__ E agora José? Onde foi que eu me mentir? __ Pergunto-me em voz alta.

Espero que dê tudo certo.

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