Isabella:
Ou, pelo menos, tentar me distrair. Naquela situação em que eu estava, nem isso parecia funcionar.
— Não fique muito preocupado, Alê. Eu estou bem. Ou... vou ficar, caso você tope me ajudar.
Ele arqueou uma sobrancelha, cético.
— Veio me pedir um favor, então? Que coisa, achei que tinha vindo porque estava morrendo de saudades de mim.Revirei os olhos, rindo.
— Pensou errado, seu convencido. Não foram os seus belos olhos azuis que me fizeram atravessar o país.— Se teve algum motivo mais importante do que esse, então eu realmente devo me preocupar.
— Você virou o advogado mais bem pago do país, Alessandro. Duvido muito que eu seja a primeira amiga do passado a vir pedir ajuda.
— Sou especialista em divórcio, Bella. E duvido que você esteja precisando se divorciar.
— Não. — Ri, sem graça. — Na verdade, é o extremo oposto disso.
Ele me olhou, confuso.
— Como assim? Quer ajuda pra se casar?— De certa forma... sim.
A porta do elevador se abriu, mas ele ficou parado, tentando entender o que eu quis dizer.
Eu avisei que seria melhor ele estar sentado e com uma dose de álcool antes de ouvir. Não era falta de aviso.Entrei no elevador, virei-me para ele e, antes que perdesse a coragem, deixei tudo sair de uma vez:
— Eu preciso que você se case comigo.Segurei a porta antes que ela se fechasse, esperando qualquer reação, mas ele continuou imóvel, como se o cérebro dele tivesse travado.
Certo. Definitivamente, a gente precisava de um bar pra essa conversa.
E era uma pena eu não poder beber — porque, sinceramente, nunca precisei tanto de um drink na minha vida....
Algum tempo depois, já estávamos sentados lado a lado no balcão de um bar barulhento demais pra situação que estávamos vivendo.
Ele tomou a dose de uma vez só. Eu só olhei pro copo, tentando fingir calma.
— Então... — ele começou.
— Então... — repeti, sem saber exatamente por onde continuar.
Ele girou o copo vazio nas mãos antes de me encarar.
— Quando você disse que quer que eu me case com você... o que exatamente quis dizer?Respirei fundo, tentando não parecer tão nervosa.
— Convites chiques, padrinhos, vestido branco, buquê, cerimônia, festa. Tudo como manda o figurino.— E ainda me disse que não veio por causa dos meus lindos olhos... — provocou, com aquele sorrisinho que sempre me desmontava.
Eu ri, mas senti o riso morrer na garganta.
— Meu pai quer se aposentar e passar a presidência da empresa pra mim ou pra Giuliana.— Aquela mesma empresa que você jurou que nunca iria querer?
— Essa mesma. As coisas mudaram. — Suspirei. — A minha mãe está doente.
O sorriso dele sumiu.
— E é grave?— Complicado. Mas ela tem boas chances, se fizer um tratamento longo... e umas cirurgias. Só que é tudo muito caro, Alê.
— Bella, se o problema é dinheiro, eu posso...
Balancei a cabeça.
— Não é simples assim. Eu vou precisar de muito dinheiro, e por bastante tempo. O tratamento é demorado, e ainda tem toda a rotina dela — alimentação, remédios, cuidadoras, moradia... Ela foi morar comigo há duas semanas, e eu já estou no limite. — Soltei um suspiro cansado. — A aposentadoria dela não cobre nada, e agora nem o meu aluguel vai dar pra pagar... porque eu fui demitida.A palavra ficou pesada no ar.
Demitida. Como se ela tivesse o poder de resumir todo o caos que a minha vida virou em questão de dias.Eu sabia que ele queria me ajudar — dava pra ver nos olhos dele —, mas também sabia que o que eu precisava não era algo que ele pudesse simplesmente resolver com um cheque.
— E onde, exatamente, um casamento comigo entra nisso? — ele perguntou, confuso.
— Pra você entender, eu preciso explicar a parte insana da história. — Apoiei os cotovelos no balcão, massageando as têmporas. — Meu pai teve uma ideia maluca: quer que Giuliana e eu trabalhemos na empresa dele e, durante esse tempo, ele vai avaliar não só o desempenho de cada uma, mas também a “postura de vida” de nós duas. — Fiz aspas com os dedos. — Sabe como ele é moralista, preso no século passado.
— Tá dizendo que você acha que tem mais chances se estiver casada? — Ele me olhou como se eu tivesse perdido a cabeça. — Bella, isso não faz o menor sentido. Sua irmã é mais nova, não é? Ela está noiva, pelo menos?
— Não, nem perto disso.
— Então, se as duas são solteiras, isso não muda nada.
Respirei fundo, olhando pro copo que ainda estava cheio.
— Mudaria, se eu não estivesse... grávida.Ele piscou, sem reação.
Silêncio. Aquele tipo de silêncio que faz o bar inteiro parecer parar de existir.— É sério? — ele soltou, rindo de nervoso. — Por favor, Bella, fala sério.
Revirei os olhos.
— É sério, Alê. Eu tenho uma vida sexual, sabia?O riso dele morreu.
A expressão mudou completamente.E naquele momento, eu percebi que o pior ainda estava por vir — porque agora ele sabia que eu não estava brincando.