5- Case comigo

Isabella:

Ou, pelo menos, tentar me distrair. Naquela situação em que eu estava, nem isso parecia funcionar.

— Não fique muito preocupado, Alê. Eu estou bem. Ou... vou ficar, caso você tope me ajudar.

Ele arqueou uma sobrancelha, cético.

— Veio me pedir um favor, então? Que coisa, achei que tinha vindo porque estava morrendo de saudades de mim.

Revirei os olhos, rindo.

— Pensou errado, seu convencido. Não foram os seus belos olhos azuis que me fizeram atravessar o país.

— Se teve algum motivo mais importante do que esse, então eu realmente devo me preocupar.

— Você virou o advogado mais bem pago do país, Alessandro. Duvido muito que eu seja a primeira amiga do passado a vir pedir ajuda.

— Sou especialista em divórcio, Bella. E duvido que você esteja precisando se divorciar.

— Não. — Ri, sem graça. — Na verdade, é o extremo oposto disso.

Ele me olhou, confuso.

— Como assim? Quer ajuda pra se casar?

— De certa forma... sim.

A porta do elevador se abriu, mas ele ficou parado, tentando entender o que eu quis dizer.

Eu avisei que seria melhor ele estar sentado e com uma dose de álcool antes de ouvir. Não era falta de aviso.

Entrei no elevador, virei-me para ele e, antes que perdesse a coragem, deixei tudo sair de uma vez:

— Eu preciso que você se case comigo.

Segurei a porta antes que ela se fechasse, esperando qualquer reação, mas ele continuou imóvel, como se o cérebro dele tivesse travado.

Certo. Definitivamente, a gente precisava de um bar pra essa conversa.

E era uma pena eu não poder beber — porque, sinceramente, nunca precisei tanto de um drink na minha vida.

...

Algum tempo depois, já estávamos sentados lado a lado no balcão de um bar barulhento demais pra situação que estávamos vivendo.

Ele tomou a dose de uma vez só. Eu só olhei pro copo, tentando fingir calma.

— Então... — ele começou.

— Então... — repeti, sem saber exatamente por onde continuar.

Ele girou o copo vazio nas mãos antes de me encarar.

— Quando você disse que quer que eu me case com você... o que exatamente quis dizer?

Respirei fundo, tentando não parecer tão nervosa.

— Convites chiques, padrinhos, vestido branco, buquê, cerimônia, festa. Tudo como manda o figurino.

— E ainda me disse que não veio por causa dos meus lindos olhos... — provocou, com aquele sorrisinho que sempre me desmontava.

Eu ri, mas senti o riso morrer na garganta.

— Meu pai quer se aposentar e passar a presidência da empresa pra mim ou pra Giuliana.

— Aquela mesma empresa que você jurou que nunca iria querer?

— Essa mesma. As coisas mudaram. — Suspirei. — A minha mãe está doente.

O sorriso dele sumiu.

— E é grave?

— Complicado. Mas ela tem boas chances, se fizer um tratamento longo... e umas cirurgias. Só que é tudo muito caro, Alê.

— Bella, se o problema é dinheiro, eu posso...

Balancei a cabeça.

— Não é simples assim. Eu vou precisar de muito dinheiro, e por bastante tempo. O tratamento é demorado, e ainda tem toda a rotina dela — alimentação, remédios, cuidadoras, moradia... Ela foi morar comigo há duas semanas, e eu já estou no limite. — Soltei um suspiro cansado. — A aposentadoria dela não cobre nada, e agora nem o meu aluguel vai dar pra pagar... porque eu fui demitida.

A palavra ficou pesada no ar.

Demitida.

Como se ela tivesse o poder de resumir todo o caos que a minha vida virou em questão de dias.

Eu sabia que ele queria me ajudar — dava pra ver nos olhos dele —, mas também sabia que o que eu precisava não era algo que ele pudesse simplesmente resolver com um cheque.

— E onde, exatamente, um casamento comigo entra nisso? — ele perguntou, confuso.

— Pra você entender, eu preciso explicar a parte insana da história. — Apoiei os cotovelos no balcão, massageando as têmporas. — Meu pai teve uma ideia maluca: quer que Giuliana e eu trabalhemos na empresa dele e, durante esse tempo, ele vai avaliar não só o desempenho de cada uma, mas também a “postura de vida” de nós duas. — Fiz aspas com os dedos. — Sabe como ele é moralista, preso no século passado.

— Tá dizendo que você acha que tem mais chances se estiver casada? — Ele me olhou como se eu tivesse perdido a cabeça. — Bella, isso não faz o menor sentido. Sua irmã é mais nova, não é? Ela está noiva, pelo menos?

— Não, nem perto disso.

— Então, se as duas são solteiras, isso não muda nada.

Respirei fundo, olhando pro copo que ainda estava cheio.

— Mudaria, se eu não estivesse... grávida.

Ele piscou, sem reação.

Silêncio.

Aquele tipo de silêncio que faz o bar inteiro parecer parar de existir.

— É sério? — ele soltou, rindo de nervoso. — Por favor, Bella, fala sério.

Revirei os olhos.

— É sério, Alê. Eu tenho uma vida sexual, sabia?

O riso dele morreu.

A expressão mudou completamente.

E naquele momento, eu percebi que o pior ainda estava por vir — porque agora ele sabia que eu não estava brincando.

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