Narrado por Noah Mancini
O dia começou como qualquer outro.
Agenda lotada. Reuniões em três unidades diferentes. Uma videoconferência com investidores de Dubai. E um almoço com o meu pai para discutir o contrato do maldito casamento arranjado que ele insiste em chamar de “alinhamento estratégico”.
Mas nada — absolutamente nada — me preparou para o que aconteceria naquela sala de reunião.
A porta se abriu e o ar pareceu mudar. Primeiro achei que fosse cansaço. Jet lag. Pressão. Mas então… eu vi.
Ela.
Bianca.
E tudo parou.
Meus olhos foram direto para ela. O cabelo estava mais claro, o rosto um pouco mais maduro, mas ainda tão linda quanto na última vez que a vi… naquela cama. Naquela noite que eu jurei esquecer. Que tentei enterrar debaixo de mil outras prioridades.
Mas o detalhe que me destruiu foi a barriga.
Arredondada. Visível. Viva.
Ela estava grávida.
Minha mente congelou. As palavras do diretor à minha direita viraram ruído. O relatório nas mãos da assistente? Invisível. Eu só conseguia olhar para ela.
Bianca.
Com o mesmo olhar firme. Com a mesma boca que me provocou sem dizer uma única palavra.
Mas agora… havia algo a mais.
Ela desviou os olhos, tentando manter a postura. Mas eu percebi o tremor nas mãos. O aperto nos lábios. E soube, naquele instante, que aquilo não era coincidência. Que aquela criança…
Poderia ser minha.
Não consegui acompanhar o restante da reunião. Os gráficos, os números, os relatórios jurídicos… nada fazia sentido. Eu apenas fingia. A cada segundo, minha mente repetia:
Ela está grávida. E eu fiz sexo com ela sem proteção.
Assim que a última frase do jurídico foi dita, bati a palma da mão sobre a mesa.
— A reunião está encerrada.
As pessoas se entreolharam. Nenhuma despedida. Apenas me levantei, abri a porta e saí. Meu assistente veio atrás de mim com uma prancheta nas mãos.
— Senhor Mancini, temos a videoconferência com os diretores do Oriente Médio em dez minutos, e depois...
— Cancele tudo. — interrompi, sem parar de andar.
— Cancelar? Mas, senhor, hoje é o fechamento do contrato com...
— Eu disse tudo, Daniel. Remarque. Invente uma justificativa. Não me importa. Apenas encontre a funcionária do setor jurídico. Bianca.
Ele piscou, confuso.
— Bianca… a grávida?
Meu olhar foi suficiente. Ele desapareceu sem dizer mais nada.
Entrei na minha sala, fechei a porta e comecei a andar de um lado para o outro, inquieto. Meus pensamentos batiam uns nos outros como espadas em guerra. Não podia ser. Não agora. Não dessa forma.
Minutos depois, a porta se abriu.
Ela entrou.
De salto. Postura impecável. A barriga evidente sob o vestido escuro. E os olhos… frios. Claramente contrariada por estar ali.
Fechei a porta atrás dela.
— Você está grávida. — foi a única coisa que consegui dizer.
— Parabéns pela dedução. — ela respondeu, cruzando os braços.
A resposta cortante. O tom direto. Ela estava furiosa. E ainda assim… linda.
— De quem é essa criança, Bianca?
Ela arqueou a sobrancelha.
— Está mesmo me perguntando isso?
— Eu preciso saber. — murmurei, sentindo o peito apertar.
— Então permita-me refrescar sua memória. — ela se aproximou. — Lembra daquela noite em que fez sexo comigo sem preservativo? Pois é. A criança é sua.
As palavras me atingiram como uma lâmina. Dei um passo para trás, atordoado. Me sentei na cadeira atrás da mesa, sentindo o peso da revelação me esmagar.
— Isso é impossível. — murmurei, mais para mim mesmo do que para ela.
Ela cruzou os braços com mais força.
— Impossível? Naturalmente. Porque eu sou o tipo de mulher que transa desprotegida com qualquer um, não é? Você acredita mesmo que eu teria relações com outro homem sem proteção depois do que vivi naquela noite?
— Você não tomava anticoncepcional?
— Tomava. Mas sei exatamente quando minha vida virou do avesso. Foi no momento em que você me deixou naquela cama como se eu não significasse absolutamente nada e desapareceu.
Fiquei em silêncio. Quis dizer que eu havia sido chamado às pressas, que precisei voltar para resolver problemas com a minha família e que… não soube lidar. Mas seria covarde dizer isso agora. Principalmente porque havia uma verdade ainda mais devastadora.
— Eu sou noivo.
O silêncio que se seguiu foi absoluto.
Ela arregalou os olhos.
— Noivo?
Assenti.
— É um acordo familiar. Uma aliança entre empresas. Um casamento por conveniência.
— E, mesmo assim… você transou comigo.
Ela disse com a voz vacilante. Decepção. Raiva. Dor. Tudo nos olhos dela.
— Bianca, eu...
— Não. Por favor. Não diga mais nada. — ela interrompeu. — Você me usou. Sabia que eu estava vulnerável. Sabia que aquilo poderia significar algo. E mesmo assim, fez o que quis. Sumiu. E agora aparece… noivo?
Ela respirou fundo. Depois caminhou até a porta.
— Não se preocupe. Eu não quero nada de você. Não quero seu nome, nem seu dinheiro, nem a sua presença.
— Bianca, espere…
— Fique longe de mim, senhor Mancini. Assim como fez da primeira vez.
E então ela saiu. Rápida. Sem olhar para trás.
Fiquei ali. Sentado. Paralisado.
Um silêncio ensurdecedor tomou conta da sala.
E a única coisa que ecoava dentro de mim era:
Aquela mulher está carregando meu filho.
E eu... posso ter perdido os dois.