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Capítulo 5 — Eu Nunca Esqueci Aquela Noite

Narrado por Noah Mancini

O dia começou como qualquer outro.

Agenda lotada. Reuniões em três unidades diferentes. Uma videoconferência com investidores de Dubai. E um almoço com o meu pai para discutir o contrato do maldito casamento arranjado que ele insiste em chamar de “alinhamento estratégico”.

Mas nada — absolutamente nada — me preparou para o que aconteceria naquela sala de reunião.

A porta se abriu e o ar pareceu mudar. Primeiro achei que fosse cansaço. Jet lag. Pressão. Mas então… eu vi.

Ela.

Bianca.

E tudo parou.

Meus olhos foram direto para ela. O cabelo estava mais claro, o rosto um pouco mais maduro, mas ainda tão linda quanto na última vez que a vi… naquela cama. Naquela noite que eu jurei esquecer. Que tentei enterrar debaixo de mil outras prioridades.

Mas o detalhe que me destruiu foi a barriga.

Arredondada. Visível. Viva.

Ela estava grávida.

Minha mente congelou. As palavras do diretor à minha direita viraram ruído. O relatório nas mãos da assistente? Invisível. Eu só conseguia olhar para ela.

Bianca.

Com o mesmo olhar firme. Com a mesma boca que me provocou sem dizer uma única palavra.

Mas agora… havia algo a mais.

Ela desviou os olhos, tentando manter a postura. Mas eu percebi o tremor nas mãos. O aperto nos lábios. E soube, naquele instante, que aquilo não era coincidência. Que aquela criança…

Poderia ser minha.

Não consegui acompanhar o restante da reunião. Os gráficos, os números, os relatórios jurídicos… nada fazia sentido. Eu apenas fingia. A cada segundo, minha mente repetia:

Ela está grávida. E eu fiz sexo com ela sem proteção.

Assim que a última frase do jurídico foi dita, bati a palma da mão sobre a mesa.

— A reunião está encerrada.

As pessoas se entreolharam. Nenhuma despedida. Apenas me levantei, abri a porta e saí. Meu assistente veio atrás de mim com uma prancheta nas mãos.

— Senhor Mancini, temos a videoconferência com os diretores do Oriente Médio em dez minutos, e depois...

— Cancele tudo. — interrompi, sem parar de andar.

— Cancelar? Mas, senhor, hoje é o fechamento do contrato com...

— Eu disse tudo, Daniel. Remarque. Invente uma justificativa. Não me importa. Apenas encontre a funcionária do setor jurídico. Bianca.

Ele piscou, confuso.

— Bianca… a grávida?

Meu olhar foi suficiente. Ele desapareceu sem dizer mais nada.

Entrei na minha sala, fechei a porta e comecei a andar de um lado para o outro, inquieto. Meus pensamentos batiam uns nos outros como espadas em guerra. Não podia ser. Não agora. Não dessa forma.

Minutos depois, a porta se abriu.

Ela entrou.

De salto. Postura impecável. A barriga evidente sob o vestido escuro. E os olhos… frios. Claramente contrariada por estar ali.

Fechei a porta atrás dela.

— Você está grávida. — foi a única coisa que consegui dizer.

— Parabéns pela dedução. — ela respondeu, cruzando os braços.

A resposta cortante. O tom direto. Ela estava furiosa. E ainda assim… linda.

— De quem é essa criança, Bianca?

Ela arqueou a sobrancelha.

— Está mesmo me perguntando isso?

— Eu preciso saber. — murmurei, sentindo o peito apertar.

— Então permita-me refrescar sua memória. — ela se aproximou. — Lembra daquela noite em que fez sexo comigo sem preservativo? Pois é. A criança é sua.

As palavras me atingiram como uma lâmina. Dei um passo para trás, atordoado. Me sentei na cadeira atrás da mesa, sentindo o peso da revelação me esmagar.

— Isso é impossível. — murmurei, mais para mim mesmo do que para ela.

Ela cruzou os braços com mais força.

— Impossível? Naturalmente. Porque eu sou o tipo de mulher que transa desprotegida com qualquer um, não é? Você acredita mesmo que eu teria relações com outro homem sem proteção depois do que vivi naquela noite?

— Você não tomava anticoncepcional?

— Tomava. Mas sei exatamente quando minha vida virou do avesso. Foi no momento em que você me deixou naquela cama como se eu não significasse absolutamente nada e desapareceu.

Fiquei em silêncio. Quis dizer que eu havia sido chamado às pressas, que precisei voltar para resolver problemas com a minha família e que… não soube lidar. Mas seria covarde dizer isso agora. Principalmente porque havia uma verdade ainda mais devastadora.

— Eu sou noivo.

O silêncio que se seguiu foi absoluto.

Ela arregalou os olhos.

— Noivo?

Assenti.

— É um acordo familiar. Uma aliança entre empresas. Um casamento por conveniência.

— E, mesmo assim… você transou comigo.

Ela disse com a voz vacilante. Decepção. Raiva. Dor. Tudo nos olhos dela.

— Bianca, eu...

— Não. Por favor. Não diga mais nada. — ela interrompeu. — Você me usou. Sabia que eu estava vulnerável. Sabia que aquilo poderia significar algo. E mesmo assim, fez o que quis. Sumiu. E agora aparece… noivo?

Ela respirou fundo. Depois caminhou até a porta.

— Não se preocupe. Eu não quero nada de você. Não quero seu nome, nem seu dinheiro, nem a sua presença.

— Bianca, espere…

— Fique longe de mim, senhor Mancini. Assim como fez da primeira vez.

E então ela saiu. Rápida. Sem olhar para trás.

Fiquei ali. Sentado. Paralisado.

Um silêncio ensurdecedor tomou conta da sala.

E a única coisa que ecoava dentro de mim era:

Aquela mulher está carregando meu filho.

E eu... posso ter perdido os dois.

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