Narrado por Bianca
Acordei com o corpo latejando e a cabeça pesada. A luz da manhã entrava pelas frestas da janela com uma suavidade cruel, como se o mundo lá fora seguisse calmo — enquanto dentro de mim tudo sangrava.
A enfermeira entrou no quarto como sempre fazia, mas dessa vez não perguntou como eu estava. Apenas checou os aparelhos, ajeitou a coberta, e saiu sem nem me olhar direito. Era sutil. Mas eu conhecia o silêncio que precede o golpe.
Sentei devagar. As costelas doíam. O ventre ainda inchado parecia uma lembrança viva de tudo o que passei. Me levantei mesmo assim. Precisei apoiar na parede para não cair.
Fui até o banheiro e lavei o rosto, tentando me reconhecer no espelho. Olheiras. Lábios rachados. Cabelos desgrenhados. Mas o que mais me assustava… era o olhar. Firme. Feroz. Cheio de medo e ódio ao mesmo tempo.
Eu sabia. Antes mesmo de qualquer confirmação, eu sabia.
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