Apolo
O desespero tomou conta de mim no instante em que Tobias informou o desaparecimento de Isabella. O medo de perdê-la — a coisa mais preciosa da minha vida — era sufocante. E, acima de tudo, o peso da promessa que fiz a Max, antes de ele e Mason partirem, martelava minha consciência como um lembrete constante do que estava em jogo.
Minha mente, no entanto, não me permitia descansar. Olhava para Isabella a cada dois minutos, como se a visão dela pudesse apaziguar minha angústia. Ela estava aninhada no colo de Angel, que passava os dedos delicadamente por seus cabelos negros enquanto cantarolava uma melodia suave. Era a mesma canção que costumava embalar Isabella quando ela ainda era um bebê.
A lembrança surgiu vívida, como um reflexo impossível de ignorar.
Angel e Isabella estavam em casa havia poucos dias, e Angel dedicava suas noites inteiras à pequena, sem jamais demonstrar cansaço ou queixa. Naquela noite específica, o choro de Isabella me guiou até o quarto. Empurrei a porta com cuidado, e a cena diante de mim ficou gravada para sempre em minha memória.
Angel estava ali, radiante e serena, como uma visão celestial. Sua voz suave preenchia o ambiente enquanto ela embalava Isabella nos braços. O perfume de jasmim — tão característico dela — parecia envolver todo o quarto, criando um contraste perfeito com a noite silenciosa. Seus cabelos dourados caíam em ondas soltas, e seus olhos verdes brilhavam, mesmo sob a luz fraca.
Aquele momento me prendeu, como uma âncora lançada no fundo do meu passado. Dez anos antes, nossos caminhos haviam se cruzado pela primeira vez, e agora, todas as peças daquela história pareciam convergir para aqui e agora, como se o destino nunca tivesse me dado outra escolha.
A lembrança trouxe uma onda de emoções difíceis de ignorar. Eu não podia evitar me perguntar como tudo começou...
Dez anos atrás...
Ravena
A noite estava sem estrelas, e a escuridão nos envolvia como um manto pesado. Os passos apressados ecoavam pela floresta, abafando o choro da minha filha, Isabella, recém-nascida nos braços de Mason. O som da nossa fuga parecia uma ameaça constante. Cada passo mais perto da liberdade, e ao mesmo tempo, mais perto do perigo. Eu podia sentir a presença de meu pai, o Rei Lycan Alexander, mesmo à distância. As palavras dele ainda ressoavam na minha mente, cortantes, como lâminas afiadas:
— Se você não rejeitar esse lobo e der um fim a essa criança, eu mesmo o farei!
Mesmo com Mason ao meu lado, tentando me acalmar com palavras doces, o medo era incontrolável. A dor do parto ainda me consumia, mas era a dor da perda, a angústia de estar fugindo, que realmente me destruía. A cada segundo, me perguntava se tomaríamos a decisão certa.
Dandara, minha amiga de infância e fiel companheira, nos seguia de perto. Ela não precisava falar, sua presença já dizia tudo. Sabíamos que a qualquer momento seríamos alcançados.
— Eles estão chegando, Rav — Dandara falou, o tom grave de sua voz era um alerta. — Precisamos partir agora, antes que eles nos encontrem.
Eu a olhei, e com um simples pensamento, nos conectamos. Ela sabia o que fazer.
— Dan, faça o que for necessário. Vamos cumprir nosso destino.
Ela assentiu, mas havia algo em seu olhar que me dizia que não seria fácil.
— Se não for por mim, que seja por Isabella. Você não pode voltar.
Não havia tempo para mais palavras. Os uivos se aproximavam, cortando a noite como um presságio de que a perseguição estava perto demais.
— Vamos agora — Mason falou com firmeza, pegando minha mão com força. Eu sabia que ele nunca aceitaria me deixar para trás, não importava o que estivesse em jogo. Eu não podia contar a ele sobre meu plano, sobre o sacrifício que eu estava disposta a fazer para salvar nossa filha.
— Não, Mason. Acredite em mim, você e Dandara vão à frente. Eu preciso de um momento para me recuperar.
— “NÃO!” Ele rosnou, o som grave de sua voz ecoando no silêncio da noite. — Você acha que eu não sei o que você está tramando? Vamos sair todos agora, ou enfrentamos seu pai juntos!
Os olhos dele estavam tão determinados que não me restou escolha. O plano que eu havia criado para salvar Isabella estava prestes a ser abandonado, mas eu não tinha mais forças para lutar contra a decisão de Mason. A dor que sentia era mais do que física, era a dor de ver o amor da minha vida disposto a arriscar tudo para me proteger.
Com o coração apertado, me levantei, e com a ajuda de Dandara, deixamos o abrigo seguro do nosso lar para seguir em direção ao desconhecido.
Mason
Eu mal podia acreditar no que estava acontecendo. Ravena, minha companheira, minha alma gêmea, achava que eu a deixaria para trás. Ela não sabia o quanto eu estava disposto a fazer para protegê-la, para proteger nossa filha.— Por favor, Ravena, fale comigo — eu a implorei, o desespero tomando conta de mim. Mas ela parecia distante, como se estivesse presa em um turbilhão de pensamentos.
— Nós apagamos nossos rastros, ocultamos nossos cheiros — disse Dandara, tentando acalmar o ambiente — Agora, temos algumas horas para descansar aqui, na gruta. Estaremos a salvo por enquanto. Precisamos ir amanhã cedo.
Mas não importava onde estivéssemos, eu só queria estar com Ravena. Olhei para ela, seus olhos cheios de dor e medo, e sabia que ela não tinha noção do quanto eu a amava. Como ela poderia pensar que eu a abandonaria?
— Eu não posso perder você, Ravena — disse, com a voz embargada. — Se for para enfrentar seu pai, que seja junto. Eu lutarei ao seu lado.
Ela me olhou, o medo agora misturado com algo mais — uma entrega silenciosa.
— Você precisa entender, Mason. Eu não tenho escolha. Se meu pai nos encontrar… — Ela parou, a dor tomando conta de sua voz. — Eu não posso permitir que ele toque em você ou em Isabella. Prefiro sofrer nas mãos dele.
Não consegui mais falar. Não havia palavras suficientes para expressar o que sentia. Eu a beijei, com toda a força do meu amor, e ela me beijou de volta, com a mesma intensidade. Mas algo estava errado. A sensação em meu corpo começou a desaparecer, e antes que eu soubesse, tudo ao meu redor se desfez em escuridão.