Capítulo cinco - Desastre eminente

Breaking every chain that you put on me

You thought I wouldn’t change but

I grew on yah

'Cause I will never be what you wanted

This fire, (this fire), this fire

Jonathan Roy - Keeping Me Alive

Se você pudesse deter um desastre, você deteria? Ou deixaria acontecer?

— Doutor Lucas, Doutor Lucas! — Lucas voltou a si com Caroline chamando por ele. Ouviu o barulho do monitor cardíaco acusando a morte da paciente.

Ele olhou ao redor. Sua cabeça parecia que explodiria. Olhou para as suas mãos cheias de sangue. A direita tremia. Ele soltou o bisturi e se afastou da mesa de cirurgia, não entendia como fora parar ali, estava na casa dos Alazar com... com Miguel, então depois tudo se apagou.

— Doutor Lucas — ela o chamou mais uma vez. — Declare a morte da paciente. — Seus olhos foram para o relógio na parede.

— Hora do Óbito, 10h:30min.

Ele girou nos calcanhares e saiu da sala de cirurgia retirando as suas luvas e a roupa de proteção, colocou tudo dentro de um cesto de reciclagem, com risco biológico, e foi para sua sala.

Durante todo o caminho, ele tentava puxar em sua mente o que aconteceu, mas era um grande borrão. A última coisa que se lembrava era de dar um abraço fingido em Miguel e ir em direção à porta, depois nada.

— Eu quero saber o que aconteceu lá dentro, Lucas — Caroline exigiu em saber.

— O paciente morreu, foi isso que aconteceu — disse, irritado.

— Sim, eu sei. Por Deus, Lucas, ela só ia fazer uma laparotomia exploratória. Como vamos explicar a morte dela? Ela nem precisava entrar no centro cirúrgico, por que insistiu tanto?

Lucas não sabia como responder aquela pergunta, porém, ele precisava que Caroline ficasse ao seu lado, não podia deixar que ela percebesse o quão confuso e desorientado ele estava.

— Porque eu precisava ver o que ela tinha, é isso que fazemos, ajudamos. Identificamos o problema e corrigimos.

— Você está estranho, está assim desde que chegou aqui ontem.

— Sim, eu sei, me desculpe, mas é que estou chocado com uma coisa que me aconteceu.

— Não pode deixar essas coisas atrapalharem você aqui. Quando cometemos erros, pessoas morrem.

— Eu sei, Caroline, mas que inferno! Eu sei...

— O que aconteceu para te deixar assim? — ela perguntou, sentando-se em sua mesa e afagando os cabelos do rapaz. Sua voz era doce e suave.

— Miguel...

— Miguel? Miguel da Malú? — perguntou, confusa. Afinal, ele estava morto.

— Sim, ele está vivo.

— Como assim, vivo? — perguntou, surpresa.

— Ele ficou esses anos todos em uma ilha deserta. — Lucas se levantou e se sentou no sofá de sua sala. — Venha cá, Caroline, eu preciso de você.

A moça sorriu. Finalmente ele estava sendo carinhoso e amoroso com ela, mas o que ela não sabia era que toda essa demonstração de carinho tinha um único propósito: deixá-la submissa a ele.

12 hora antes...

Lucas saiu da casa de Miguel sem que Dora abrisse a porta para ele. Seus olhos estavam perdidos e tinha vontade de gritar até que toda a frustação saísse do seu corpo. Fechou as mãos em punho e olhou para o céu.

Aquilo só podia ser uma piada!

Desceu as escadas da mansão correndo, abriu a porta do carro que alguém devia ter fechado, sentou-se atrás do volante e gritou com toda a sua força, deu alguns socos no volante, até que suas mãos ficassem vermelhas. Quando o acesso de fúria passou, Lucas arrumou a gravata, ajeitou-se no banco e suspirou, então ligou o carro e partiu.

Com os olhos perdidos ele dirigia sem cuidado, cortando carros e ultrapassando sinais vermelhos, xingando alguns motoristas, até que chegou ao hospital. Parou torto com o carro na vaga e entrou dando ordens a todos.

— Naomi, me traz as fichas da emergência — disse para a chefe das enfermeiras.

— E por acaso sou a sua assistente? — Ela encarou Lucas e voltou a escrever em um prontuário.

— Eu não estou pedindo, estou mandando. Sou o seu superior.

Ela o olhou, levantou as sobrancelhas e pegou quatro fichas que estavam na bancada à sua frente, depois virou as costas, deixando-o sozinho. Ela detestava Lucas, achava-o uma pessoa ruim e um péssimo médico.

Lucas pegou os prontuários e os leu, separou dois dos quatro e foi para a sala de emergência do hospital. Tudo estava estranhamente calmo por ali. Parou uma das enfermeiras e pediu informações sobre os pacientes.

— Leonardo Dantas já foi embora, era apenas uma simples enxaqueca. Já Maria de Jesus está no trauma um ainda e reclama de fortes dores abominais, náuseas e teve sangramento pelo nariz.

— Exames?

— Sim, fizemos uma endoscopia, um ultrassom e agora ela vai para a ressonância, estamos esperando resultados.

— Qual médico a acompanha? — Lucas perguntou olhando para a enfermeira à sua frente.

— Dr. Pedro — ela suspirou. — Leia a ficha doutor, está tudo aí.

Ao dizer isso, saiu deixando as pastas em cima de um balcão. Lucas se sentiu irritado.

Qual era as das enfermeiras daquele lugar? Será que só sabiam dar patadas?

Ele pegou a ficha de Maria José de Jesus e se encaminhou para o trauma um. Ele achava que aquela mulher tinha algo grave, que seria preciso cirurgia, e ele faria isso, precisava fazer.

— Boa tarde, Senhora Maria, eu sou o é Dr. Lucas Alcântara Reis, sou chefe da cirurgia geral e vim ver como a senhora está se sentindo.

— Mal, meu querido, meu estômago doí. Vou precisar de cirurgia?

— Não sabemos ainda, preciso examinar a Senhora antes.

Lucas fez alguns exames rápidos na paciente, anotou algo no prontuário, ficou observando a monitoração cardíaca, que estava lenta e ritmada. A velha senhora olhava para Lucas com ternura, esperava que aquele médico a ajudasse a descobrir o que lhe causava as dores.

Tudo durou uma fração de segundo. Os batimentos calmos e lentos aumentaram e a velha senhora começou a ter uma parada cardíaca, Lucas acionou o botão de emergência do quarto e logo tinha algumas enfermeiras para auxiliar.

— Chamem a Caroline e preparem uma sala de cirurgia! — berrou para as enfermeiras, que ficaram estáticas no lugar, sem entender porque ele precisava ir a uma sala de cirurgia. — Andem logo, suas incompetentes!

Mais do que depressa, cada uma foi fazer sua função e em menos de cinco minutos, estavam na sala de cirurgia.

— Lucas, o que vai fazer?! — Caroline entrou na sala de preparação colocando a máscara cirúrgica.

— Preciso abri-la.

— Não, os exames dela...

— Eu não quero saber! Se prepare, irá me ajudar! — bradou, furioso.

— Mas...

— Sem mais. Agora!

Mesmo contra, Caroline se preparou, lavou bem as mãos com o sabonete indicado e entrou na sala de cirurgia. As enfermeiras a ajudaram a se vestir adequadamente e a colocar luvas. Lucas já estava em seu posto, segurava o bisturi, prestes a cortar a carne da velha Senhora.

Se você pudesse deter um desastre, você o faria? Ou deixaria acontecer?

Se estivesse em suas mãos salvar uma vida ou deixá-la morrer, o que faria?

Na vida escolhemos os caminhos que seguiremos, sejam eles bons ou maus, cada ação gera uma reação, e era isso que Lucas e Caroline descobririam, que não importava quais eram as suas intenções, e sim os seus resultados...

— Pronta? — ele perguntou a Caroline.

— Sim, pronta.

Então o primeiro corte foi feito. Uma incisão no abdômen e Lucas e Caroline começaram a verificar o que a paciente tinha, mas para a surpresa de Lucas, nada foi encontrado.

— Lucas, é melhor fechá-la, ou vamos perdê-la.

— Não! Eu vou descobrir o que ele tem, eu vou... eu tenho... isso não é comum!

— Lucas?!

— Se afaste! — gritou.

— Mas eu...

— Eu mandei se afastar! Eu tenho que salvá-lo, eu preciso, é o meu melhor amigo! — Ele olhou para Caroline, que deu um passo para trás com as mãos levantadas. — Lâmina dez — disse para a enfermeira à sua direita.

A enfermeira olhou para Caroline, que fez sinal que sim. Lucas abriu o peito da senhora, pegou o afastador de costelas, quebrou-as e abriu. O coração batia lento e devagar. Ele olhou cada cantinho da cavidade, todos os vasos e veias, e não achou nada de estranho. Os monitores começaram apitar e uma outra parada cardíaca aconteceu, levando o coração a fibrilar.

— Me dê as pás e carregue em 10 — Lucas pegou as pás de uma das enfermeiras e chocou o coração. — 15 ml de heparina. De novo, coloque em 15 agora.

O monitor apitou e a linha reta apareceu, Lucas olhou com desespero e começou a massagear o coração com as próprias mãos. Dez minutos depois ele tentava ressuscitar a paciente em sua frente, pegou o bisturi e o levantou, foi quando ouviu ao longe alguém chamar por ele.

— Doutor Lucas, Doutor Lucas! — Lucas voltou a si com Caroline chamando por ele e ouviu o barulho do monitor cardíaco acusando a morte da paciente.

Se você pudesse deter um desastre, deteria?

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