Capítulo 3

POV Eva Monteiro

Chegou a hora da cerimônia. Eu lutei contra minha vontade de colocar minha dignidade na mala e levar embora comigo, mas eu queria encarar de frente. Olhar nos olhos dele e ver se ele teria coragem de olhar pra mim como quem diz que ama. Se iria ter coragem de fazer os votos e fingir afeto na frente de tantos convidados.

Tudo estava muito lindo. Demais até.

Flores brancas, trilha instrumental tocando baixinho, convidados emocionados.

Tudo tão falso, tão bem decorado, tão hipócrita… que chegava a me dar enjoo.

Meu sorriso? Pintado no rosto como o de uma boneca cara e quebrada. 

O vestido ainda era o mesmo. Mas agora ele não me vestia. Me sufocava.

Cada passo até o altar era um lembrete: você viu. Você ouviu. Você gravou.

E ainda assim, estava ali.

Mas por pouco tempo.

Gustavo me esperava de pé, terno alinhado, sorriso idiota nos lábios.

Ele realmente achava que ia se safar. Que eu nunca descobriria.

Que eu era só uma noiva bonita e conformada. 

Idiota! Ele é tão burro!

Do lado dele, Constantine, o melhor amigo. O homem designado para soltar o vídeo dos “momentos do casal” antes dos votos.

Só que agora, graças a uma pequena troca de celular feita mais cedo com ajuda do meu pai, o que ele ia soltar era a verdade nua e crua em tela cheia.

Faltavam minutos.

Meu coração batia no ritmo da trilha sonora.

— Eva Monteiro e Gustavo Lacerda unirão suas vidas hoje em uma cerimônia de amor e confiança… — dizia o cerimonialista, com a voz melosa.

Confiança… Quase ri.

Observei Gustavo com nojo. O sorriso dele era um convite pra uma boa humilhação pública.

Ele coçava o queixo nervoso, aquele tique idiota que sempre aparecia quando mentia.

E agora eu percebo, percebo as tantas vezes que deixei passar. Nos alertas ignorados.

Nas migalhas de afeto.

Nos momento em que implorei atenção enquanto sorria para a tela do celular.

Eu achei que estava ficando louca, vendo coisas… Pelo menos foi isso que a Sabrina reforçava tanto na minha cabeça. Como fui ingênua quanto a ela.

Minha cabeça zumbia, mas eu sabia o que estava por vir. Meu plano estava cronometrado.

Posicionada na saída do salão, estacionada discretamente: a moto que eu mesma dei a Gustavo no aniversário dele, depois de uma promoção que ralei muito pra conseguir.

Ironia é pouco.

“Eu fui burra”

pensei, sem dó.

Burra por valorizar um homem que se envergonhava de mim nas rodas de amigos, que fazia piada com meu curso, que me dizia pra não sonhar tão alto.

Burra por achar que amor era insistência.

E agora, eu ia ensinar uma nova palavra pra ele:

Consequência.

As luzes diminuíram.

Os convidados sorriram, achando que assistiriam a um vídeo com fotos românticas, beijos no pôr do sol, aqueles clichês de casal apaixonado.

O cerimonialista anunciou:

— Agora, um vídeo preparado com muito carinho pelo melhor amigo do noivo…

Constantine apertou o play.

E a verdade veio à tona.

Sabrina. Gemendo. Gustavo. Tocando, rindo, sussurrando:

— “A idiota nem desconfia…”

O salão explodiu em reações.

Gritos. Murmúrios indignados.

Convidados levantando.

A mãe da Gustavo desmaiando.

A filmagem seguiu com detalhes. Claros. Indiscutíveis.

E Gustavo? Tentou correr até Constantine, mas era tarde.

— Isso é um mal entendido! — ele gritou, desesperado. — É tudo culpa da Sabrina! Ela me seduziu!

A plateia se virou. Todos encaravam ele como o rato que era.

— Você é um covarde — disse uma tia dele.

Gustavo correu até mim no altar.

— Eva, amor, você sabe que eu te amo. Isso foi um erro, uma fraqueza… A culpa é dela! Ela se jogou pra cima de mim! Você sabe como a Sabrina é!

Minha garganta ardia. Meus olhos queimavam.

Mas eu não ia dar o show que ele esperava.

Cheguei mais perto. Olhei bem nos olhos dele.

— Você tá certo numa coisa, Gustavo…

— A Sabrina sempre foi ótima em catar o que não presta.

E então…

O tapa estalou no salão.

O rosto dele virou pro lado como se tivesse levado um soco do destino.

— E vocês se merecem.

As vozes das pessoas que testemunharam ficaram mais altas.

“Isso mesmo, garota!”

“O inferno não tem fúria como uma mulher traída!”

Eu já imaginava que iriam gravar, tirar fotos, postar. A Sabrina ficaria famosa como ela queria o Gustavo ia perder a “reputação” que ele tanto se gabava. E eu.. Eu estava pronta para recomeçar. 

Meu pai apareceu do lado. Rosto sério. Orgulhoso. Me estendeu o braço.

— Vamos embora, filha.

E fomos.

No estacionamento, tirei os saltos e montei na moto. Nunca transferida. Ainda no meu nome. Estava feliz por nunca ter tomado essa atitude.

Ele correu atrás, gritando:

— Eva! Você não pode pegar essa moto! É minha!

Liguei o motor. Olhei pra ele uma última vez por cima do ombro. E acelerei.

Deixei o noivo, os olhares e a vergonha pra trás.

E fui embora.

Com força.

Com coragem.

E com a certeza de que nenhum homem presta!

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