— Isso tudo é culpa sua! Vamos ver como você gosta de provar prata de verdade!!
No segundo seguinte, a lâmina fria de prata cortou um talho profundo no meu braço.
Gritei, um som cru de pura agonia.
O veneno da prata começou a queimar através das minhas veias, e mal conseguia respirar.
Tentei manter a calma, segurar minha barriga com uma mão e fazer pressão no ferimento com a outra.
Mas a prata anulou completamente meus poderes de cura.
O sangramento não parava.
Me encolhi numa bola, com medo de me mover.
Fiquei indefesa no chão frio, lágrimas silenciosas escorrendo pela sujeira no meu rosto.
Minha barriga parecia estar sendo dilacerada por mil cobras venenosas.
Estava desvanecendo, deitada ali enquanto o ferimento de prata no meu braço ficava preto, ainda vertendo sangue.
Perdi a consciência por um momento, e na névoa, quase conseguia sentir os dedos frios da Morte me chamando para mais perto.
Justo quando pensei que era o fim, Sophia reapareceu.
Quando ela viu o sangue na sua adaga, seu rosto ficou branco.
Ela começou a bater na jaula, mas eu não tinha força para responder.
Ela pareceu entrar em pânico, mexendo com a chave e destravando a porta.
Estava escuro no porão, e ela teve que agarrar meu cabelo e puxar minha cabeça para cima só para ver meu rosto.
De repente, ela bufou e bateu minha cabeça de volta contra o chão.
— Sua vadia patética. Minha adaga de prata deve ter te assustado até ficar estúpida.
— Por que você não está gritando agora? Vai, continue fingindo!
Seus olhos estavam cheios de nojo.
— Você só parou de gritar porque percebeu que Damien não ia te soltar. Você é egoísta. Só faz o que é melhor para você!
Ela brincou com a adaga de prata, sua expressão ficando sinistra.
Forcei minha cabeça para cima, um sentimento doentio de pavor se enrolando no meu estômago.
A prata pura da sua adaga estava ficando preta onde havia me tocado, corrompida pelo poder no sangue da minha loba.
Antes que eu pudesse sequer formar as palavras para explicar, Sophia explodiu, sua bota batendo violentamente na minha barriga.
— Elena! Você enlouqueceu?! Como ousa contaminar minha lâmina de prata com sua magia negra?! Ela vale mais que sua vida patética!
— Se você arruinou minha lâmina, vou fazer Damien romper o vínculo de companheiros!
— Você acha que pode ter seu filhote antes de Victoria? Nem sonhe! Apenas o filho de Victoria é digno da bênção da Deusa da Lua, destinado a ser o futuro Alfa da nossa alcateia! Sua vadia cruel!
Ela saiu pisando duro, mas não antes de espalhar mais pó de prata ao redor da jaula.
O veneno da prata fez meu corpo inteiro tremer incontrolavelmente.
Na névoa, podia jurar que ouvi meu filhote chorando.
Uma vozinha minúscula na escuridão da minha mente, chamando "Mamãe", me implorando para salvá-lo.
Desabei, soluçando.
Eu deveria encontrar meu bebê hoje, segurá-lo nos meus braços.
Estava tão perto.
Por que o destino era tão cruel comigo e com meu filho?
Soltei um rugido gutural.
O desespero perfurou meu coração.
As chances de resgate estavam quase extintas.
Acariciei minha barriga através da dor, conversando com meu bebê.
Rezei para que, se tivesse uma próxima vida, nascesse numa alcateia onde seu pai amasse sua mãe.
Então seria feliz.
Minha respiração ficou fraca, meu sangue se transformando em gelo nas veias.
De repente, a porta da jaula se abriu, e as luzes piscaram.
A visão de mim numa poça do meu sangue assustou o lobo que estava ali.
Usei meu último pouco de força para me arrastar para frente, sussurrando:
— Me... ajude.
A voz dele tremia de medo.
— Quem é você? O que fez para ser punida pelo Alfa assim?
Ele estava cauteloso.
— Eu sou... companheira de Damien. — Disse com voz rouca.
Com dedos escorregadios de sangue, lutei para puxar para baixo a gola do meu vestido, revelando a marca de companheiro no meu pescoço.
Estava tão borrada de sangue coagulado que era quase irreconhecível.
— Esta é a marca dele.
Ele reconheceu a marca de companheiro e se moveu para me ajudar, mas então hesitou, enviando uma ligação mental para Damien.
— Alfa Damien, estou no porão. Encontrei a Luna. Ela está coberta de sangue. Devo levá-la à clínica imediatamente?
A resposta de Damien estava carregada de confusão.
— Sangue? Você está enganado. Isso não é sangue. É a mancha imunda deixada pela magia proibida de Elena! Corrompeu o porão inteiro. Não é à toa que Sophia estava tão furiosa.
A voz dele endureceu.
— Não a leve à clínica. Ela está perfeitamente bem. Está apenas aprontando outro truque desesperado para ter seu filhote primeiro. Fique fora disso. Eu mesmo vou buscá-la.
O lobo tentou explicar, mas Damien cortou a ligação.
Ele me olhou com pena, então passou por mim para mover alguns suprimentos.
Justo quando pensei que ele ia me deixar, ele voltou.
Parecia estar lutando consigo mesmo.
— Você está grávida. — Disse, sua voz se firmando com determinação. — Não posso simplesmente te deixar morrer. Minha companheira está grávida. Não posso arriscar trazer uma maldição para meu filhote.
Ele me arrastou para fora da jaula de prata e me carregou em direção à enfermaria principal da alcateia.
Finalmente respirei aliviada.
Estava salva.
Mas quando chegamos à enfermaria, não havia ervas, nem equipamentos, nada que restasse para me ajudar no parto.
Damien, preocupado com Victoria, havia transferido todos os recursos para a clínica particular dela.
Minha situação era crítica.