Capítulo 8

(Renata Pellegrini)

Filippo não me responde, apenas dá partida no carro mais uma vez e volta para a estrada. Foco minha visão para a paisagem noturna além da janela, estou sem coragem de olhar em seus olhos, confesso que apenas o encarava para não parecer uma covarde, mas agora, estou com vergonha.

— O que achou de trabalhar lá na empresa? — ele quebra o silêncio.

— Achei interessante, sempre foi meu sonho trabalhar na maior empresa de tecnologia do mundo, e confesso, tirando a parte do vestiário do setor de faxina, todo o resto é um sonho de lugar — confesso.

— O que tem de errado com o vestiário do setor de faxina? — ele pergunta me olhando com o cenho franzido.

— Bem, é pequeno e parece fazer parte de outra empresa, em todos os lugares que estive hoje, lá é o único que cheira a mofo, é apertado, mal iluminado, as paredes estão descascadas e…

— Amanhã investigarei isso — me corta abruptamente e volta a encarar a rua.

Não digo mais nada, entrelaço meus dedos sobre meu colo, eu e minha boca grande. Bem, pela maneira que ele está agindo, nota-se que ele não tinha conhecimento disso em sua empresa, só espero não ter me encrencado com alguém grande lá dentro. Não quero me envolver em problemas.

Ele para o carro no sinal, não tem muitos carros na avenida, sinto seu olhar queimar minha pele novamente.

— Eu sou bem seletivo — fala com a voz rouca.

O que ele quer dizer com isso? Filippo continua me encarando de forma direta, sinto minha pele formigar, por que esse homem desperta tantas sensações estranhas em mim? Sem pensar direito, o encaro de volta, estes com certeza são os olhos mais intensos que já vi. Parece perfurar a minha pele.

— Renata? — ouço sua voz bem distante, é como se eu estivesse apagado, mas permanecesse de olhos abertos — Qual seu endereço?

— Ah, sim. Desculpe — fecho os olhos e balanço a cabeça para espantar os pensamentos de agora — East Village.

Durante todo o resto do percurso, eu não abri a boca para falar nem um “a”, apenas o direcionei com o dedo entre os quarteirões. Acho que ele percebeu que eu quase babei em seu carro, após aquela troca de olhares de segundos. Ah, que merda! Como eu pude vacilar assim? Que vergonha, senhor!

O que será que está passando na cabeça dele? Deve está rindo de mim, até parece que alguém do mundo dele olharia para alguém do meu mundo. E pior, eu não deveria sentir nada além de desprezo por ele, homens como ele existem ao montes pelo mundo, rico e babaca.

Mas por que ela me faz sentir tantas coisas estranhas? O que ele tem de tão diferente dos demais?

— Chegamos — ele avisa e desliga o carro.

— Obrigada — agradeço sem olhá-lo e saio do carro as pressas.

Estou com tanta vergonha, seguro firme minhas compras e vou para a entrada do prédio, não é muito alto, tem apenas dez apartamentos, cada andar é um apartamento, eu fico no quarto andar.

— Ele está com a senhora? — o porteiro questiona assim que piso dentro da portaria.

O olho com o cenho franzido, de quem ele está falando? Olho para trás e Filippo está apenas alguns passos atrás de mim. O que ele está fazendo aqui?

— Por que está me seguindo? — pergunto o olhando desconfiada.

— Estou indo receber meu pagamento, ragazza — responde.

Arregalo meus olhos, isso só pode ser uma brincadeira, o que ele pensa que eu sou? Acha que só por que me deu um emprego, uma carona e pagou minhas pequenas compras, ele acredita mesmo que com isso irá me fazer algum tipo de favor “sujo” a ele? Ah ele está muito enganado! O máximo que ele vai conseguir é um belo chute no saco.

— O que acha que vai ter de pagamento? — pergunto com uma sobrancelha erguida.

Ele sorri de lado e aponta para minha sacola de compras, olho para ele de novo e ergo minha sacola. Não entendi o que ele quis dizer.

— Eu quero um pouco do jantar. Não pode me negar isso — fala convencido.

Mordo meu lábio, e eu com meus pensamentos obscuros, mas jamais esperaria que ele apenas iria querer um pouco da macarronada, se bem que ele é italiano, e meu pai me disse que um dos pratos favoritos desse povo é a macarronada, e por de certa forma eu também ser uma italiana, amo esse prato.

Será mesmo uma boa ideia deixar ele subir comigo? Ficaremos apenas nos dois naquele apartamento, e se eu não conseguir me concentrar e acabar queimando? Para com isso Rê, meu pai sempre me disse para nunca ficar devendo favor a ninguém, e se ele quer um pouco de comida em troca por tudo o que fez por mim, não me custa nada dar, assim ficamos quites.

— Certo — suspiro me dando por vencida.

Seguimos para o elevador, por que qualquer espaço em que ele esteja junto a mim parece ficar pequeno demais? Tento me controlar para não ficar tremendo que nem uma vara verde. Abro a porta do meu apartamento e ligo a luz, tiro as sapatilhas e sinto meus dedos relaxar ao entrar em contato com o tapete felpudo. Finalmente vou poder curtir um pouquinho a minha casa nova.

Filippo também tira os sapatos, uau, que educado, eu pensei que ela ia entrar calçado.

— Mora aqui a quanto tempo? — pergunta olhando tudo ao redor.

— Bem, vai fazer dez horas daqui a cinco minutos — respondo sorrindo e sigo para a cozinha.

Deixo as coisas em cima da mesa e tento ao máximo esquecer da presença desse homem na minha cozinha, olhando atentamente cada passo que dou. Uma tarefa difícil, mas com muito esforço consegui fazer a refeição sem queimar e o cheio está de dar água na boca.

Coloco a travessa na mesa, infelizmente não tem nenhum suco na geladeira, apenas uma garrafa de água. Pego os pratos e talheres e arrumo-os sobre a mesa, primeiro o sirvo e depois me sirvo.

— O cheiro está bom — ele fala antes de experimentar — Sua mãe quem te ensinou?

— Foi o meu pai — respondo sorrindo.

— Seu pai é italiano?

— Era — respondo triste, enrolo o macarrão no garfo e levo até a boca.

Ele não fala nada, comemos em silêncio, é até legal ter mais alguém para dividir a mesa na hora da refeição. Estou a tanto tempo sozinha que tinha até me esquecido de como era a sensação. Observo por debaixo do cílios, ele come com muito elegância, mas não expressa nenhum tipo de reação, então não sei se ele está ou não gostando da comida.

— O que está fazendo? — questiono confusa.

Ele pega o meu prato vazio, junta com o dele e vai até a pia.

— Vou lavar os pratos — responde já de costas para mim.

Levanto as pressas e vou atrás dele, não posso deixar ele lavar os meus pratos, a visita não pode lavar os pratos, bem, ao menos não na primeira ida a casa da pessoa.

— Não precisa — tento tirar os pratos de sua mão — Deixa que eu lavo.

Ele ergue os braços me impedindo de tomar os pratos, nossas diferenças de altura é muito grande. Ele dá um passo quebrando nossa pequena distância, seu perfume amadeirado invade minhas narinas me pegando desprevinida, me seguro para não respirar mais fundo. Ele me olha nos olhos, ficamos nos encarando numa guerra silenciosa, guerra a qual eu não tenho nenhuma chance de vencer, seu olhar intenso me faz querer desviar os olhos, é como se ele conseguisse ver a minha alma, mas ao mesmo tempo me deixa hipnotizada e presa neles. Ele vai aproximando seu rosto do meu, a cada centímetro que ele chega mais perto, meu coração b**e mais forte. Nossos narizes ficam apenas alguns centímetros, mais uma vez os alertam piscam vermelho na minha mente, rapidamente me afasto e volto para perto da mesa, coço a garganta me sentindo desconfortável, ele apenas ri e se vira para a pia.

O que ele ia fazer? Meu coração está quase saindo por minha boca, nenhum homem nunca chegou tão perto assim de mim. Minhas mãos estão suando frio.

Ele ia realmente me dar um beijo?

Observo suas costas e elas são tão grandes, como será toca-la? Tento controlar minha respiração, este homem está testando a minha sanidade.

Preciso manter a calma, não é este tipo de homem que desejo para ser pai dos meus futuros filhos.

— Acabei — ele fala enxugando as mãos no pano e me tira dos meus devaneios — Muito obrigada pela refeição, ragazza.

— Não a de que — sorrio amarelo, quero que esse homem saia daqui, preciso ficar sozinha e me organizar mentalmente.

— Me leva até a porta? — pede.

— Ah sim, claro.

Vou na frente e abro a porta, ele calça os sapatos mais e vez e passa por mim, seu perfume fica. Meu corpo tensiona ao sentir seus lábios sobre minha bochecha direita e depois na esquerda. Meu coração veio parar na garganta.

— Até amanhã, Renata — se despede, se vira e sai.

Fecho a porta, ouvir meu nome sendo pronunciado com o sotaque italiano dele faz coisas estranhas se mexerem em minha barriga. Gostei de ouvi-lo falar meu nome.

Será que amanhã eu o verei? Hoje, depois de ser contratada, eu só o vi na hora de vim para casa.

Melhor tirar isso da cabeça, preciso dormir, isso sim. Amanhã só pertence a Deus.

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