Ela não presta!

O alarme do meu celular tocou pela terceira vez, estiquei o meu braço até a cabeceira ao lado da minha cama e desativei. Naquela manhã de verão, embora não estivesse tão quente como no Brasil, às 7 horas, a temperatura girava em torno de 20 graus.

Peguei os óculos e olhei a tela do meu blackberry. Tinha quatro meses que iniciei a residência no Hospital Saint-Mary em Lyon e, até aquele momento, Nicky não respondia às minhas mensagens ou retornava as minhas ligações.

Joguei o celular na cama e puxei o cobertor. Meu pau estava duro e latejava, isso acontecia sempre que eu sonhava com ela. Era impossível esquecer de como ela estava apertada e quente na primeira vez em que fizemos amor.

Levantei da cama e fui direto para o banheiro, não tive outra alternativa, me aliviei embaixo da água morna que caía sobre as minhas costas. Não conseguia parar de pensar naqueles bicos dos seios firmes que enrijeceram dentro da minha boca. Eu apertava e me tocava de cima para baixo. Ela era tão inexperiente quando me chupou pela primeira, mas aqueles lábios curvos e apertados me enlouqueciam. Minha mão estava mais ágil e minhas pernas tremeram. Emiti um gemido quando lembrei do sabor delicioso no meio das coxas dela. O meu corpo expeliu um líquido viscoso e transparente, busquei o ar e me acalme debaixo da água que caía no meu rosto.

Depois que tomei banho, fiz algumas flexões e treinei com halteres para tonificar os músculos do peitoral e do quadríceps. Nos últimos meses, eu ocupei a minha mente nos exercícios de musculação e na corrida, quatro vezes por semana.

Vesti a calça jeans azul e coloquei uma blusa de manga longa preta, ajeitei os fios dos meus cabelos com as mãos e atendi o blackberry que não parava de tocar.

— Oi! — Ajeitei os óculos e espremi os olhos. Algumas vezes a voz dela é irritante. — Que merda, Isabella! É a quinta vez que você precisa de carona para o trabalho essa semana, compra outro carro, porra! — Bufei.

Mordi um pedaço do sanduíche de pasta de amendoim e tomei um gole do suco. Percebi as intenções dela comigo, Isabella é bonitinha, mas eu não sinto nada por ela. Além disso, prometi a Nicole que esperaria.

— Ok! Eu te busco às 9 horas da manhã.

Coloquei o meu casaco e peguei a mochila, olhei o porta-retratos com a foto do meu casamento  há alguns meses, o sorriso dela ainda mexe comigo. 

"Será que ela está com raiva porque eu assinei os papéis do divórcio?"

 Balancei a cabeça em negação, Nicole sabia que essa era a única saída para que meus pais não a colocassem no olho da rua ao lado de Joana. Não tive outra escolha, Nicole estava no final do curso de administração que  minha avó financiava. Me apeguei à promessa que Nicky fez um dia antes da minha viagem para França. Em breve ela terminará o curso e virá morar comigo em Lyon.

Tranquei a porta do meu apartamento e segui direto para o estacionamento, desativei o alarme do meu automóvel esportivo na cor prata e me ajeitei no banco. Eu dirigia tranquilamente até o local onde Isabella costumava tomar o café, ela estava distraída ao telefone, então eu buzinei. Parei no sinal em frente ao Hard Rock Café. Esperei que ela entrasse no carro, em seguida fiz uma curva e dirigi pela 2 Quai Jules Courmont.

— Bom dia para você também, Alexander! — Ela me cumprimentou.

— Bom dia, Isabella! — A minha nuca pinicava sempre que ela colocava a mão na minha perna. Buzinei para o veículo preto que estava na frente. — Pare com isso, estou dirigindo! — engrossei a voz.

Nos últimos dias ela tentou me instigar enquanto eu conduzia o carro até o hospital onde fazíamos residência. Eu me esforçava para conter o desejo primitivo que me atormentava, faz mais de quatro meses que fiz amor com Nicky e não toquei em outra mulher, desde então.

Marcello sempre me perguntava se estava praticando o celibato. No primeiro mês que chegamos na França, ele conheceu uma francesa chamada Josephiné, parece que essa mulher com quem o Marcello está trepando é dominatrix e adora esse lance de sadomasoquismo. Uma vez ele trocou a roupa no vestiário do hospital e estava com as costas cheias de hematomas que pareciam ser de chicotadas. Cheguei a conclusão que o meu melhor amigo enlouqueceu.

A arquitetura das ruas e avenidas da França remetiam aos prédios e edifícios que haviam nas avenidas do Centro do Rio de Janeiro. Minha avó falava que a Avenida Rio Branco é uma cópia do modelo parisiense.

Em poucos minutos, estacionei o carro na vaga do hospital Saint-Mary. Tirei o cinto e sai do carro enquanto Isabella retocava a maquiagem no retrovisor.

— Porra, Isabela! Vou me atrasar!

— Calma, Alexander! Não precisa gritar. — ela retrucou.

Dei as costas e me apoiei no carro até que ela saiu. Acionei o alarme e segui a passos largos até o vestiário. Faltavam pouco mais de quinze minutos para o meu plantão, guardei a mochila e troquei a roupa.

— Quoi de neuf!? — Marcello entrou de repente.

— Nenhuma! A Nicole não atende as minhas ligações...

— Você ainda está nessa, irmão! Deixa de ser babaca!

Ele sentou no banco de madeira reto em frente ao armário de metal cinza.

— Ela é minha mulher!

— E você acredita que ela está esperando por você?

Bati a porta do meu armário com força. Marcello era um ótimo amigo, mas eu detestava quando ele questionava a fidelidade da Nicky.

— Confio nela! — Tive vontade de socá-lo só para desfazer aquele sorriso debochado. — Daqui a alguns dias, eu pegarei as minhas férias e vou ao Brasil.

— E se ela estiver com outro?

Marcello ficou de pé e se afastou quando fui na direção dele. Ele apanhava da Josephiné e tinha medo de levar umas porradas de um homem, ri da ironia.

— Qual é cara? Não precisa ficar nervoso!

— Então, viva a sua vida e me deixe em paz!

Marcello ajeitou aquele cabelo amarelo ovo, o corte dele era muito estranho. Não sei como ele consegue se dar bem com as mulheres.

— No próximo fim de semana será o aniversário do Henry, e você sabe como é a minha mãe, ela exige que eu esteja lá.

— Coitada da tia Heloísa, ela é um anjo!

— E meu pai é um demônio. — Marcello guardou a bolsa enquanto ria. — Se você quiser, eu passo na sua casa e falo com a Nicky.

— Beleza!

O plantão de hoje foi corrido, encarei o trabalho braçal na emergência do hospital. Estava tão cansado que ajeitei os meus óculos para ter certeza do que a minha visão captava. Estreitei os olhos quando vi uma jovem de pele dourada chorando com a mão na testa. De longe, ela lembrava a minha a mulher. Os cabelos ondulados caiam pelas costas. Alarguei os passos na direção dela.

— Bonsoir! O que houve?

— Escorreguei quando servia as mesas no trabalho e bati com a cabeça na ponta da mesa.

Ela tinha um calombo com um pequeno corte na testa larga. Reparei nos olhos de cor esmeralda enquanto examinava a protuberância . O rosto fino, o queixo pequeno, apesar de bonito, não parecia com a Nicky como pensei há alguns segundos. Nicole tem olhos amendoados e expressivos, nunca esqueci daquele rosto com maçãs salientes.

Pedi a paciente que me acompanhasse até a sala de raio-X, mantive o foco no meu trabalho. Avaliei o exame contra a luz e percebi quando ela me olhou pelas costas. A mulher de cabelos castanhos exibiu um sorriso um tanto malicioso para o meu gosto, pode ser apenas o efeito da medicação que administrei para a dor.

— Felizmente não houve gravidade! — Ajeitei os meus óculos.

Fui para a minha mesa, peguei o bloco de receitas, notei o olhar dela enquanto eu prescrevia a medicação para dor. Entreguei o exame com os papéis.

— Merci beaucoup, docteur Bittencourt!

Ela apertou a minha mão e, segurando mais tempo do que deveria, deixou um pedaço de papel, piscou e então deixou a sala. Não era a primeira vez que eu recebia um bilhete com o telefone de alguma paciente, todavia, eu sempre mantive a minha ética profissional e a fidelidade a mulher que eu amo.

Passaram-se dois dias desde que Marcello viajou para o Brasil e, até aquele momento, não havia me dado notícias sobre Nicole. Tomei um banho, vesti uma calça de flanela e me joguei na cama. Afundei a minha cabeça no travesseiro, fiquei mais de duas horas lendo e fazendo um resumo sobre a fratura de ossos do crânio.

Tirei os meus óculos e coloquei na cômoda de madeira envernizada. Fechei os olhos na esperança de descansar um pouco, por mais que eu tentasse ocupar a minha mente com a leitura, o trabalho e os exercícios, Nicky sempre estava em meus pensamentos.

Como ela estava linda deitada nua ao meu lado, o corpo dela estava tão quente, eu lambia e beijava a sua boca enquanto metia gostosamente naquela vulva apertada e molhada. Estava a ponto de gozar quando ela gritou desesperada, acordei no susto e sentei na cama. Estiquei o braço, procurei os meus óculos e acendi a luz do abajur. Havia algo de errado, procurei o meu blackberry e liguei para o Marcello, precisava ter notícias da minha mulher.

— Alô, Marcello! — Minha voz estava mais rouca. — Você viu a Nicole? — Meu coração acelerou. — O quê?

Dei um salto da cama, não acreditei no que Marcello falava ao telefone. Cocei a minha nuca, não podia ser verdade.

— Porra, cara! Tem certeza que era ela? — No impulso, soquei a escrivaninha perto da janela. — Ela não seria capaz de fazer isso comigo!

Respirei fundo e tentei manter o controle, eu me enfureci só por pensar na minha mulher beijando e abraçando outro homem.

— Chega, Marcello! Eu não quero sair com a Isabella ou pegar uma gata francesa. Estou puto!

Encarei o homem com uma fisionomia estranha no espelho, meu rosto demonstra a minha insatisfação sempre que eu estou com raiva, não consigo controlar isso.

— Tem certeza que era Nicole? — Suspirei pesado, fiz uma pausa para organizar os meus pensamentos. — Na última semana, eu vi uma paciente que parecia com ela... — comentei.

Senti um nó crescendo em minha garganta quando ele confirmou, minha mulher estava com outro homem. Meu estômago embrulhou enquanto eu imaginava a cena. As últimas palavras que ele disse ao telefone martelavam na minha mente: "A Nicky não presta para você, irmão".

A raiva que sentia era tanta que joguei o notebook contra a parede, descontava toda a minha fúria nos objetos que estavam em meu caminho. 

"Ela é minha! Só minha! Nenhum homem deveria tocá-la. Por que ela fez isso comigo?"

Soquei a parede uma, duas, três vezes... no quinto soco, o sangue escorria pelas costas das minhas mãos. A dor física não se comparava com a dor que eu sentia na alma. Ali, naquele ambiente amplo, escondido no meu quarto, eu chorei de tanta raiva e decepção.

— Ela não presta! — As lágrimas ardiam em meus olhos.

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