— Já chega, pare com essa cena!

Cláudio cobriu minha boca com a mão e me arrastou para a copa. A pressão da mão dele era tão forte que eu pensei que fosse me asfixiar.

Então, ouvi Gabriela sorrindo para os colegas e dizendo, com generosidade: — Já que o colar foi encontrado, não tive nenhuma perda. Somos todos colegas. Não vou levar isso adiante! Mais tarde, vou pedir um lanche para todos, como forma de agradecimento!

Cláudio parecia com medo de que eu revelasse nosso relacionamento na frente de todos, então me levou para a sala de chá.

— Diga logo, o que você quer? Há um limite para essa sua loucura. — Ele esfregou a testa, parecendo ter muita dor de cabeça com a situação.

Eu ofegava, o rosto com marcas arroxeadas.

— O que aconteceu com você? Ainda bem que Gabriela foi generosa e te perdoou. Vá agora mesmo pedir desculpas a ela!

— Não vou pedir desculpas. Não fiz nada, por que pediria desculpas?

Eu o encarei com frieza. Cláudio me perguntou o que havia acontecido comigo, mas na verdade, eu é que queria perguntar quando ele se tornou um completo estranho.

Gabriela entrou na sala de chá e me estendeu um copo de água quente.

— Letícia, beba um pouco. Sei que você tem raiva de mim, mas da próxima vez, tente não ser tão impulsiva.

Eu não peguei o copo. A água, que estava muito quente, respingou na minha mão, e ela o deixou cair no meu braço.

— Ah, está quente... — Gabriela gritou. Algumas gotas de água queimaram o dedo dela, e Cláudio a levou imediatamente para a pia para lavar.

Eu, vestida com uma blusa fina de chiffon, fiquei encharcada. Meu braço queimado, soltando vapor, parecia estar em chamas.

Fui sozinha ao banheiro para cuidar da queimadura. O pulso da minha mão esquerda estava vermelho e cheio de bolhas.

Quando voltei à minha mesa para arrumar minhas coisas, Cláudio se aproximou e segurou meu braço.

— Ai! — Gritei de dor. Cláudio se assustou e me soltou.

Ele perguntou, sem jeito: — Você está bem?

Eu ri ironicamente. Meu rosto estava marcado pelo tapa que ele me deu, e a queimadura no meu braço foi propositalmente causada por Gabriela.

Ver Cláudio agindo com falsidade me deu nojo.

Afastei a mão dele e joguei todos os meus pertences no lixo.

Ele parecia querer dizer algo, mas no fim, se virou e foi embora, dizendo apenas: — Você foi muito impulsiva hoje.

Depois de toda aquela bagunça, fui até a sala de segurança da empresa. Eu não podia ser difamada assim.

Mas na sala de segurança, fui impedida pelo funcionário.

Eu pedi para ver as gravações da manhã, mas ele me barrou, dizendo que apenas funcionários internos tinham autorização para ver as câmeras.

Quando vi que minha conta de funcionária tinha sido excluída, percebi que foi Cláudio quem fez aquilo.

Apenas ele, na empresa, tinha autoridade para me excluir do sistema tão rápido.

Ele estava do lado de Gabriela, e já tinha certeza de que eu roubei o colar.

Mas, de repente, me lembrei que a empresa de tecnologia era uma das propriedades da Família Ribeiro. Decidi ir para casa e me encontrar com Lucas Ribeiro, herdeiro da família.

Voltei ao apartamento onde moramos por seis anos.

Levei todos os meus pertences e, de quebra, tirei aquele relacionamento da minha vida, como se estivesse jogando lixo fora.

À noite, outro entregador bateu à minha porta. Na sacola, uma pomada para queimaduras da farmácia.

Deixei a pomada na mesa e olhei para a casa vazia uma última vez antes de ir embora.

No dia seguinte, reservei uma passagem para São Paulo. Entreguei o serviço pendente e repassei tudo para a pessoa que assumiria meu lugar.

No terceiro dia, peguei minha mala e fui sozinha para o aeroporto. Antes de embarcar, pela primeira vez, mandei uma mensagem para a conta de trabalho de Cláudio, a conta em que ele separava o pessoal do profissional. A mensagem dizia "terminamos".