MUDANDO MEU DESTINO

Acordo pontualmente próximo ao horário de levantar, um misto de apreensão e alegria percorre minhas veias. Meu corpo relaxou durante a noite, mas essa estranha sensação que estou vivenciando agora me deixa nervosa. Assim que tudo estiver pronto, saio em direção à casa dos meus pais para buscar Giovanne.

Estou ansiosa por vê-lo, engulo em seco, ao perceber que ele não está. Sua expressão deixa em dúvida se fiz a escolha certa em optar pelo navio para Madri, quando poderia ter escolhido o avião, que é muito mais rápido. Giovanne não esconde seu desânimo.

No entanto, esta viagem pode ser benéfica para ambos, especialmente para nos aproximarmos um pouco mais.

Ao chegarmos ao porto, avistamos o navio que nos levaria ao destino. Dou pulos de alegria, e vejo meu irmão sorrir com minha atitude. Ele está começando a se soltar e a agir como o meu irmão de verdade.

A jornada duraria cerca de 12 horas, de Londres até Madri, capital da Espanha, onde meus tios moravam e onde passei parte da minha infância.

Ao entrarmos no navio, pudemos admirar sua sofisticação, desde as longas escadarias até as cabines da primeira classe. Sinto-me como uma princesa, tudo é encantador. Lembranças dos meus pais vêm à tona, e tento conter as lágrimas diante dessas lembranças.

Após nos acomodarmos na cabine, nos divertimos alegremente. Giovanne sempre conta suas histórias malucas e as encrencas em que nos metia. Com muitas risadas e brincadeiras, já que fazia tempo que não estávamos tão próximos, isto me deixa muito feliz. Seguimos para o restaurante para tomar café, causando surpresa em algumas pessoas que nos encontraram pelo corredor.

— Está gostando da viagem? — pergunto enquanto sentamos.

— Você sabe que é uma chata, mas eu gosto de estar ao seu lado, faz tempo que não saímos juntos. Você trabalha demais. — ele fala gargalhando e eu me mantive séria.

— Relaxa, estou brincando. 

Conversávamos com coisas aleatórias quando percebi Giovanne observando uma moça muito bonita sentar em uma cadeira próxima a nossa mesa.

Seus olhares se cruzam e ele dá um sorriso safado para a jovem. Atrás dela vem um senhor que senta ao seu lado, presumo ser o pai da moça, o olhar do homem possui um semblante muito escuro, de arrogância e soberba.

Confirmo que é o pai da jovem, pois fala algumas palavras grotescas para ela e fazem com que a moça se levante e saia do restaurante chorando.

Giovanne pede licença e se retira do ambiente, deixando-me sozinha, sem entender direito o que se passa. Na verdade, sei o quão safado e mulherengo, que meu irmão é, logo penso o previsível, pois tenho certeza de que ele foi atrás da moça. Não vou deixar barato, terei que dar o troco, pois ele vai ter que me escutar depois.

Estou desacreditada do que meu irmão é capaz de fazer, mas após tomar meu café, irei até o terraço do navio passear um pouco. 

Realmente a viagem é belíssima, com uma vista maravilhosa para as cidades a beira-mar, o navio possui vários compartimentos. 

À noite, eu e Giovanne combinamos de assistir uma apresentação de teatro que haveria no salão principal.

A apresentação seria às 20:00, já eram 19:30 e meu irmão não havia retornado do passeio que fora fazer. Eu estava angustiada com a demora de meu  irmão, principalmente porque Giovanne era muito descomprometido,  tinha que ficar no seu pé o tempo todo para que ele cumprisse com alguns combinados entre nós dois.

Nossa relação entre irmãos era ótima, apesar de Giovanne ser um rapaz irresponsável e imaturo. 

Ouvi alguém bater na porta. Era ele que havia chegado.

— Até que enfim você chegou. Pensei que iria me dar o bolo.

— Desculpas, irmãzinha, demorei, mas estou aqui.

— Posso saber onde você esteve?— falo irritada.

— Conheci uma moça hoje pela manhã, e estávamos conversando, nem vi o tempo passar. — seu sorriso o entrega.

— Estava conhecendo, sei... Você acha que nasci ontem?— não me contive e gargalhei.

— Deixa isso para lá, vou me arrumar para irmos ao teatro.

— Espero que não arrume confusão, porque não vou te ajudar, caso precise.

— Fique tranquila, está tudo sob controle.

— Vá logo arrumar-se então.

Após prontos, fomos ao segundo compartimento, entretanto Giovanne estava incomodado, percebeu o desconforto e nervosismo dele, pois constantemente passava a mão nos cabelos, mas não o confrontei para saber o motivo, porque se for devido a algum rabo de saia, vou odiá-lo por isso. Entretanto, espero que não seja nada de mais.

Fico um pouco incomodada com isso, principalmente porque ele sempre foi bem sincero comigo, mas não perde a oportunidade de iludir uma mulher.  

Ainda na metade da apresentação, Giovanne me avisa que vai ao banheiro. Fico desconfiada com isso, mas nada digo.

Acho que meu olhar de irmã mais velha diz tudo. Minha vontade era esculachar ele, ou seja, dar um bom sermão, para ele deixar de ser idiota e tirar um tempo comigo.

Como Giovanne estava demorando a retornar, comecei a ficar nervosa. Já tive paciência demais por hoje, ele está sendo muito chato, afinal escolhi esse passeio para nos aproximarmos mais.

 Melhor ir atrás dele!

Quando vou procurá-lo ouço uma discussão na lateral externa do navio. Ao se aproximar, vi meu irmão bem alterado, discutindo com o pai da jovem que vimos durante o café da manhã. Fiquei preocupada, era fácil alguém cair de um lugar daquele.

Mas a moça estava tentando conter os dois.

Chego próximo a meu  irmão, que já estava avançando para cima do velho. Tento segurá-lo por trás, e subo em um degrau de uma pequena escada que dá acesso a para o navio. Neste momento, o pai da moça vem para cima de Giovanne, se desvencilhando da filha. Com o impulso que ele dá contra o peito de Giovanne, perco o equilíbrio.

Caio no mar.

xxxxxx

Eu até sabia nadar, mas estava escuro, fiquei por horas ali no meio do nada. Via uma imensidão negra e não enxergava o navio, pois quando afundei, uma enorme onda me levou para longe.

Já muito cansada de estar dentro da água, avistei um farol ao longe, tentei me aproximar da margem, quando uma onda forte me arrastou, a dor latejante na cabeça me tirou os sentidos, nada mais senti naquele momento, simplesmente meu corpo amoleceu. Meus sentidos foram se perdendo aos poucos.

Mal sabia eu que meu destino seria mudado completamente com uma batida forte na cabeça.

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