A tensão era sutil, mas constante. Desde o episódio no parquinho, o mundo fora das paredes do apartamento parecia mais barulhento, menos acolhedor. Os olhares se tornaram mais longos, mais julgadores. Comentários sussurrados em elevadores, mudanças de assunto abruptas quando alguém do "trisal do 804" se aproximava. Nada que fosse escancaradamente ofensivo — ainda — mas o suficiente para tornar cada saída um exercício de paciência. Pietro, alheio, continuava sorrindo, dizendo suas primeiras palavras com a inocência mais pura, enquanto os três adultos tentavam protegê-lo desse mundo que nem sempre sabia acolher o que não compreendia.
Foi João quem sugeriu primeiro, num fim de tarde silencioso, enquanto Alicia colocava Pietro para dormir e Roberto lia mensagens do escritório no celular. Estavam os dois à mesa da cozinha, partilhando um café que já esfriava, quando João soltou, quase como quem pensa em voz alta:
— E se a gente fosse embora daqui?
Roberto levantou os olhos, surpreso. — Com