Sua mãe?
Aquela mulher grossa e arrogante era mãe?
Mãe de uma criaturinha tão linda?
Como um homem era capaz de aturar aquela pessoa por uma vida inteira a ponto de ter uma filha com ela?
Existiria vida dentro daquela casca ou talvez sentimentos naquele coração?
Notei novamente a familiaridade no rosto da pequena e tudo se tornou evidente logo de cara. O cabelo da criança era idêntico ao da megera, assim como o rosto lembrava-a demais! Ambas eram incrivelmente parecidas, exceto pelos olhos e a doçura que exalava da menina. O motivo de a pequena estar ali era claro como água... Era filha da patroa!
— Desculpe, tia Alice! Eu só estava brincando... — A menina disse com a voz muito culpada — Já vou descer...
Foi tudo muito rápido e praticamente inevitável, mesmo para a pessoa mais ágil. Um acidente sem precedentes e qualquer reação, mas que poderia custar o emprego de todos, inclusive da pobre Alice do RH.
Encarei a garotinha, o chão cheio de sabão sobre o piso altamente escorregadio e a grande distância que ela teria que pular até alcançar o chão. Tentei agir com rapidez para evitar o iminente acidente, mas por me encontrar do outro lado da sala, foi quase impossível premeditá-lo.
— Cuidado garotinha! Não pule no sabão! — Tentei alertá-la com um grito, pois era o mais plausível e real a ser feito, mas já aconteceu tarde demais.
Ouvimos um estalo alto quando a menininha caiu sobre a própria perna e se espatifou ao chão. Em segundos montamos uma aglomeração ao redor da criança, que tinha uma fratura enorme, resultante do tombo feio que levou.
Imediatamente começou a gritar sua dor, anunciando que a cabeça de alguém ali estava preste a rodar.
MOLLY
— Mandaram um homem para sua entrevista de secretárias, minha rainha? Oh meu Deus, e ele era bonito?
— Pierre, por favor, você também? — Beberiquei meu cappuccino, observando um de meus melhores estilistas sentado na cadeira a minha frente — Não preciso de um homem bonito, muito menos de um capacitado! Não preciso de homem nenhum! Nem de homens eu gosto...
— Opa, como é que é, minha rainha? — O encarei, percebendo como interpretou errado a frase — Você, deusa gostosa e sexy, não se interessa por homens? Senhor! Homem é a melhor coisa que existe, querida, não podemos viver sem eles! Eu que sou um deles resolvi mudar de lado e você que pode tudo fica com essa coisa toda?
— Pierre... Poupe-me de seus ataques, certo? E mais uma vez, repito... — Coloquei a xicara sobre o pires que estava em minha mesa — Não sou lésbica! Sou apenas uma mulher ocupada e uma mãe solteira que só tem tempo para o trabalho e para a filha! Agora chega de chilique e vamos ao que interessa, o trabalho!
— Estou totalmente ciente da sua sexualidade, minha rainha, sei que você é hétero. — Cruzei os braços, ainda com o olhar fixo sobre ele — Mas ainda sou dono da opinião de que tudo o que falta para você é um homem forte, alto e másculo para te proteger e trazer alegria para sua vida tão... — Fez um gesto negativo — Sem homens. — Abraçou a si mesmo com expressão apaixonada e me olhando com seus olhos azuis brilhantes, apenas imaginando o homem em questão — Garanto que a pequena Melany não irá fazer objeção a isso. Você mesmo diz que o que ela mais lhe pede é um papai...
— Falando em Melany... Ela está muito quieta lá fora.
Olhei para a porta e senti um aperto estranho no peito. Seria algum tipo de intuição?