CAPÍTULO 9
Aquela pergunta ecoou pela mente de Anelise, “Vicente estava julgando a sua atitude sem saber?“ — Ela pensava, até que decidiu se defender: — Eu apenas segui as regras, não entendi a sua pergunta. O que ela falou pra você? — se afastou da parede e agora, pensando melhor, talvez Alicia tenha falado algo a mais do que realmente tenha acontecido. Vicente a olhou, soltou o ar e ficou de costas colocando a mão na cintura. — Alicia precisa de ajuda, Anelise! Como pode negar ajuda a alguém? — virou para falar isso a ela, e nos seus olhos, Anelise viu que ele estava chateado com ela, tinha uma expressão dura, estava vermelho e com o tom de voz mais alto, Anelise recuou o corpo para trás, a um passo. — Se ela passar mal eu não terei como saber, Vicente! Quando alguém começa o acompanhamento, ele já é instruído sobre isso, já vem do médico com o atestado, e nele diz quais tipos de exercícios o paciente está habilitado a fazer, não fui eu quem criou essa regra... — ela falou em tom mais baixo que o comum, sentindo que precisava acalmar o namorado, então o celular dele tocou, e ela apenas esperou que ele lhe respondesse: — Alô? *— Vicente, é a Alicia!* — Oi, Alicia! Você está bem? Está precisando de alguma coisa? — ele coçou a nuca e se afastou indo até a janela da sala, então Anelise sentou no sofá, parecia que as coisas iriam piorar ainda mais. *— Estou um pouco cansada, mas não importa! Está muito ocupado?* — Ah, não! Se você precisar, eu posso ir até aí, não vou fazer nada de importante, agora! — Anelise virou de frente para olhar pra ele, com a sobrancelha franzida, “como assim, não tem nada de importante?“ — Ela se perguntou ao encarar o namorado, que nem olhava para ela, e sim falava com Alicia escolhendo olhar o movimento dos carros, enquanto brincava com o gato. *— Na verdade, estou no restaurante aqui perto de casa, consegui agendar um horário com um dos jornalistas, ele chega em dez minutos, se você correr consegue acompanhar a conversa! — ele já começou a procurar as chaves do carro. — Caramba! Aguenta aí que chego em cinco minutos! — ele desligou e colocou o celular no bolso, pegando a chave. Quando Anelise levantou para esperar a resposta, Vicente abriu a porta para sair. — Eu preciso ir agora, depois eu te explico! — lançou apenas um olhar para ela. — Mas, a gente estava conversando, Vicente! Você entendeu o que eu falei? — se aproximou, mas Vicente levou as mãos a frente. — Sim, só estou com pressa! Depois eu falo com você! — e então Vicente fechou a porta, e Anelise praticamente se arrastou até o sofá, se deitando nele em seguida. O Chico viu que a dona deitou e foi até ela, que achou boa a companhia, até porque estava com dores de cabeça, provavelmente tenha sido o stress, pelo menos não ficaria mais sozinha. Vicente saiu correndo do apartamento, o elevador estava lotado, ele desceu correndo pelas escadas, e no quinto andar pegou o elevador aberto, então praticamente pulou para dentro, e terminou de descer mais rápido. Pegou o carro no estacionamento e em poucos minutos chegou no restaurante que ele já conhecia, porém, a Alicia estava sozinha e ele estranhou. Olhou no relógio e viu que não levou dez minutos, apenas nove. — Alicia... onde está o jornalista? — perguntou assim que se sentou. — Deve estar chegando, vamos aguardar um pouco! — Vicente assentiu. — É, tomara que ele venha... — Vem, sim! — Alicia reparou que novamente, o Vicente deixou o celular sobre a mesa e a luz acendeu, havia chegado uma notificação, “provavelmente era Anelise...“ — Ela pensou. — Vicente, vou aproveitar e te dizer que já dei entrada no tratamento, hoje. Já que Anelise pediu um atestado, vou conversar com um médico amanhã e solicitar, então eu poderei ser atendida por ela! — ela falou sorrindo, e ambos viram que o celular dele vibrou, mas como Alicia estava contando algo importante, ele desligou antes de ver quem era, não estava disposto a atender ligações do trabalho, agora. — Pode continuar! Eu já guardei o celular, quero saber tudo sobre o tratamento! — aproximou mais o corpo da mesa. — Ai, estou tão animada! Usei todo o dinheiro, mas já posso começar o tratamento, amanhã! Vou passar por uma consulta e fazer novos exames, vou ver se consigo os exames pelo SUS, porque fica muito caro pagar particular. — agora o seu rosto entristeceu, e na mesma hora Vicente ficou preocupado e segurou na mão dela. — Ei! Eu já disse que posso pagar! Quanto custa? Cem? Duzentos, mil? — ela parecia chorar, embora não desse para ver lágrimas. — Mais do que isso... — falou baixo. — Olha... então vou precisar transferir esse dinheiro para uma conta, não é bom sacar! Veja amanhã uma conta que eu possa fazer isso, e farei com o maior prazer! — ela o olhou triste, mas sorria por dentro. Além do seu ex-namorado “rico” lhe dar tanto dinheiro, ainda estava carinhoso segurando a sua mão por conta própria. — Eu não queria ser um estorvo na sua vida... realmente não fica chateado? — ergueu o rosto o olhando nos olhos; Vicente se preocupou. — Não, de forma alguma! — ela acariciou a mão de Vicente que dessa vez não tirou, estava preocupado com a saúde dela. Enquanto isso, Anelise tentava ligar para Vicente, mas não conseguia. Depois que deitou no sofá, começou a piorar e sentir tontura, ela malhou demais devido aos treinos de hoje, e ultimamente tem esquecido de se alimentar, reparou que a presença da Alicia havia tirado a sua vida pacífica. — Ai, Chico! É uma pena você não conseguir me levar no médico, estou tão sozinha e com tonturas! — o gatinho, despreocupado se esfregou na dona, gostando de ouvi-la falar com ele. Anelise observou que Vicente nem leu a mensagem que enviou antes. — É, Chico... parece que Vicente não tem tempo para mim. Até você, ganhou um pouquinho da atenção dele, e eu nem consegui ser ouvida. “Por que me sinto estranha com isso?“ “Nosso relacionamento não começou por amor, então porque estou incomodada?...“ — Ela ficava pensando, enquanto a sua cabeça doía, então abriu o celular e ligou para o bar em que eles costumavam ir, certamente Vicente estaria lá. No terceiro toque, uma mulher atendeu: — Bar Santa Marta, boa noite! — Por acaso o Vicente está aí? — ouviu o som da música alta que tocava, junto de uma gargalhada. — Vicente? — Vicente Cardoso. — falou mais baixo, respirando devagar, com sorte ninguém zombaria dela, hoje. — Caramba, mulher! Você ainda insiste em ir atrás desse homem? Ele não está aqui, deve ter saído de novo com a Alicia, todos já olharam o jornal de hoje, você não? — ela fechou os olhos, a sua cabeça estava girando. — Bom, não importa! Se ele não está, então... — Espere, espere! A Luzia está falando que acabou de sair uma notícia no jornal Tribuna do Paraná, dê uma olhada lá, quem sabe assim você não desiste! — Aquela frase deixou Anelise ainda mais confusa, ela nem terminou a ligação, simplesmente desligou na cara da atendente. Assim que procurou o tal jornal no G****e, abriu a boca em espanto. *Notícia De Última Hora: CEO Vicente Cardoso é Flagrado em encontro romântico com Estilista Alicia Verner!* [Foto de Vicente segurando na mão de Alicia]