Capítulo 5

Derek

— Então, estou atrapalhando?

Amanda repetiu, dessa vez parecia mais irritada do que sarcástica.

— Não, é até bom que esteja aqui...

Respondi-lhe, andando em sua direção. Entretanto, Amanda deu dois passos para trás, me fazendo entender que ela não queria que eu me aproximasse. Depois, ela apenas rolou seus olhos e os fixou em Monnie.

E seu olhar não me parecia nem um pouco amigável.

— Eu estava falando que, bem... você sabe, Monnie pode contar conosco! — disse, rígido.

— Conosco? — ela crispou a testa.

— É. — cerrei os olhos em Amanda. — Ela vai ficar aqui o tempo que for necessário.

— O tempo que for necessário...Você pode ser mais específico, Derek?

Suspirei fundo, inquieto e impaciente.

— Eu não quero atrapalhar... — Monnie murmurou baixinho.

— Se não quisesse, nem teria aparecido. — Amanda disse curta e grossa.

Olhei-a de lado e a reprovei com o olhar.

— Monnie está precisando de cuidados médicos, é meu dever...

— Seu dever? — Ela riu, afetada. — Ela não é nada sua, Derek! Essa maluca estava morta! Quer dizer... ela esteve longe por anos, por que acha que é seu dever cuidar dela?

— Por favor...

— Não, Derek! Você é um idiota! — Amanda berrou baixinho. — Ela estragou nosso casamento... — os olhos de Amanda encheram-se de lágrimas.

— Não! Não faça isso! Não entre na defensiva! — foi minha vez de elevar o tom de voz. — Mesmo quando ela apareceu, eu insisti para nos casarmos, mas você disse não! Então, por favor, não coloque a culpa apenas nela! Nós poderíamos ter nos casado, nós realmente poderíamos... você disse não.

— Você é completamente... arg! — Amanda bufou alto. — É claro que eu disse não! A sua ex-mulher, a mulher que você acreditava estar morta, reapareceu do além no dia do nosso casamento e você queria que nos casássemos? Em que mundo você vive, Derek Sant?

— Amanda... — sussurrei baixinho, não sentindo mais forças para levar aquela discussão adiante. — A Monnie precisa de nós... de mim!

— Não, Derek. — Monnie disse, encarando-me visivelmente assustada. — Eu realmente posso ir embora...

— Talvez se você realmente quisesse. — alfinetou Amanda.

— Já chega! — Bufei.

Amanda saltou para trás, completamente desnorteada.

Eu sabia que havia estrapolado. Mas Amanda também era culpada por minha alteração.

— Olha, eu realmente não quero atrapalhar vocês. Com licença.

Monnie sussurrou baixinho e saiu praticamente correndo, deixando-me a sós com Amanda.

Caminhei de um lado para o outro, sentindo uma raiva súbita me invadir por completo.

— Precisava de tudo isso? — disse, tentando recuperar minha sanidade.

— Você gritou comigo, Derek! Gritou!

— Você provocou...

— Eu não admito que grite comigo! Eu não admito, ouviu bem?

Revirei os olhos, irritado.

— Eu só estou tentando te fazer entender...

— Não perca seu tempo. — ela me cortou. — Nem se eu me esforçasse para te entender, eu conseguiria. Você é incompreensível.

— Eu... me desculpe, tá legal?

Sussurrei baixinho, me aproximando de Amanda.

— Desculpe? — ela riu em meio ao choro. — É tudo que tem a me dizer?

— O quer que eu diga, afinal?

Amanda balançou a cabeça, em negação.

— Nada. — disse simplesmente. — Vou ver a Lexie.

Ela disse e saiu do quarto sem olhar para trás.

E eu não estava disposto a impedi-la. Pelo contrário, precisávamos daquele distanciamento momentâneo.

Nossos nervos estavam à flor da pele.

Sem forças para me manter de pé, sentei-me sob a cama e fechei os olhos, respirando profundamente.

De repente, flashes daquele momento que eu tanto abominava, resolveram atazanar minha mente.

Eu estava de olhos fechados, mas em meu subconsciente, reconheci o barulho das sirenes. Não era apenas uma ambulância. O som denunciava a presença de mais de uma naquele local que ainda me era desconhecido.

Esforcei-me com toda a energia que ainda sobrara em meu corpo para, de alguma forma, abrir meus olhos. Precisava ver onde estava e o que estava, de fato, acontecendo.

Tudo que vejo, em primeiro momento, é o céu azulado. Concluí que estava estendido em uma maca, o corpo virado para cima. Tudo que eu conseguia enxergar era o Céu e sua beleza imensurável.

Em questão de segundos minha visão foi preenchida por muitos rostos desconhecidos e, só então, dei-me conta da variedade de vozes que ecoavam ao redor.

— A mulher encontra-se em estado crítico. Ela está grávida também.

Uma voz feminina, em especial, destacou-se das outras. A mulher de quem ela falava, era a minha.

Minha Monnie.

— Aqui está estável, Bayors. Alguns ferimentos leves no rosto, braço e perna. Encaminharemos para o hospital agora mesmo.

Mordo os lábios, e sinto-me tonto.

— O homem está lúcido! Tragam a máscara de oxigênio, rápido! —  Um deles me olha nos olhos, assustado.

Logo surgem várias pessoas me rondando.

Nunca pensei que tivesse de me esforçar tanto para  balbuciar apenas algumas palavras.

A cada esforço que eu fazia para falar, sentia meu corpo travar de tanta dor.

— Eu... Eu... — Vamos, Derek, fale alguma coisa. Tento me encorajar. — Monnie... Monnie. Onde está Monnie?

A mesma mulher que falava de forma agitada, estava ali, me monitorando. Não podia ter a visão completa de sua face porque parte dela estava coberta por uma máscara verde, o que a deixava levemente assustadora aos meus olhos.

— Ouça, vai ficar tudo bem, ok? Sua esposa está sendo tratada em outra ambulância, mas faremos de tudo para que ela fique bem.

— Ela... Ela está grávida. Vamos ter uma criança, vocês... Céus! — Mordo os lábios com força. Sinto dor e quase não consigo omitir. — Ela...  Salvem-os, por favor...

— Faremos de tudo, senhor.  Vamos aplicar um sedativo.. Portanto, é normal que sinta um breve escurecimento na vista e que, gradativamente, caia no sono.  Quando acordar, tudo estará dentro dos conformes.

Ela diz, na medida em que aplica o medicamento em mim.

Tento olhar novamente para o Céu vasto, é como se ele estivesse tão próximo que, se me esforçasse um pouco mais, poderia tocá-lo.

— Salvem a minha mulher. Ela está... Está grávida. Nós somos uma... — Minha visão fica turva tão rapidamente que isso me deixa surpreso. —...uma família.

Depois, o céu azul é tomado por uma zona de escuridão sem fim.

— Derek! Derek?

Acordei do meu transe e avistei Sabrina parada bem à minha frente.

— Oi?

— Você estava em outro mundo... — ela revirou os olhos. — O que está fazendo aqui?

— Estou só... — rolei os olhos. — Estou pensando um pouco.

— Pensando? — ela franziu a testa.

— É, é o que as pessoas costumam fazer de vez em quando, Sabrina.

Ela semicerrou seus olhos em mim e fez uma careta.

— Tão afetuoso!

— O que é que você quer? Não deveria estar na sua casa?

— Nossa, Derek! Quanta indelicadeza. Algum bicho te mordeu?

Foi minha vez de revirar os olhos.

— Eu estou bem.

— Posso ver o quanto. — disse cheia de ironia. — Posso saber o que falou para que Amanda ficasse tão aborrecida?

Cerrei meus olhos em Sabrina.

— Por que acha que eu tenho relação com seu mau humor?

— Porque sim. Você causa isso nas pessoas, irmãozinho.

Ergui-me cama já irritado pelo rumo que a conversa com Sabrina estava tomando.

— Mas que droga, eu não fiz nada, tudo bem? Amanda só está fazendo drama...

— Tem certeza?

— Tenho! — rosnei.

— Tá, tudo bem. Fique calmo, eu só estou tentando entender...

— Tentando entender?

— Você está diferente nesses últimos dias. Mais irritado e grosso que o comum. Você tinha mudado, mas está parecendo o mesmo ogro de alguns meses atrás.

Gargalhei fraco, afetado.

— Fico realmente abismado com sua forma de demonstrar carinho por mim. Obrigado.

— Disponha. — deu de ombros. — Quer um conselho?

Antes que eu pudesse negar, Sabrina apressou-se em fazê-lo.

— Eu sei que está confuso e atordoado, mas não desconte nela suas angústias. Ela também está tão confusa e atordoada quanto você. Então... — Sabrina cerrou os olhos em mim, passando-me sinceridade. — Não seja um idiota com ela. Não seja um idiota com alguém que esteve lá por você nos piores momentos. E não esqueça que você a ama, Derek. Você a ama.

— Hey, Amanda... eu sei que está ai, será que eu posso entrar?

Eu estava parado em frente ao nosso quarto, esperando a boa vontade de Amanda em me deixar entrar para, só então, tentar ter uma conversa amigável com ela.

O silêncio permaneceu instalado.

— Por favor, me deixa entrar! Eu só quero conversar!

— Essa é a questão, — finalmente sua voz soou, ainda que meio distante. — Eu não quero conversar.

— Ah, não? Prefere ficar agindo feito uma adolescente? — encostei a testa na porta e sussurrei baixo. — Nós já passamos dessa, não é?

— Derek, por favor, eu quero ficar sozinha...

— Que droga, Ama! Por favor, me escuta! Eu só quero... só quero que tudo fique bem entre nós. Por favor...

Desencostei-me da porta e respirei fundo, desnorteado com seu silêncio.

Para minha surpresa, a porta do quarto se abriu.

Amanda estava com o rosto vermelho, parecia ter chorado.

Você é um merda, Derek Sant! Meu subconsciente me condenou.

Eu sabia que, se Amanda realmente tivesse chorado, o único culpado era eu.

— Me desculpe. — falei baixinho, envergonhado por ser tão idiota. — Me desculpe por ser um idiota. Por ter tantos problemas e mais, por te envolver neles, mesmo você não tendo relação alguma com eles.

Amanda permaneceu calada.

— Eu só queria que... droga, Ama. Será que você não pode me entender? Eu estou sofrendo com tudo isso... estou fazendo o possível e o impossível...

— É simples, Derek, — ela finalmente disse. — Mande ela embora.

— O que...?

— Nós estamos apenas começando, Derek. Temos uma filha, e nós iríamos nos casar, mas... mas essa mulher... essa mulher arruínou tudo. Quer ajudá-la? Tudo bem, eu até acho justo que a ajude, no entanto, permitir que ela fique aqui, em nossa casa, eu realmente não posso aceitar isso. Se ponha no meu lugar, Derek! Isso é demais para qualquer pessoa, até para mim.

Suspirei fundo.

— Quer que fiquemos bem? Deixe-a ir.

Amanda deu alguns passos em minha direção e me olhou nos olhos.

— Então... o que me diz?

— Me desculpe, mas não posso.

— Não... pode... como assim?

— Eu fiz uma promessa e eu pretendo não quebrá-la. — disse, irredutível. — Ela vai ficar até que realmente esteja saudável para partir.

— Essa é sua última palavra? — ela disse, séria.

— É minha última palavra.

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