Capítulo 4 - Marco

Mêses atrás

Eu estava diante de Giovanni Mancini, o Capo da Cosa Nostra, muito atento a qualquer movimento dele, afinal sabia que ele era capaz de muitas coisas.

A última vez que nossa gente tinha se encontrado foi há dois anos, quando selamos nossa trégua para focarmos nos nossos inimigos em comum, na época meu pai ainda era o Capo da Camorra, agora esse titulo era meu e o assunto é ainda mais urgente.

— Os russos estão fazendo alianças, se casando e unindo as organizações. Não podemos ficar apenas os atacando para na próxima semana enviarem mais de seus homens para cá. — falei calmo e direto, meus dedos entrelaçados sobre a mesa, demonstrando uma tranquilidade que eu não sentia, afinal ainda éramos inimigos mesmo em trégua.

— Concordo com você. Soube que eles estão fazendo laços com os carteis e estão com planos de se juntar aos japoneses, não podemos deixar isso acontecer ou será uma guerra ainda mais sangrenta.

Ao menos ele era sensato, eu sabia que Giovanni era implacável, não se intimidava com guerras e novos desafios, ele fazia qualquer coisa colocando a famiglia em primeiro lugar, por isso esperava que o assunto de hoje fosse resolvido de forma rápida e fácil.

— É por isso que essa é a hora de alongarmos essa trégua, unindo Camorra e Cosa Nostra, aumentando nosso território e poder de fogo! — afirmei o surpreendendo, as sobrancelhas grisalhas do homem se ergueram mostrando que ele não esperava por isso. — Casamento, uniremos nossos povos com uma união sagrada que dará aos dois lados filhos, frutos que selaram o futuro do nosso império.

— Casamento? E quem se casaria? — ele perguntou parecendo realmente interessado no assunto. — Você é o Capo e está em uma ótima idade para se casar, mas seu irmão também é um ótimo partido para esse acordo.

Nero se mexeu atrás de mim, provavelmente incomodado com a ideia de se casar, já que ele tinha verdadeira aversão a relacionamentos. Eu também compartilhava do sentimento, qualquer pensamento de estar preso a uma única mulher me fazia querer arrancar meus olhos, mas os tempos pediam medidas drásticas, mesmo que desconfortáveis.

— Serei eu a me casar, Mancini. Eu estou propondo me casar com sua filha!

Ele semicerrou os olhos me analisando, enquanto eu mantive minha expressão neutra, como se aquilo fosse algo corriqueiro do dia a dia. Mas a verdade é que eu já havia planejado tudo, tinha revisto todos os prós e contras.

Não podia negar que ver as fotos de Angela Mancini me ajudou a tomar aquela decisão, a mulher era uma visão para os olhos, delicada, linda, com olhos que seduziam apesar de toda a inocência que ela exalava. Eu estava ansioso para conhecê-la, para ficar próximo a ela, pois tudo o que descobri não foi suficiente para ter uma noção de quem realmente era Angela, eram apenas migalhas sobre a filha do Capo.

— E você espera que eu entregue minha filha a você, para que tome também toda a nossa organização? — ele acusou e pelo canto do olho eu vi Frank deslizar a mão para dentro do terno, onde eu sabia que meu segundo em comando carregava armas e facas.

— Está me acusando de tentar lhe dar um golpe, Mancini? — perguntei aprofundando meu tom e deixando que ele tirasse as conclusões do que aconteceria aqui se ele não medisse as palavras, afinal estavam no meu território.

— Não me entenda mal, mas é isso o que me parece. Angela é minha primogênita, mas um dia tudo deveria passar para o meu menino e não para o marido da minha filha. Mas você é influente, já tem muito poder e poderia influenciar todos a seu favor.

— Eu não o chamei aqui para isso, se não confia em seus homens é um problema seu, não meu. O que estou lhe propondo é uma aliança, uma união para vencermos essa guerra e estendermos o nosso território.

Giovanni me encarou em silêncio me irritando além do limite, eu sabia que ele não se importava com a menina, Angela não tinha serventia para ele além de um bom casamento e eu duvidava muito que ele fosse casá-la com alguém de fora do nosso mundo sombrio.

E isso tudo só me levava a pensar que ele estava armando outra coisa, tramando um plano naquela cabecinha suja dele.

— Vou discutir isso com o conselho. — ele disse por fim se levantando e estendendo a mão na minha direção. — Te dou uma resposta até amanhã!

Apertei a mão dele e acenei com a cabeça em resposta antes que ele deixasse o escritório da boate, a porta se fechou e meus homens voltaram aos seus postos e eu finalmente soltei o ar e me joguei de qualquer forma na poltrona.

— Você acha mesmo que ele vai falar com o conselho? — Frank perguntou enquanto meu irmão já nos servia uma dose de whiskey.

— Vai, mas com certeza é por outro motivo. Tenho quase certeza de que Giovanni vai fazer essa mesma proposta a outra organização apenas por despeito. — murmurei pegando o copo e encarando o liquido âmbar tão parecido com os olhos de Angela.

O nome dela remetia a anjo, condizia com a aparência dela, já eu era visto como um demônio, o homem mais temido e sanguinário da Camorra.

— Vou avisar ao nosso informante. — Frank falou saindo, já indo garantir que as novas informações chegassem até nós.

— Você também pode fazer essa proposta a outras organizações. — meu irmão se jogou na cadeira que a pouco Giovanni ocupava. — Porque não faz para os Japoneses antes que se aliem aos Russos? Ou fale direto com a Bratva, uma esposa loira não seria tão mal assim.

Sorri para ele tomando um gole do whiskey. Sim eu poderia fazer isso, mas não era o que eu queria, não tinha nada com os russos além de ódio, não queria associações no momento. Embora não fosse uma má ideia o que Nero propôs, meu foco era outro.

E não demorou nem dois dias para que nossas suspeitas fossem confirmadas, nosso informante entregou a localização de Mancini, nos garantindo que tinha ido se encontrar com os chefes da 'Ndrangheta.

— Ele vai pagar caro por isso, vai desejar ter aceitado o meu acordo. — rosnei assistindo os desgraçados se despedirem depois de firmarem um acordo.

Sorrindo e apertando as mãos, felizes com a porra da negociação ter terminado bem, mas eu só conseguia ver os desgraçados rindo por terem me passado para trás nessa merda.

— Você sabe que ele nos detesta, desde que o nosso pai matou o pai dele durante a guerra e você ter matado o irmão dele por... — ele deixou as palavras morrerem, sabendo que não deveria repetir aquele momento das nossas vidas.

— Era guerra Nero, o que você queria? Pessoas morrem dos dois lados, ele não deveria ser tão orgulhoso a ponto de ser burro e se aliar com pessoas fracas. Se alguém tem motivos para odiá-los somos nós! — falei trincando os dentes e tomando uma decisão. — Nós vamos buscá-la. Vamos roubar Angela Mancini de baixo dos narizes desses filhos da puta, bem no dia do casamento.

— Enlouqueceu Marco? — meu irmão insistiu. — Faça a mesma proposta para a Bratva, case com uma russa e os faça sofrer!

— Talvez devesse ouvir seu consigliere. — Frank falou do banco da frente enquanto nós assistíamos eles irem embora. — Deixe eles pensarem que venceram e nós apareceremos ainda mais fortes.

Não! Eu não podia deixar que a entregassem para aquele verme, o pequeno anjo seria meu, em breve se chamaria Angela Falcone, carregando meu nome, mostrando a todos que me pertencia e que era tão ruim quanto eu. Faria ela se transformar na própria Diaba da Camorra e tomaríamos a Cosa Nostra de baixo de sangue.

— Se é tão sensato assim case-se com uma russa você, estaria mais do que orgulhoso em fazer esse acordo no seu nome Nero. — essa era minha última palavra. — Avisem do ataque, temos um mês para planejar tudo e não quero falhas.

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