CP-04 O inicio de um jogo perigoso

Sinto o meu coração disparar com a possibilidade de que me beijasse. Ele está tão perto, e me fita com tanta determinação. O que eu faria se os nossos lábios por fim se encontrassem? O que deveria fazer? Então, como se ponderasse os mesmos pensamentos que eu, Caio se aproxima ainda mais e toca a minha bochecha tão de leve com a boca que eu mal posso chamar de beijo. Não tenho certeza se estou aliviada ou decepcionada. Me levanto rapidamente e o vejo franzir a testa com a minha reação.

— Obrigada, Caio — consigo murmurar. — Vou entregar meus cupcakes pelo bairro e deixarei a porta encostada caso precise de alguma coisa.

E quando estou prestes a sair, ouço-o me chamar.

— Manuela, eu fiz algo errado?

Congelo com a sua preocupação, demorando demais para responder. Mas, com todo o autocontrole que posso reunir, apenas digo:

— Não. Apenas preciso trabalhar.

E saio antes que ele possa fazer mais perguntas. Arrumo sem muita atenção a cozinha e então me arrumo, trocando o short e a regata por um jeans e uma blusa que, sem dúvida, me fará parecer mais aceitável diante dos possíveis clientes. Guardo no bolso os meus cartões de visita e seguro a caixa, sentindo o suor se formar em minhas mãos. Mas o ignoro, respiro fundo e começo o primeiro de muitos dias da minha nova vida.

Por todos os lugares em que passo, as pessoas aceitam e elogiam os meus cupcakes, até mesmo se oferecendo para pagar por eles. Mas eu não posso cobrar. Não ainda. Eles são apenas, para eles, uma amostra do que posso fazer. E no fim vejo que os meus esforços valem a pena, pois consigo a minha primeira encomenda: um bolo de aniversário — pequeno, é verdade, mas isso não importa. Parece que enfim as coisas estão começando a caminhar.

A primeira coisa que faço quando volto para casa é tomar um longo banho para me livrar do calor e aliviar um pouco o cansaço da caminhada. Quando termino, enrolo uma toalha em meu corpo e em meu cabelo e parto para a cozinha, em busca de um copo d’água. Uma musiquinha cantarolada escapa dos meus lábios, evidenciando o quão satisfeita estou. E quando termino de beber, devolvo o copo ao armário e me viro, encontrando Caio encostado na parede, observando-me sem o menor pudor.

— Poderia bater à porta na próxima vez? — pergunto, tentando tirar sua atenção da toalha que só cobre o essencial, e enfim ele olha para o meu rosto.

— Eu não a vi chegar.

Ele cruza os braços.

Seguro a toalha para não ter perigo de que caia e começo a refazer meu caminho de volta para o quarto, e, tensa, sinto-o me seguir. Quero parar e perguntar quais são as suas intenções, o que se passa na cabeça dele, mas tudo o que digo é:

— Caio, vou me trocar. Pode me dar licença? Já foi constrangedor você me ver assim, e tenho certeza que ainda tem muito trabalho a fazer.

Ele assente, as mãos enfiadas nos bolsos, e inclina a cabeça para mim. Mas em vez de se afastar, se aproxima. O rosto está muito calmo, mas há um certo quê de provocação em seu olhar que faz o meu coração bater com tanta força que me pergunto se ele pode ouvir. Com os lábios agora muito próximos dos meus, ele sussurra:

— Desde que você saiu da garagem daquele jeito, estranhamente irritada, eu comecei a questionar a mim mesmo a razão para tal reação. — Seus dedos tocam a minha bochecha e ele sorri. — E foi então que me dei conta do motivo: o beijo. Você estava irritada porque queria que eu a beijasse na boca. Posso fazer isso agora. Se ainda quiser.

— Caio, eu... — O que eu poderia dizer? É claro que o quero, mas...

— Basta dizer que sim. — Ele sorri para mim, as íris brilhando em expectativa e o tom docemente hipnótico.

Então eu o faço. Sem forças para falar, assinto. E é o suficiente para ele encostar a boca na minha, em um toque tão íntimo e inesperado que me faz abri-la sem ao menos pensar e permitir que ele a reivindique com a língua, explorando cada centímetro enquanto cola o corpo no meu e rodeia a minha cintura com os braços. Quando nos afastamos, minha respiração está acelerada e as minhas pernas bambas.

Ele se afasta com o rosto corado pela intensidade do beijo.

— Se quiser mais — diz, baixinho — vai ter que pedir. — E assim sai, deixando-me sozinha com o coração pulsando contra o peito.

Volto para o quarto, a cabeça finalmente voltando a funcionar, e me irrito ao pensar que tudo o que ele queria era me provocar para que eu pedisse, implorasse por mais. Que joguinho era esse que ele achava que estávamos jogando?

— Vamos ver qual de nós dois vai pedir mais, Caio — murmuro, zangada comigo mesma ao ver o que um simples beijo causou em meu corpo. Aperto ainda mais a toalha e suspiro, os olhos encarando sem realmente ver o teto.

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