Doce como Mel {3}

Eu não sei o que deu na minha cabeça para aceitar aquela proposta, mas Cristina parecia tão desesperada para dividir o mesmo quarto com Tadeu, que eu imaginei que ela mesma teria os seus propósitos. É claro que em meus pensamentos eu poderia imaginar o que ela queria e eles poderiam fazer por estarem sozinhos em um quarto, mas não queria ficar pensando sobre isso, e então logo aceitei a sua proposta, mesmo que eu meu peito eu estivesse receosa e com o medo de dormir ao lado de um homem que eu mal conheço. Mas tentei pensar positivo, e isso funcionou por ora. Logo após isso, comemos algo leve e fácil de ser preparado, fazendo com que eu perdesse a chance de mostrar o quão eu sou boa na arte de cozinhar. Mas deixei para lá e logo pensei em descansar já que a viagem foi longa, mesmo que ainda fosse o meio da tarde.

Nesse momento eu estava contestando uma outra decisão por um outro motivo. Por que eu aceitei fazer essa trilha quando eu estava exausta? Cristina estava muito animada e convenceu Benjamin a nos mostrar uma parte da sua floresta, e eu não entendi qual era a graça de ficar vendo árvores e árvores cobertas de neve sem motivo algum. Mas Benjamin parecia entender...

— Tem certeza que não vamos nos perder? — Pergunto logo após longos minutos de caminhada, já sentindo a minha respiração pesar.

— Tenho, conheço esse lugar como a palma da minha mão. — Ele responde levantando um galho de uma árvore que estava bloqueando o nosso caminho, para podermos passar.

Então imagino que ele já possui esse lugar há um tempo considerável.

— É logo ali na frente, não tem erro. — Ele avisa assim que Cristina e Tadeu passam por ele, e eu logo em seguida.

— Há quanto tempo tem este lugar? — Pergunto esfregando meus braços cobertos pela jaqueta de frio, enquanto sinto a presença de Benjamin logo atrás de mim.

— Comprei quando ainda era adolescente. — Ele responde rapidamente como se não quisesse prolongar o assunto e logo se põe ao meu lado, ainda caminhando.

Ergo minha sobrancelha, o observando de lado.

— Adolescente? Como alguém tão novo conseguiria comprar um lugar como esse? — Pergunto realmente intrigada.

Eu não sei quase nada sobre o mundo, só o que meus pais me dizem, portanto conhecer alguém que comprou uma casa quando ainda era adolescente é totalmente novo para mim, a não ser que tenha sido pelo dinheiro dos seus pais. Olho para ele, notando como de repente sua expressão se tornou mais dura.

— Tive que dar um rumo à minha vida mais cedo que o normal. É por aqui. — Ele murmura se adiantando em seus passos, sem dar mais espaços para perguntas.

Mas ainda assim… em dar um rumo à vida cedo, ele quer dizer que teve que trabalhar desde muito novo? E pela forma que ele diz não parece ser um trabalho comum. Talvez tenha muito mais coisas que eu não saiba sobre ele…

— Ai, meu Deus! — Cristina exclama pausadamente e é quando eu finalmente olho para o que a deixou tão surpresa.

— Ei cara! Esse lugar é incrível! — Tadeu abre os braços com um sorriso, admirando a paisagem na sua frente.

E eu… bem… no mesmo instante que meus olhos capturam a paisagem à minha frente, eu interrompo os meus passos, me sentindo espantada em saber que um lugar como esse é real. O enorme lago congelado com várias árvores cheias de neve. A fogueira mais adiante e alguns troncos ao redor, como bancos. Mas não é só isso. A áurea que esse lugar transmite é maravilhosa.

— Incrível? Isso é um eufemismo em comparação ao que poderia resumir esse lugar! — Cristina lança um sorriso animado para Tadeu.

— Não vem? — Benjamin pergunta olhando para mim, que parei à alguns metros atrás deles, encantada demais com a beleza do lugar.

— Isso é lindo. — Murmuro baixinho sem conseguir conter o sorriso e eu vejo ele dá de ombros, franzindo o cenho.

— Você deveria parar de se impressionar por tudo, ainda mais algo tão banal…

Banal somente para você.

Sigo atrás dele, ainda distraída com a beleza do lugar. Quem poderia imaginar que nesse terreno teria um lugar tão encantador quanto este?

— Eu não sou acostumada a ver coisas como essa, portanto para mim é lindo.

Ele me encara com um sorriso divertido.

— Diz isso por que não viu minha casa em Paris.

— Você tem uma casa em Paris? — Arregalo meus olhos quando ele assente com um gesto de cabeça, como se isso não fosse nada para ele.

Estamos falando de Paris, não uma cidade qualquer, que já revelaria a sua riqueza por possuir mais de uma casa. Mas em Paris, a cidade dos comerciais de perfume ou de novelas românticas.

— Se quiser, seria uma honra te levar para conhecer. — Ele me lança um sorriso sugestivo logo em seguida de uma piscada, e é nesse momento que eu sinto minhas bochechas esquentarem.

Eu não vejo o porquê de algo como isso acontecer algum dia. Talvez tenha sido apenas paranoia da minha cabeça, mas sua proposta me pareceu mais séria do que ele desejou que parecesse. E de qualquer forma eu só estou aqui por um único motivo… pagar o tratamento da minha mãe.

— Isso não parece um sonho? — Cristina pergunta se aproximando de mim. — O que achou desse lugar?

Ela pergunta sorrindo e eu ponho minha mão em cima do pingente em meu colar, o segurando entre meus dedos. Minha mãe me entregou um pouco antes de eu viajar, e eu tenho certeza que é um tipo de lembrança, ou um amuleto da sorte, para assim eu carregar toda a sua graça pertinho de mim.

— Não tenho palavras que possam descrever. — Dou de ombros e ela assente, olhando ainda surpresa ao nosso redor.

— Tem até mesmo uma fogueira. — Ela comenta quando nos aproximamos e logo trata de se sentar em um dos troncos.

Esfrego novamente meus braços já que o casaco mesmo muito grande e quente não consegue me esquentar o suficiente.

— Como descobriu esse lugar? — Pergunto me juntando à Benjamin que pôs fogo na fogueira e sentou no tronco oposto ao de Cristina.

Me sento ao seu lado enquanto ele tira as luvas e esfrega suas mãos próximas ao fogo.

— Eu sempre gostei de explorar, era muito melhor do que ficar sozinho com meus pensamentos. Me perdi diversas vezes, até que um dia encontrei esse lago...

Assinto direcionando o meu olhar para Cristina e Tadeu, que estão íntimos demais. Os dois passando a mão no corpo do outro, e sorrindo como se tivessem compartilhando alguma mensagem ou segredo. Benjamin segue o meu olhar e eu sinto minhas bochechas corarem quando ele volta a me olhar com um sorriso divertido.

— Eles namoram? — Pergunto e então ele ergue uma sobrancelha voltando a olhar para os dois enquanto cruzo meus braços a fim de me esquentar mais.

— Eles se pegam, é tudo.

Assinto desviando meu olhar do seu. Isso é algo que eu também não entendo. Tiro minhas luvas e aproximo minha mão do fogo, tentando aquecê-la.

— E você tem namorado? — Ele questiona parecendo realmente curioso, e eu somente me movo desconfortável só de pensar sobre isso.

De qualquer forma meu pai me proibiria de me aproximar de qualquer pessoa, e se eu surgisse com uma conversa dessa é capaz dele me prender em casa. Limpo minha garganta e balanço minha cabeça para os lados, negando.

— Não, mas e você? — Pergunto sem realmente nenhuma curiosidade, mas se ele tiver uma namorada eu duvido muito que ela gostaria que ele dormisse na mesma cama com outra garota.

E esse seria um ótimo motivo para eu voltar atrás na decisão de ter aceitado partilhar um quarto com ele. Mesmo que eu faça de tudo para quem nem chegue a me tocar.

— Eu não namoro. — Ele responde simplesmente e algumas dúvidas se criam na minha mente.

Dúvidas essas que eu não vou questionar, até porque não acho que temos intimidade para conversar como se fôssemos amigos. Mas ainda assim… Ele quis dizer que não namora atualmente, ou que não é o tipo de pessoa que namora?

Suspiro e vejo o ar frio sair da minha boca, como em todos aqueles filmes na neve. O que é inacreditável para mim, pois nunca me imaginei vivenciando algo assim, como quando assistia aqueles filmes escondido do meu pai, e até mesmo da minha mãe pois ela não concordaria de eu estar mentindo para ele.

Meu pai sempre teve suas regras, e elas eram impostas a mim também, e inclusive quando o assunto era tatuagem. Não que algum dia eu já me mostrei interessada em fazer alguma. Volto o meu olhar à Benjamin, especificamente para suas tatuagens nas mãos. Uma rosa um tanto estranha no dorso de cada mão, o que não é realmente feio, mas eu gostaria de saber o que elas significam. Talvez tenha falado isso em voz alta, pois ele olha para mim parecendo confuso. Ele segue meu olhar para suas tatuagens e ele ergue uma sobrancelha com entendimento.

— Isso… — Ele passa seus dedos pelos traços da rosa, a encarando e logo depois dá de ombros. — Eu tinha apenas dezessete anos. Não tem nenhum grande significado, mas foi numa fase da minha vida que significou muito para mim. Talvez a minha liberdade.

Liberdade… Essa palavra soa um tanto melancólica para mim.

Umedeço os lábios, pensativa, porque eles já estão secos por conta do frio.

— Frio? — Ele pergunta e eu assinto um pouco tímida, enquanto ele põe suas luvas de volta.

— Vamos dizer que esse não é o melhor verão da minha vida. — Murmuro como uma "piada" e ele sorri, se aproximando de mim no tronco, o que me faz congelar por alguns instantes, já que eu não sei o que ele pretende tão próximo de mim.

Prendo a respiração e brinco com minhas mãos em meu colo, nervosa por estar tão próxima de um homem.

 — Posso te esquentar se quiser. — Ele sugere com tranquilidade e eu não consigo evitar de arregalar meus olhos, surpresa.

Balanço minha cabeça para os lados nervosamente. Eu não entendo o que se passa pela cabeça dele para sugerir algo assim, como se fosse algo completamente normal.

— Não! Não é preciso…

Sou interrompida quando ele põe seu braço ao meu redor, me puxando para mais perto dele.

— Tudo bem, ruiva, não há mal nenhum em ajudar alguém que está com frio. — Ele murmura com um sorriso de canto enquanto eu estou paralisada aninhada em seus braços. — Está melhor assim?

Ele pergunta esfregando meus braços, e naquele exato momento eu poderia afastá-lo, dizer que isso não é certo. Mas o calor que seu corpo transmite para o meu faz com que eu mude de ideia rapidamente. Mesmo que seja errado… Eu não vejo um grande mal em deixar que ele me aqueça.

Assinto timidamente sem conseguir pronunciar alguma coisa, e vejo ele sorrindo docemente para mim.

— Pensa rápido! — Tadeu exclama jogando algo no ar na nossa direção que Benjamin pega sem muita dificuldade.

O que me deixa surpresa, pois se fosse comigo a garrafa de cerveja já estaria quebrada no chão.

— Quer ou não pode? — Benjamin pergunta com a sobrancelha erguida logo após abrir a garrafa de cerveja.

— Passo… — Respondo ainda intimidada por estar tão perto dele.

Ele franze o cenho tomando um gole da bebida.

— Não gosta ou nunca bebeu? — Ele pergunta com sua atenção voltada à fogueira.

— Nunca bebi, mas de qualquer forma não poderia. — Dou de ombros e sinto seu olhar sobre mim.

— Porquê não pode?

— Meus pais. Religião… — Limpo a garganta e então ele me olha com um sorriso de canto.

— Eles não estão aqui, ruiva.

Ele diz como se fosse algo simples e eu me seguro para não revirar os olhos.

— Sim, mas prefiro não fazer.

— Como quiser, não vou te forçar, mas não vai escapar do vinho. — Ele pisca o olho ressaltando o que disse no avião e logo me sinto corar novamente, desviando o meu olhar para Cristina, que já estava nos observando com um sorriso.

Ela pisca para mim, o que me deixa ainda mais envergonhada. A tarde se passa rapidamente enquanto conversamos e comemos alguns salgadinhos que eles haviam trazido em suas mochilas. Benjamin não bebeu mais que duas garrafas de cerveja, e pelo o que parece ele não é muito fã dessa bebida. Já Tadeu e Cristina não pouparam esforços com as bebidas.

Já estava prestes a anoitecer e estávamos nos preparando para voltarmos para a casa, limpando e recolhendo toda a bagunça que fizemos.

— Tadeu, você lembra do caminho de volta, certo? — Benjamin pergunta enquanto eu observo atenta a conversa dos dois.

— Sim, tenho quase certeza de qual é o caminho.

— Eu estou indo na frente enquanto vocês terminam de recolher suas coisas. Estou confiando em você Tadeu, certo? — Benjamin pergunta seriamente para Tadeu que lhe lança um sorriso de canto.

— Claro cara! Vou guiar as duas belas ao meu lado. — Tadeu pisca confiante para Benjamin que me lança um último olhar antes de desaparecer na floresta, me deixando com um aperto no peito.

Suspiro sentindo que não há nada que eu possa fazer. Benjamin confia em Tadeu, então deve haver algum motivo. Mas então por que estou sentindo um mal pressentimento? Suspiro e volta a juntar as embalagens de salgadinhos numa sacola plástica.

— Acho que foram as últimas. — Murmuro olhando ao redor e então entrego a sacola plástica à Cristina, que ficou de deixar as sacolas no lixo, logo na frente da casa

— Então podemos ir. — Ela murmura e caminha até Tadeu, que estava nos esperando no mesmo caminho que Benjamin seguiu.

— Vamos indo garotas. — Tadeu começa a nos guiar enquanto adentramos a floresta, e aquele sentimento ruim volta ao meu peito.

Agora a noite o frio está insuportável, e eu não estou a fim de ficar mais tempo que o necessário do lado de fora procurando pelo caminho certo. Com um suspiro, eu ponho minha mão em meu pescoço, logo onde devia estar o meu colar, mas não sinto absolutamente nada além da minha pele. Eu interrompo meus passos sentindo meu coração acelerar em meu peito, tateando o meu pescoço em busca do colar que a minha mãe me presenteou.

— Não pode ser… — Murmuro baixinho desacreditada e nervosa, e os dois que estavam logo à minha frente se viram para mim. — O meu colar, acho que o deixei cair!

Acho que meu desespero foi perceptível para eles, pois ambos me olham com preocupação.

— Você quer voltar para procurar? Eu posso ir com você, ou simplesmente pode deixar para lá. Amanhã talvez? — Cristina sugere e eu balanço minha cabeça para os lados.

Até amanhã o meu colar vai estar enterrado na neve, tornando impossível de encontrá-lo.

— Minha mãe me deu antes de eu vir… — Murmuro como uma explicação, e então mordo o meu lábio, decidida a voltar para procurá-lo. — Vocês podem deixar, vão na frente enquanto procuro por ele, vou tentar não demorar.

Os dois se entreolham por alguns instantes até que ambos assentem.

— Estaremos esperando por você aqui. — Tadeu avisa e eu assinto sorrindo.

— Tudo bem, obrigada. — Sorrio e dou meia volta, olhando por todo o chão coberto de neve, em busca de um pingente de pássaros.

Eu não posso nem pensar em perdê-lo, ele é muito importante para mim.

Assim que cheguei no mesmo local em que estávamos, eu refiz passo por passo desde que eu cheguei aqui, procurei até mesmo em lugares que eu nem sequer cheguei perto, como a borda do lado. O único lugar que eu não me atrevi a olhar foi na fogueira, pois o medo estava evaporando por minha pele, com o pensamento de o colar estar no fogo, mesmo que a fogueira estivesse prestes a se apagar.

Longos minutos se passaram enquanto eu procurava por ele completamente desesperada, sentindo as lágrimas na borda dos meus olhos por saber que não havia mais nada que eu pudesse fazer, a não ser voltar para eles.

Talvez isso tenha sido um mal presságio. No primeiro dia da viagem eu perdi a única coisa que me fazia sentir perto da minha mãe. E isso já era um grande motivo para eu jogar tudo para o alto e voltar para os braços dela, onde eu me sinto verdadeiramente confortável. Mas a sua saúde já era motivo suficiente para que eu enfrentasse o meu medo do desconhecido. E foi quando eu me decidi a voltar para a casa e pela manhã voltar com Benjamin que conhece bem este lugar, para procurá-lo, se assim for da sua vontade me ajudar. Então segui o caminho de volta que achei ter gravado com Tadeu, fazendo as mesmas curvas que a minha mente gravou e me alertou ser, mas após alguns minutos sem encontrar nem mesmo sinal de Cristina e Tadeu, eu me pergunto se eu não deixei que a minha própria mente me pregasse uma peça. Eu jurava que esse era o caminho, e agora no mesmo lugar que eu achei que era para encontrar com Cristina e Tadeu, eu percebo que me enganei.

Olho para trás de mim, tentando decidir entre continuar o caminho ou ver se encontro algo mais a frente que seja a casa, ou voltar e tentar seguir um caminho diferente.

E é nesse grande impasse da minha mente, que eu percebo que estou perdida.

Estava sentado na poltrona, logo em frente a lareira da cabana e esperando impaciente por eles

Estava sentado na poltrona, logo em frente a lareira da cabana e esperando impaciente por eles. A verdade é que eu sabia que iriam demorar um pouco, mas essa quantidade de tempo estava exagerada, e eu estava começando a achar que estavam perdidos. Como é que eu posso ter sido tão idiota para confiar no senso de Tadeu, ainda mais quando ele já tinha bebido?!

— Droga! — Exclamo me levantando da poltrona subitamente.

Pego meu casaco que tinha deixado no braço do sofá e me dirijo a porta, pronto para procurá-los no meio dessa tempestade. Mas assim que a abro, vejo Tadeu e Cristina rindo incessantemente enquanto se encaram.

— Foi ótimo… nunca tinha experimentado algo assim… — Cristina murmura pondo uma mão no peitoral coberto de Tadeu.

E pela sua cara de safada, eu tinha uma ideia do que eles estavam fazendo. Os dois finalmente percebem a minha presença, e se afastam limpando a garganta.

— Ei cara, onde está indo? — Tadeu pergunta e eu passo a mão pelo cabelo, aliviado de que não estavam perdidos.

— Vocês estavam demorando… — Olho por cima do ombro dos dois procurando pela ruiva, mas não há nem sinal dela. — Onde está a ruiva? — Pergunto cruzando os braços e os dois se entreolham confusos.

— Como assim? Eu pensei que ela já estaria aqui pelo tempo que ficamos na floresta. — Cristina se explica, começando a mostrar preocupação.

Ergo uma sobrancelha, achando que definitivamente estavam tirando uma com a minha cara.

— Ela estava com vocês… não me digam que… Porra! — Exclamo já me aborrecendo com essa situação.

— Sim, é verdade, mas ela precisou voltar para procurar algo, então eu e Tadeu resolvemos esperar. — Reviro meus olhos não acreditando que eles a deixaram sozinha para treparem. — Ela estava demorando demais, então resolvemos voltar para fogueira e a trazer de volta, só que quando voltamos, ela já não estava mais lá. Cogitamos que tinha voltado sozinha. Você tem certeza que ela não entrou e você não percebeu?

Cristina pergunta adentrando a casa e olhando ao redor enquanto chama pelo seu nome, enquanto balanço minha cabeça para os lados, incrédulo.

— Vocês são uns otários por tê-la deixado sozinha. Ela deve estar perdida em algum lugar e congelando, pois a temperatura só tem abaixado. — Exclamo furioso me dirigindo novamente a porta, disposto a procurar por ela, até que eu sinto uma mão em meu ombro.

— Ben, eu posso ir procura-la com você. — Tadeu se oferece e eu balanço minha cabeça para os lados.

— Não! É melhor que você fique e me ligue caso ela chegar antes de mim. Vou voltar somente quando achar ela.

É a última coisa que eu digo antes de partir em busca dela, deixando os dois de guarda na cabana.

Ando pela floresta que conheço como a palma da minha mão, seguindo primeiramente pelo mesmo caminho que fiz até o lago. E durante o caminho eu não encontrei absolutamente nada. Nem sequer há um rastro de que alguém tenha passado por aqui. Um pensamento me atinge, e eu rapidamente pego o meu celular, resolvendo ligar para ela e torcendo que a mesma esteja com ele em mãos, mesmo que eu não tenha a visto pegar o seu celular sequer uma vez.

— Droga! Atende! — Exclamo ainda segurando o celular próximo ao ouvido enquanto me aproximo do lago.

De verdade, eu espero que ela esteja bem. Se eu não me engano há um pequeno chalé abandonado que acabou se tornando um celeiro inutilizado já que não há cavalos nesta região, portanto será maravilhoso caso ela tenha conseguido encontrar o chalé, caso contrário ela pode até mesmo morrer congelada por conta do frio. Chego finalmente na fogueira não a encontrando, nem mesmo pegadas que o vento provavelmente escondeu.

— Mel! — Grito por ela, esperando que se estiver por perto siga o som da minha voz. — Mel! — Grito novamente, mas a única coisa que ouço é o vento forte balançando os galhos das árvores.

Respiro fundo tentando controlar meus nervos. Ela claramente se perdeu e pode estar em qualquer lugar, e até mesmo em perigo. Abaixo minha cabeça tentando pensar em algo melhor do que perder tempo tentando na sorte seguir um caminho e a encontrar. Quer dizer, esse lugar é enorme! Algo no chão brilhando chama a minha atenção, e eu me inclino para pegar. É um colar. Na verdade, o mesmo no qual eu a vi usando mais cedo, já que ela não parava de mexer nele. Sim, eu não parei um minuto sequer de observa-la. Querendo ou não a garota é linda e não há ser humano que não admire a verdadeira beleza. E se algo tiver acontecido com ela, eu vou me sentir culpado pelo resto da vida, porque tudo bem que eu não passe de um monstro, mas não vou conviver com a morte de alguém inocente.

Então monto na minha cabeça um caminho certeiro, na qual pelo seu modo de pensar ela com certeza o seguiria, e é quando eu resolvo o seguir, que eu finalmente vejo alguns restos do que deveriam ser pegadas. Provavelmente dela, já que não há mais ninguém próximo dessas áreas. Continuo meu caminho, mas me interrompo prendendo a respiração quando penso ter ouvido o que pareceu ser um gemido. É verdade que foi baixinho, mas ainda assim… provavelmente veio de longe.

Desconfiado, sigo o som da sua voz, ouvindo cada vez mais alto, e agora eles parecem de dor, e é quando eu finalmente a vejo deitada no pé de um árvore, com os olhos fechados e tremendo. Sua boca está ressecada e está claro para mim que a dor que está sentindo é por conta do frio.

Puta merda! Ela deve estar aqui a um bom tempo! Me ajoelho ao seu lado, a analisando preocupado.

— Ruiva… — Murmuro baixinho a sentando, para que sua cabeça não continue congelando pela neve.

Ela parece estar com a visão borrada, pois seus olhos que se encontram meio fechados me olham com confusão. Ela ao menos deve ter reconhecido a minha voz.

— Huuum… — Ela tenta falar algo, mas sua voz é tomada pela dor e seu corpo trêmulo.

Esfrego seus braços enquanto penso numa solução. Eu tenho que tirar ela daqui e aquecê-la o quanto antes, mas se eu tentar levar ela para a cabana ela pode ficar ainda pior pois não é um caminho curto, muito pelo contrário, sem falar na ventania que está aqui fora. Provavelmente a minha melhor escolha será leva-la para o chalé, que apesar de não ter o necessário para aquecê-la, fica a menos de dez minutos daqui.

— Vem cá… — Peço pondo um de seus braços ao redor do meu ombro, enquanto faço o trabalho de pegá-la no colo. — Eu vou te tirar daqui.

A abraço com força em busca de aquecê-la. Ela somente enterra sua cabeça em meu pescoço e eu logo me apresso em leva-la até o chalé. Olho para a mesma, notando que há rastros de lágrimas em seu rosto, confirmando minhas dúvidas de que ela estava chorando. Quando finalmente chegamos no pequeno chalé abandonado, eu a ponho sentada apoiada num pufe empoeirado, porém aconchegante.

— Abre os olhos, ruiva. — Peço, mas ela nem se move, o que me deixa preocupado. — Está me ouvindo?

Ela finalmente abre os olhos como se tivesse acabado de sair de um transe, e eu suspiro aliviado.

— Benjamin… — Ela sussurra em reconhecimento e eu sorrio, contente de que seus sentidos estejam funcionando.

Ouço ela tossir enquanto tento sentir a temperatura da sua pele, e mesmo que ela estivesse com febre, seu corpo ainda estaria congelando de tão gelada.

— Sim ruiva, sou eu. Eu vou ter que te deixar por alguns minutos, tudo bem? Eu prometo não demorar, mas tenho que pegar lenha. — Acaricio seu rosto enquanto ela me encara ainda com seus olhos abertos.

— Estou com frio… — Sua voz sai fraca e cheia de súplica, o que me faz sentir um aperto no peito.

Se eu que estou apenas a alguns minutos nessa tempestade estou congelando, quem dirá ela.

— Eu já volto. — Deposito um beijo na sua testa gelada e saio correndo para fora do chalé, em busca da lenha que deixamos na fogueira.

A verdade é que pensar que alguém pode se machucar por minha causa me traz lembranças dolorosas, então o que eu puder fazer para evitar algo fatal, eu vou fazer. Não que eu me importe com ela, pois é só uma garota, mas ainda assim...

Corro em busca da lenha e acho um pouco já usado na fogueira de mais cedo. As pego lembrando que já possuem o líquido inflamável e então volto o mais rápido que posso para o chalé, a encontrando pálida com seus olhos fechados, e o único sinal que revela que está viva é o seu corpo trêmulo.

— Voltei. — Sussurro me aproximando dela.

Ponho a lenha em um lugar não muito longe e também não muito perto, o suficiente para aquecermos sem nos queimar, e onde o fogo não vai se espalhar. Acendo o isqueiro e logo vejo o fogo tomar forma e começar a esquentar o local que estava friamente insuportável.

— Isso deve durar por boa parte da noite. — Murmuro e volto minha atenção para Mel. — Ei ruivinha…

Ela abre os olhos piscando algumas vezes por conta da claridade.

— Benjamin.

Assinto esfregando seus braços, mesmo que isso não adiante por conta do seu casaco estar molhado.

— Eu vou tirar o seu casaco, está bem? Ele está molhado e não vai adiantar de nada, só piorar o seu estado. — Murmuro calmamente tentando a convencer já que ela parece uma garota bastante conservadora.

Seus olhos me analisam de forma hesitante, e eu até penso que ela não vai deixar, mas então ela assente endireitando sua postura. Ajudo ela a retirar seu casaco, deslizando por seus braços e notando que ela usa apenas uma camisa justa de alcinha, que marca bem suas curvas e o formato de seus seios. Fato que não me passa despercebido. Meus olhos se prendem na sua pele branca e macia enquanto tiro de uma vez o seu casaco. Eu não sou cego e qualquer um que também não for, será capaz de ver o que estou vendo neste exato momento. A garota é linda, e não tem um que não olharia da mesma forma que estou olhando. Mas é quando ela se treme pelo frio que eu saio do meu transe, resolvendo finalmente retirar o meu casaco e pôr nela, já que seu corpo está fraco.

— Melhor? — Questiono voltando a esfregar seus braços, a fim de aquecê-la.

Seus olhos se prendem no meu corpo, mais especificamente na minha camisa, onde a manga só vai até o cotovelo. Acho que faço uma ideia do que está passando por sua cabeça, mas a verdade é que eu não me importo nenhum um pouco de ficar exposto ao frio. Já passei por situações piores, e não vai ser algo como isso que vai me derrubar.

— Estou bem, mas… — Uma tosse rompe da sua garganta e ela se interrompe, se abraçando. — Você vai ficar com frio...

Dou de ombros e olho para ela tentando transmitir tranquilidade. Aproveito a situação para enviar uma rápida mensagem a Tadeu, avisando que estaremos de volta amanhã.

— Minhas pernas… — Ela sussurra tossindo e eu ergo a minha sobrancelha.

É verdade que eu já percebi que sua calça está molhada, mas se eu tirar, não terá nada para aquecê-la, a não ser… Respiro fundo a encarando e logo começo a desamarrar o cadarço na sua bota pensando numa solução, enquanto ela me observa em silêncio.

— A meia está seca. — Comemoro mentalmente, já que é um bom começo para ela não pegar um resfriado amanhã.

— Benjamin; — Levanto meu olhar de encontro com o seu e percebo seus olhos começarem a pesar. — Não quero que fique com frio por minha conta.

Lanço-lhe um sorriso fraco que não alcança os meus olhos, em uma forma de lhe tranquilizar.

— Não pense muito nisso. — Peço e então sacudo o pufe tirando o máximo de poeira que eu posso e coloco mais próximo do fogo, para que assim ela possa se deitar. — Vem.

A ponho deitada e logo começo a desabotoar sua calça, sentindo seu olhar confuso em mim.

— Não se preocupe, eu não vou olhar se não quiser. — Aviso e ela assente, respirando fundo enquanto eu tiro sua calça, tentando não focar em suas pernas.

Ela me pega de surpresa quando me puxa para perto dela pela gola da minha camisa.

— Eu ainda estou com frio. — Ela murmura claramente mentindo e eu sorrio, achando graça que mesmo nessa situação ela esteja preocupada comigo.

Pego uma de suas mãos esfregando nas minhas, a fim de que ela não continue tão gelada.

— Como quiser, vem aqui ruiva. — Colo ela ao meu corpo, e ela logo coloca os braços sobre os meus, a fim de me esquentar junto com ela.

E eu não vou mentir que por mais que seu corpo esteja frio, o contato da sua pele com a minha faz com que eu me aqueça. Ela se aninhou em meus braços e no automático, eu a beijei na testa.

— Durma, quando acordar o frio já terá ido embora.

Eu não estava conseguindo entender porque estava agindo como um boiola em relação a ela. Quando foi que eu beijei a testa de uma garota para acalmá-la? E por que ela me deixou preocupado? E por quê no fundo do meu peito eu não estava desgostando disso? A resposta pode ser somente uma… Ela estava morrendo de frio e eu não quero levar a culpa nas minhas costas. Somente por isso.

Sinto sua respiração se acalmar com o tempo revelando que ela já estava dormindo, e quando eu menos esperava meus olhos também estavam se fechando.

Eu afago seu cabelo antes de me deixar ser levado pelo sono, junto com o seu corpo frio que de certa forma, me esquentava.

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