Senti algo se mover sobre meu ombro e me joguei para o lado.
— Volte… Estou com tanto frio. — O sussurro da mulher fez um arrepio percorrer minha espinha. Rolei no chão e saltei de volta, de frente para a mulher… Ou para a criatura em que ela havia se transformado. O cabelo estava ralo e emaranhado, grudado em longos fios que misturavam tranças e nós endurecidos. Havia falhas, deixando a pele pálida exposta nos buracos. Os olhos, afundados em poços escuros de necessidade, não conheciam mais nada além disso: necessidade. Os lábios repuxados deixavam os dentes sempre à mostra, num sorriso maníaco permanente. O vestido escuro, que um dia fora lindamente drapeado e cravejado de joias, agora pendia frouxo sobre o corpo esquelético. Era como se a alma inteira dela tivesse se desgastado até virar nada, enquanto a roupa permanecia impecável.
O pensamento me gelou ao perceber que ela queria tomar meu corpo, minha vida.
— Fique longe. — Virei-me e corri quando ela começou a me seguir, movendo-se