POV KAEL.
Eu precisava sair dali. O corredor parecia estreitar a cada segundo, as paredes se fechando sobre mim. Aurora estava tão perto que bastaria inclinar a cabeça para sentir novamente o gosto dos lábios dela, aquele beijo que ainda me perseguia, queimando como uma maldição.
Mas eu não podia. Não dessa vez.
Minhas mãos ainda ardiam do contato com a pele dela, e a forma como me olhou: ferida, brava, vulnerável, me atravessou como um golpe certeiro. Eu queria puxá-la para mim, queria perder o controle, mas sabia que seria um erro. Mais um.
A raiva que cuspia sobre ela não era dela. Era minha. Um reflexo podre do medo que crescia dentro de mim. Medo de deixá-la marcada pelas mesmas sombras que me perseguem desde sempre, mais uma vez.
Enquanto eu caminhei de volta ao salão, o som dos saltos dela ecoava ao longe ainda me perseguia. O rosto dela, o brilho dos olhos quando me enfrentou, tudo estava gravado em mim. Aurora não era um brinquedo, nunca foi.
Era justamente o contrário.
Ela