— Não deseja saber nada sobre mim? - O homem se atrevia a perguntar, a Helena, algo. Avançava sobre a muralha de desinteresse dela. — Senhor, não me leve a mal. - Ela suspirou. - É um homem bonito, atraente certamente, mas preciso do emprego e não posso me dar ao luxo de me envolver com clientes. Meu patrão se sentiria desconfortável e cheguei há pouco na cidade, preciso da misericórdia dele. - Ela baixou o olhar. - Agradeço pelo flerte, mas... - Ela se acanhava. - É um elogio, mas não é apropriado em minha posição. Lamento. - Helena jogava com as informações que tinha. Homens da lei costumavam ter um certo "Complexo de Herói". Se fosse policial, ela ganharia alguém muito importante para sua operação. "Vamos jogar, bebê." Ela pensava, mantendo a expressão humilhada em seu rosto e o sorriso sádico em sua mente.— Ninguém precisa saber, querida. - Ele se interpôs no caminho dela. - Aqui, me ligue quando quiser. - Ele entregou um cartão para ela. "Rafael Cervantes." Havia um número. Ele
Helena se refrescou e avaliava a documentação que Dario a haviam entregue, em uma das imagens, a mão longa e o sinete de pedra negra, a ela, parecia Rafael, pelo porte. Precisava falar com aquele homem, poderia ter ligação com o caso. Ela acabou dormindo debruçada sobre aqueles estudos. Na tela, pesquisava alguém chamado "Rafael Cervantes". Não encontrava nada além de um site comercial. Era um investigador particular. "Será o mesmo Rafael Cervantes?" Dario se perguntava, fechando as telas e a acomodando, exausta, na cama. Naquele ritmo, o corpo não aguentaria muito, ela se levava a extremos. Helena não despertou no horário usual, respirava pesadamente quando o despertador de Dario tocou, ruidosamente. Estava levemente febril. Ele decidiu deixá-la descansar. Preparou algumas vitaminas e um remédio para resfriado na bandeja. Rafael a aguardava no parque, ansioso, mas ela não surgiu. Algo havia acontecido, mas ele apenas deduzia o ritmo dela, não havia uma rotina estabelecida. Sem dar
Rafael entrou pela emergência com Helena nos braços, mal respirava. Os pulmões tomados por algo, foi levada. Rafael aguardava na recepção. Da mulher, sabia apenas o nome e nem era verdadeiro: Maria Dorneles Martins. Uma médica se apresentava a ele, o quadro era de um veterano de guerra: perfurações por munição eram maioria esmagadora, em geral, grosso calibre. Já não tinha um útero ou ovários, o que indicava que poderia ter sido transportada como prostituta. Tirar aquela parte era uma prática comum, especialmente, se fosse escravizada, mas o que mais chamou a atenção da médica é que, placas e pinos tinham números seriais e aquilo batia com números de outra pessoa morta: Tenente Helena Jones Brown, Imigração Estadunidense, Militar de alta parente. Rafael se surpreendia, aquele anjo que lhe serviu café, algumas vezes, era uma das víboras do General, conhecido por aliciar e corromper militares de alto escalão. A raiva o tomava. Se ela estava ali, estava em missão, concluía. Helena despe
Gregory chegou no fim do dia, fardado em um paramento típico da academia. Helena via o bonito militar se aproximar, com o sorriso amoroso no rosto. — Boa noite, meu amor. - Ele disse, em um espanhol arranhado, se aproximando e beijando a testa de Helena. - Obrigado, Martha, as meninas a estão esperando. Blossom está um pouco rebelde, exigiu sua "melhor amiga" ou não ia fazer as tarefas. - Disse em inglês. — Isso é rebeldia! - Martha se espantava, divertida. Helena queria rir, mas precisou manter o controle, como se não entendesse uma única palavra. - Vou resolver isso com essa mocinha agora! - Martha foi até Helena. - Nos falamos pela manhã, amiga. Tente descansar. - Martha se foi. Helena percebia o braço de Gregory, ainda engessado. — O que houve com o braço? - Helena fingia demência. — Uma situação em campo. - Ele suspirou. - Nada com o que se preocupar, meu bem. Como se sente? — Estou bem, com fome, com sede, enjoada. - Ela se surpreendia. - Oh, meu Deus! Nós... ? - Ela o enca
— Meu nome não é falso, Gregory. - Helena insistia. - Me chamou Maria. - Ela enchia os olhos de lágrimas, aflita. — Não é, meu amor. - Ele tirou uma credencial dela do bolso. Era sua identidade militar. - Veja, está é você há alguns meses. - Ele lhe oferecia o documento.— Como é possível? - Helena chorava outra vez. Aquela instabilidade, mesmo sob a medicação que ele achava que ela tomava, era algo doloroso. Ele pretendia reconstruir suas memórias. Helena percebia aquele movimento sutil. — Helena é seu nome. Se me permitir, a chamarei assim sempre, até que se reacostume a ele. Amanhã, precisamos ir fazer alguns documentos e assinar algumas coisas, para restabelecer sua vida, meu bem. - Ele dizia aquilo com suavidade. Helena ouvia o guizo de uma serpente a cada palavra. — É assim que você quer, amor? - Helena fingia seu conformismo submisso. — Sim, querida. É. - Ele afirmou. Ela imaginava se Katrina havia suportado aquilo, aquela pessoa passivo-agressiva, manipuladora, por todos a
Gregory e Helena se casaram pela manhã, meras formalidades que a transformavam em Helena Jones Dawson Matthew Stuart. Ela olhava o documento, estarrecida. Ele, com o sorriso gentil, se infiltrava em cada aspecto de sua vida, sem qualquer pudor ou mal estar. Ela se impressionada com a falta de caráter dele. Ele fez questão de ser um homem devoto naquele dia, fazia por Helena tudo o que poderia lhe trazer conforto. "Seria ótimo se eu não tivesse sido abduzida, não é, não, queridão?" Ela o sentia sobre seu corpo, aos beijos e carinhos. Por maior que fosse sua ojeriza, era inegável que Gregory era um amante esplêndido, mesmo que não se comparasse a Dario, a quem seu corpo buscava instintivamente. Helena chegava ao clímax com outro homem em sua mente. "Consumado." Ela pensou, mantendo as coisas como estavam, se deixando ficar sob os afagos delicados do homem que sorria, feliz. — Querida, gostaria de viajar? Talvez algum destino daqueles que me contou? - Ele perguntou. Helena, atenta, per
Em Piedras Negras, Dario firmava novos acordos de confianças, buscava nossos assistentes para substituir Jose e Luiz, enquanto estudava Eagle Pass. — Informações. - Dario enviou a mensagem para seu contato.— Quais? - Recebia a mensagem, de imediato. — Gregory Matthew Stuart. Eagle Pass. Atual. Endereços. - Dario instruía. - Localização. Atual informação. Helena Jones Brown. - Ele dava os limites do que queria. Recebia, horas depois, uma ligação de voz, da loja de penhores. — Como vai, Mictlán? - Dario ouvia a voz de seu contato. - Helena Jones Brown agora é Helena Jones Dawson Matthew Stuart, Major. Foi mandada para a reserva. Psiquiatria. Dizem que perdeu a memória. - Johnson informou. - Não tem endereços desse cara em Eagle Pass, somente na base e em Austin. Na capital, são uns bons vinte endereços. O que está procurando, especificamente? - Dario entrava em choque com a informação.— Está me dizendo que ela casou com esse cara? - Dario se indignada. - Quando?— Ontem. Acabamos
Dario tentava imaginar uma solução. Voltou para a cidade, ainda com aquilo em mente. Avaliava soluções. Brinquedos pareciam as melhores: pequenos drones e carrinhos camuflados. Ambos tinham problemas: águias e serpentes ou lagartos. Ele se irritava.— Argh! Como ela faz isso? - Dario bradou, irritado, desferindo o soco, carregado de raiva, contra a parede. Saiu para espairecer, observava o prédio da imigração, com um café e um cigarro na mão, sentado em um ponto de ônibus. Ser latino tinha suas vantagens. Percebia aqueles jovens saírem, com mochilas, fardados e conversando animadamente. Ele se forçava a lembrar dos vídeos e das descrições de campo dela. Havia um traço comum, ela sempre referia ações de "antigamente", sem equipamentos, sem tecnologia, confiando em si e em suas habilidades, treinava para aquilo. O homem decidia estudar os arredores daquela prisão luxuosa em que Helena estava. Via Gregory chegar na academia, apresentar-se e entrar pelo portão eletrônico. Descia do carro,