Capitulo 3

Capítulo 3

O despertador tocou antes das cinco da manhã, continuei quieta e imóvel na cama, percebi Enrico se levantando e indo em direção ao banheiro. Fingi estar dormindo. Enquanto ele se arrumava no closet seu celular tocou, ele veio até a cama conferir se eu estava mesmo dormindo, quando se deu por convencido atendeu o celular.

— Bom dia, meu amor! Já estou pronto, nos vemos no aeroporto — Pude ouvir ele sussurrando. — Não vejo a hora de estarmos juntos!

Há algum tempo atrás essas palavras me quebraram, me deixaram para baixo por vários dias, mas agora não sinto absolutamente nada, não sinto tristeza, decepção, simplesmente nada, e como se fosse um estranho falando ao telefone com sua amada esposa ou namorada, não meu marido conversando com a amante. Em algum momento durante todos esses anos de casamento nosso amor acabou, ou eu me cansei de viver com migalhas, nesse momento tenho mais certeza do que nunca de que quero o divórcio.

Não consegui mais dormir depois que Enrico saiu, antes das sete já estava de pé. A manhã estava nublada, nenhum indício de que o sol apareceria. Fiz meu desjejum sozinha, pois Laura já estava na academia fazendo sua fisioterapia, como o tempo estava ruim não poderia ser no jardim como ela gosta. Sentada sozinha diante dessa mesa enorme me traz uma sensação de frustração, quando me casei com Enrico e viemos morar aqui Laura sempre dizia querer netos, que o sonho dela era ver crianças correndo por aqui, brincando no jardim. Suspiro fundo me livrando desses pensamentos, eles só me deixam com uma enorme insegurança de falar com ela sobre o divórcio.

O toque do meu celular chama minha atenção, o nome da mãe brilha no display, sempre me impressiono como ela sabe quando não estou bem e sempre me liga nesses momentos.

— Oi mãe — Atendo com a voz mais radiante possível. Minha mãe sabe que meu casamento não é nenhum conto de fadas, mas sempre digo a ela que está tudo bem, não quero que ela se preocupe com meus problemas, eles são meus, sou eu que tenho que resolvê-los sozinha.

— Minha filha querida! Como você está? Mamãe está com saudades — Sua voz doce e tranquila me traz uma paz impressionante, minha vontade é chorar e desabafar tudo o que estou sentindo, me seguro e engulo o nó em minha garganta.

— Estou bem mãe, e a senhora? — Minto.

— Você não parece bem, sua voz está cansada, triste, o que foi?

— Eu estou bem mãe, só cansada.

Conversamos por mais algum tempo, ela sabia que eu estava mentindo, mas não comentou nada, muito pelo contrário, ela me contou sobre como está o sítio, seus bichos, minha irmã e meus sobrinhos, no meio da ligação eu já havia esquecido dos meus problemas e estava sorrindo, só mãe tem esse poder sobre a gente, de sentir as nossas emoções e fraquezas. Assim que desliguei a chamada com minha mãe, liguei em seguida para Marina precisava me abrir com alguém sobre tudo o que está acontecendo, ela sempre me ouve sem me julgar e me aconselha da melhor maneira, nesse momento é tudo que eu preciso.

Combino com Marina para irmos jantar em um restaurante de comida japonesa, já que é sua comida preferida. Saio de casa às sete horas da noite, aviso a Laura que estou indo jantar com Marina e outras amigas, e que não tenho hora para voltar, digo a ela que um encontro de meninas que vamos nos reunir para falar da vida. Uma grande mentira já que vamos apenas eu e Marina, mas ela não precisa saber, afinal esse encontro nada mais é do que para desabafar sobre todo sofrimento que o filho dela me causa.

Dispenso Silas e pego um táxi, não quero ficar a noite inteira sendo observada pelo motorista, nem quero que ele conte a Laura todos os meus passos, por melhor que os dois sejam hoje só quero me sentir livre, mesmo que só por algumas horas.

Encontrei Marina em frente ao restaurante, ela chegou antes de mim. Marina sempre foi ansiosa desde que a conheci e assim, sempre chega antecipadamente aos lugares, sempre sofre com antecedência pelas coisas e quando tem algo importante para fazer ela nem dorme, mesmo tomando os remédios e fazendo e seguindo o tratamento à risca velhos hábitos nunca mudam.

— Chegou cedo — Brinco. Ela sorri, um sorriso sincero de uma grande amiga, aquela em quem realmente posso confiar.

— Você quem chegou tarde! — Brinca. O restaurante é pequeno, possui um ambiente discreto e agradável, pedimos uma mesa reservada já que queremos privacidade para conversar. Estava precisando desse momento. Enquanto aguardamos nossos pedidos, começo a desabafar.

— Pedi o divórcio — Os olhos dela se arregalaram, a surpresa brilha ali, mas não como se fosse algo ruim.

— Fico feliz por você Nina, não sei como você suportou isso por tanto tempo.

— Por quê eu o amava, agora acabou — Um alívio me percorre ao admitir isso. — Ele foi para Dubai com a Úrsula, reconheci a voz dela no telefone.

— Não acredito! Então ele aceitou assinar o divórcio?

— Não, ele não aceitou, ficou revoltado, não sei o que fazer Mariana, não aguento mais essa situação. Eu não entendo porquê Enrico se casou comigo, hoje tenho certeza que ele nunca me amou — O garçom se aproxima com uma garrafa de vinho na mão, ele serve minha taça e depois a de Mariana.

— Deixe a garrafa — Digo quando ele faz menção de levar. Hoje quero desfrutar de uma boa bebida.

— Claro senhora — Responde e deposita a garrafa na mesa.

— Enrico namorou Úrsula na adolescência, o pai dele sempre foi contra, não sei o real motivo — Diz Mariana dando de ombros.

— Pelo visto eles não superaram esse romance — Ela concorda. — Quando me lembro que ela foi madrinha do nosso casamento... — Bebo todo o vinho da taça de uma vez, a raiva da traição estava me consumindo.

Desabafar com Marina tirou um peso das minhas costas, colocar para fora todo anseio que estou vivendo com Enrico me deixou mais leve, com mais certeza de que a única saída para nós dois é os divórcio, não adianta tentar salvar algo que não tem salvação.

Marina foi embora, me deixando sozinha eu queria que ele ficasse mais um pouco comigo, mas ela tem um ótimo marido e um casamento sólido, e precisava voltar para casa e aproveitar o restante da noite com ele. A lua cheia estava magnífica enchendo o céu com seu brilho majestoso, um vento fresco sobrava devagar deixando o clima agradável. Saio do restaurante e o meu táxi já está a minha espera na porta.

— Hotel villaggio del palazzo, por favor! — Digo ao motorista, esse é um hotel com um bar incrível um dos melhores da Itália, quero aproveitar o restante da minha noite tomando um bom drink. A última vez que saí sozinha foi antes de me casar com Enrico, minhas amigas na época me levaram para uma despedida de solteira em uma conhecida boate, foi uma noite de garotas, com muita bebida e sorrisos, eu estava feliz todas elas diziam que eu tinha muita sorte, pois iria me casar com o príncipe encantado, um homem que me daria o mundo. Me pergunto o que elas diriam se me vissem hoje, será que ainda acharia que ele é o príncipe encantado? Depois do nosso casamento a primeira coisa que comecei a perder foi o contato com minhas amigas, não sei nem a quando tempo não as vejo. Talvez elas pensem que por que me casei com um homem rico me esqueci delas, mas isso não é verdade, sinto muitas saudades de todas elas, das nossas conversas, da nossa amizade.

O Villaggio del palazzo continua magnífico como a última vez que estive aqui, sua fachada imponente se destaca sobre todos os demais prédios da rua, o roll com um tapete preto que nos dá boas vindas, a decoração digna de uma realeza, não é atoa que esse lugar é o mais caro de toda Itália.

— buona notte, signorina! — Cumprimenta um homem devidamente uniformizado me guiando para dentro.

— O bar por favor — Digo. Ele me acompanha até a porta, abrindo a mesma para que eu entre. O lugar está a meia luz, algumas pessoas conversando discretamente enquanto ouvem um bom Jazz, caminho tranquilamente pelo local e me senti em uma baqueta no balcão.

— Um Negroni, por favor! — Peço ao garçom, enquanto minha bebida é preparada passo os olhos pelo local, meu olhar para em um homem trajando um terno azul que entra ali. Ele anda distraidamente, seu olhar firme e focado a frente como se tudo naquele local pertencesse a ele. Reparo em seu rosto, e o reconheço, e o mesmo homem que vi no hospital. Paro de olhá-lo quando noto que ele vem na minha direção, foco minha atenção na bebida que o garçom colocou a minha frente.

— Um whiskey, per favore! — Pede o homem se sentado na banqueta ao meus lado. Sua voz é grosa, com um toque de delicadeza, pela foram que fala percebesse que teve boa educação.

— Seu italiano e perfeito para um asiático — Digo as palavras que se passaram em minha cabeça, só noto que falei em voz alta quando vejo ele me olhando.

— Vim para Itália com dois anos de idade, falo melhor italiano do que minha língua natal — Responde.

— Qual sua língua natal? — Minha curiosidade fala mais alto.

— Coreano, nasci na Coreia do Sul.

Aquele homem sentando ao meu lado estava chamando minha atenção, desde que me envolvi com Enrico nenhum outro homem despertou meu interesse. Tomo meu drink todo de uma vez dissipando o pensamento.

— Posso te pagar um drink? — A pergunta me pega de surpresa, olho em sua direção encontrando seus olhos sobre mim, como uma águia observando a preza. Penso em negar, em dizer que sou casada, a lembrança de que Enrico está viajando com sua amante me faz aceitar.

— Aceito um whiskey!

Não me recordo a última vez que um homem me pagou uma bebida, ou se houve alguma vez. Eu estava me sentindo jovem em muitos anos, se Enrico tinha o direito de sair e se divertir porque eu também não podia. O homem estava flertando comigo, percebi isso no momento em que seus dedos tocaram os meus. Uma banda tocava um bom jazz, eu queria dançar, mas queria ser convidada por ele.

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