O sol daquela manhã parecia tímido, escondido atrás de nuvens finas que faltavam a luz. Mas, para mim, nenhuma luz seria suficiente para clarear os pensamentos que Ethan havia deixado.
Mesmo acordada, sentia que ele ainda estava lá, nos cantos da minha mente, em cada lembrança de seu olhar, de sua voz baixa e provocante. Por que ele me assombra assim? Por que cada palavra dele fica presa dentro de mim, queimando como fogo? Eu tentei me ocupar. Café, arrumação, pequenas tarefas que costumavam me distrair. Mas cada passo era acompanhado da lembrança dele. Cada som, cada sombra, cada respiração me lembrava da intensidade que ele emanava. Então, como sempre, ele apareceu de novo. Estava caminhando pelo mercado, tentando parecer casual, quando ouvi o som firme dos passos dele. — Olá, Camilla. — A voz dele parecia vir do nada e, ao mesmo tempo, estar dentro da minha cabeça. Eu congelei. — Ethan… — murmurei, e meu corpo respondeu antes da mente. Ele se aproximou, e eu pude sentir o calor que emanava de cada passo seu. Por que meu coração dispara só por ele existir perto de mim? Por que é impossível fingir que não sinto nada? — Você parece ocupada — disse ele, arqueando a sobrancelha com aquele sorriso provocante que já me desconcertava. — Tentando não pensar em você — respondi, tentando soar casual, mas meu tom traiu minha própria mentira. Ele riu baixo, quase um sussurro. — Isso é impossível, Camilla. Eu sinto isso. — Ele parou a poucos centímetros de mim, o olhar penetrante, quase desafiador. — O que te mantém acordada à noite, o que te faz suspirar sem perceber… o que você não diz, mas que eu percebo. Meu peito acelerou. Ele sempre parecia perceber o que eu mais tentava esconder. — Talvez você esteja exagerando — murmurei, desviando o olhar para não encarar o perigo nos olhos dele. — Ou talvez eu esteja certo — disse ele, com aquele sorriso que parecia encher o ar entre nós de eletricidade. Caminhamos juntos pelos corredores do mercado, sem pressa. — Você gosta de me provocar, não é? — disse ele, encostando levemente o ombro no meu. — Eu não provo nada — respondi, mas o sorriso que escapou denunciava o contrário. Enquanto caminhávamos, meus pensamentos corriam descontrolados: Por que ele mexe comigo assim? Por que tudo que ele faz, mesmo mínimo, me deixa vulnerável? E, do outro lado, Ethan pensava também, com intensidade, que quase queimava: "Ela não percebe, mas eu a observo em cada gesto. Cada sorriso, cada desvio de olhar, é como um convite silencioso. Não posso deixar escapar." — Você percebe que me observa, não é? — perguntei, tentando provocar de volta. — Sim… e não posso evitar — disse ele, seus olhos brilhando com algo que me fez tremer de emoção e medo ao mesmo tempo. Mais tarde, sentamos em um café silencioso. O espaço entre nós era pequeno demais para a distância emocional que ainda tentávamos manter. — Às vezes, eu me pergunto por que você é tão difícil de decifrar — disse ele, jogando os cabelos para trás, casual, mas intenso. — E às vezes eu me pergunto o mesmo sobre você — respondi, a voz baixa, quase sussurrando. Ele inclinou-se, tão perto que podia sentir a respiração dele tocar meu rosto. — Você sente isso também, não sente? — disse, os olhos fixos nos meus. — O quê? — minha voz falhou, e ele sorriu, percebendo minha vulnerabilidade. — Isso que nos puxa, que não podemos controlar… — disse ele, e meu coração disparou como se fosse explodir. Eu quero fugir… mas também quero ficar. Quero me perder nele, mas tenho medo de me encontrar. Ele tocou minha mão levemente. A eletricidade foi instantânea. — Você está consciente do efeito que tem sobre mim? — perguntou ele, quase provocando, quase revelando. — Acho que sei… — murmurei, engolindo em seco. — E você sobre mim? — Impossível de ignorar — respondeu ele, com a sinceridade camuflada na provocação. O café parecia desaparecer ao nosso redor. Cada palavra era carregada de tensão, cada gesto carregado de promessas não ditas. Ethan inclinou-se ainda mais próximo, e meu pensamento gritava: "Não posso me deixar levar… mas não quero resistir." — Camilla… — disse ele, quase rouco, — se eu ficasse, você me deixaria? — Talvez… — respondi, a voz baixa, sem coragem de olhar para ele. — Talvez? — Ele arqueou a sobrancelha, provocador. — Eu preciso de algo mais concreto. — Então… fique — murmurei, surpresa com minha própria coragem. Ethan sorriu, satisfeito. — Eu sabia que você não resistiria por muito tempo — disse ele, a voz baixa, carregada de promessas. Enquanto o dia se transformava à noite, a tensão entre nós crescia. — Você sente que isso é perigoso? — perguntei, finalmente confrontei o que ambos estávamos admitindo. — Perigoso? Sim. Mas o que vale a pena na vida não é quase sempre perigoso? — respondeu ele, com aquele sorriso que me deixava completamente vulnerável. O toque dele foi sutil, mas suficiente para deixar meu corpo em alerta total. — Você sabe… — disse ele, baixando o rosto até quase encostar no meu — Eu poderia ficar aqui o resto da noite. — E eu? — murmurei, quase sem fôlego. — Você também ficaria… e eu sei disso. Meus pensamentos giravam em círculos: Ele está me desafiando… e eu quero ser desafiada. Mas até onde posso ir antes de perder tudo que me mantém segura? Do outro lado, Ethan pensava: "Ela tenta resistir, mas não consegue. Cada gesto dela me deixa mais próximo, mais próximo de ter o que desejo — e eu não posso recuar." Quando finalmente nos levantamos para sair, a noite já havia caído. — Boa noite, Camilla — disse ele, mantendo os olhos fixos nos meus — Mas lembre-se: cuidado com o que te puxa. Fiquei parada, sentindo cada batida do coração, cada arrepio. O desejo tinha se tornado impossível de ignorar. A obsessão já batia à porta. E Ethan Vale havia se tornado algo que eu não poderia esquecer, nem resistir.