Capítulo 2
A partir daquele dia, fui marcada como a vilã, a traidora e a cobra que vendeu a própria melhor amiga.

Mesmo depois de me casar com Elliot e dar à luz seu filho, essa mancha nunca se apagou.

E não parou por aí. Elliot contou a versão da história a Owen, sussurrando nos ouvidos de nosso filho, envenenando-o lentamente contra mim.

Owen, um garotinho inteligente e intuitivo, absorveu tudo como uma esponja.

Ou seja, ele acreditou.

E, naquele momento, ao olhar nos olhos dele, vi apenas ódio: bruto, puro, sem disfarces.

Como se eu fosse o monstro debaixo de sua cama.

— Mamãe má! — Disse ele, rangendo os dentes. — Você arruinou a vida da Lila. Se não fosse por você, ela seria minha mãe. Não você.

As palavras arrancaram o ar dos meus pulmões. Eu sabia que ele preferia Lila, mas nada poderia ter me preparado para ouvir aquilo dito em voz alta.

Meu corpo tremeu.

— Quem lhe disse isso?

Ele cruzou os braços, apertando os lábios em um beicinho teimoso.

— Eu descobri sozinho. Quero que a Lila se torne a minha mamãe.

Virei para Elliot, com os olhos ardendo. Não havia como uma criança de sete anos ligar os pontos que nunca lhe foram mostrados. Aquilo tinha sido simplesmente ensinado!

— A Lila só... Acha que, se nada daquilo tivesse acontecido... — Ele murmurou. — Eu teria me casado com ela em vez de você.

A antiga eu teria discutido ou exigido respostas.

Mas não queria bater novamente na mesma tecla. Eu já sabia a resposta: Sempre foi Lila e sempre seria Lila.

Tinha sido a primeira namorada de Elliot e, justamente por minha causa, ele conheceu Lila, pois fui eu quem os apresentou.

Por que ela acreditaria que Elliot se casaria com ela, e não comigo?

...

Mas nada disso importava mais.

O que Owen pensava de mim como mãe já não importava.

O que Elliot pensava de mim como esposa? Isso já tinha morrido há muito tempo.

Eu estava cansada - cansada de ser a vilã numa história em que eu não havia feito nada de errado.

Caminhei em direção à porta da frente, parando apenas para dar uma breve olhada no lugar que um dia chamei de lar. Minha voz estava calma e distante:

— Ligue para o meu advogado assim que assinar os papéis. — Falei sem emoção. — Ficarei no cassino da minha família até que tudo seja finalizado.

A expressão de Elliot se alterou, e foi nesse momento que o pânico, enfim, se instalou.

Ele não esperava que eu realmente fosse embora. Provavelmente achou que esse era mais um de meus "dramas". Que eu ficaria com raiva, choraria e depois o perdoaria após alguns pedidos vazios de desculpas e presentes sem significado.

Ele correu em minha direção, talvez para me impedir, ou para dizer algo que pudesse lhe dar mais tempo.

Mas não teve a chance.

Porque a porta da frente se abriu, como se o destino tivesse escolhido o momento perfeito, e ela entrou.

Lila.

A mulher que eu disse a ele que nunca queria ver em nossa casa novamente.

E ali estava ela, com um sorriso de rainha, parada na porta como se já fosse dona de tudo o que estava atrás de mim.

— Já está indo embora, Olivia? — Ela perguntou docemente.

Antes que eu pudesse responder, Owen passou por mim e se jogou em seus braços.

— Lila! — Ele exclamou, radiante. — O que você está fazendo aqui?

Pausei, olhando para eles, observando aquela pequena reunião, aquele jogo perfeitamente coreografado de calor e familiaridade.

E então, eu me lembrei.

Natal. Anos atrás, na mansão dos pais de Elliot.

Foi a primeira festa que passei com a família dele depois do nosso casamento, uma chance, eu pensei, de finalmente me provar. Eles nunca aprovaram nosso casamento, mas eu esperava que o Natal pudesse ser um recomeço, uma página em branco.

No entanto, em vez disso, deparei-me com Lila, que já estava lá.

Flutuando pela casa como se pertencesse ao lugar. Servindo vinho, distribuindo pratos e rindo com a família de Elliot como se fosse a esposa.

Eu me esforcei naquela noite. Meu Deus, como eu tentei! Sorri, elogiei a comida da mãe de Elliot, me ofereci para ajudar na cozinha…

Mordi minha língua, mantive a educação, tentei me encaixar.

Mas nada disso importou.

Porque quando a Lila caiu, de repente, dramaticamente, bem no meio da sala de jantar. Uma tigela de sopa se derramou e o vinho tinto manchou seu vestido como sangue.

E imediatamente, todos se voltaram para mim, sem demonstrar a menor hesitação.

— Por que você sempre tem que fazer tudo ser sobre você? — Sibilou a mãe de Elliot. — A Lila só estava tentando ajudar. Meu Deus, Olivia, queria tanto que você nem tivesse aparecido... Você sempre estraga tudo.

Ninguém me perguntou o que aconteceu. Nem sequer notou a queimadura em meu braço devido à sopa escaldante.

Eles apenas presumiram e depois julgaram.

E Lila fez o que sempre soube fazer melhor: arregalou os olhos, usou uma voz suave, mas cheia de veneno, disfarçado sob uma camada de culpa.

— Não culpem a Olivia... Fui eu, minhas mãos estavam apenas desajeitadas.

Owen tinha visto tudo. Ele me viu passar por ela. Viu que eu não a toquei. Mas mesmo assim, ele se voltou contra mim.

— Mamãe má!— Ele gritou, envolvendo os braços em torno de Lila. — Por que você empurrou a Lila?

Ele mentiu. Para proteger sua Lila.

Jamais me esqueceria do que aconteceu em seguida.

A mãe de Elliot veio correndo até mim, com sua fúria aguda e instantânea. Em seguida, ela me deu um tapa forte.

— Que escória! — Ela cuspiu. — Aonde você vai, a desgraça segue. Eu avisei para não vir, e agora veja só… O que você fez com o nosso Natal feliz?

Tentei explicar mais uma vez. Como fizera milhares de vezes antes:

— Eu não empurrei a Lila… Ela simplesmente escorregou. Se algo aconteceu, foi porque ela mesma se jogou no chão.

Todos zombaram.

— Certo. — Disse a mãe de Elliot, estreitando os olhos. — Então, agora a Lila está encenando apenas por simpatia? Para quê? Para arruinar você? Por que ela faria isso?

E então veio o golpe final.

— Você não é bem-vinda aqui. Vá embora, agora!

Até mesmo o pai de Elliot, que sempre havia sido tão civilizado comigo, acabou levantando a voz.

— Não aceitamos pessoas loucas sob nosso teto. Quando aprender a se comportar, talvez possamos voltar a falar.

Ainda me lembrava do ar gelado ao correr para fora, com as mãos trêmulas e o rosto queimando de vergonha.

No fim, ninguém me seguiu.

Fiquei lá fora, sozinha, na neve, enquanto do lado de dentro, através da janela embaçada, vi a verdade sobre o meu lugar ali.

Lila sentou-se no sofá, desempenhando seu papel perfeitamente.

Do outro lado, a mãe de Elliot espalhava creme no seu cotovelo, tratando-a com a delicadeza de quem cuida de uma boneca de porcelana. Elliot, por sua vez, segurava Owen no colo, ao mesmo tempo que o menino a fitava como se ela fosse tudo o que existia em seu mundo.

Pareciam uma família.

Um lugar ao qual eu sequer tive o direito de pertencer.
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