Eu mantinha os papéis do divórcio guardados em uma gaveta desde que me lembrava.
Só por precaução.
Não porque eu não amasse Elliot ou não quisesse que nossa família funcionasse.
Eu não era uma tola. Eu tinha percebido os sinais. O distanciamento dele, o jeito como seus olhos se demoravam demais ao telefone ou as súbitas lacunas em sua agenda que ele nunca explicava.
Mas, ainda assim, ele sempre foi um bom pai para Owen.
E, por um tempo, ele também foi bom para mim.
Por isso, eu lhe dei a graça.
Uma segunda chance. Talvez até uma terceira. E, como hoje era nosso oitavo aniversário de casamento, eu disse a mim mesma para esperar, só mais uma vez. Para ver o que ele faria ou se nos escolheria.
Elliot disse que pegaria Owen mais cedo da escola e depois eles viriam direto para casa.
Então, eu cozinhei. Meu prato principal — carne assada, que ele sempre dizia ser seu favorito.
Até comprei o bolo de sorvete favorito de Owen no caminho para casa.
Mas quando o relógio passou da meia-noite, a comida já estava fria há muito tempo. O bolo derreteu em uma poça sem forma.
E então veio a foto. Lila. Sorrindo como se fosse ela quem estivesse celebrando. Radiante. Vitoriosa.
Foi nesse momento que fui até a gaveta e tirei os papéis.
Quando Elliot finalmente caiu pela porta, parou, confuso ao vê-los.
— Você vai me divorciar porque levei Owen para ver Lila? — A mandíbula dele se contraiu. — Você sabe como ela está mal desde que seus pais morreram naquela troca de tiros. Eu lhe disse que ia visitá-la hoje.
— Não. — Respondi, com a voz fria. — Você convenientemente se esqueceu de mencionar isso. Ou talvez estivesse ocupado demais em estar lá para lembrar que eu existia.
Ele suavizou a voz, mudando para sua encenação de sempre:
— Bem. A culpa foi minha. Perdi a noção do tempo. Mas não exagere só porque eu vi a Lila.
Ele se dirigiu à mesa, pegando um prato que não tinha sido tocado:
— Eu cuido disso. Vá descansar um pouco. Amanhã, eu a levarei àquele restaurante que você adora.
Era isso.
O mesmo ciclo, sempre e sempre. Ele desaparecia, esquecia. Depois voltava com palavras doces e um pedido de desculpas bem ensaiado. Fazia o papel do marido perfeito e agia como se nada estivesse errado.
Durante anos, eu deixei que ele se safasse.
Mas esta noite... parecia diferente.
Eu não me movi, nem amoleci, nem sorri e disse: Tudo bem, mas não esqueça da próxima vez.
Em vez disso, fiquei parada.
— Eu já assinei a última página. — Disse calmamente. — Se tiver alguma dúvida, meu advogado entrará em contato.
Elliot jogou o prato no chão como uma criança fazendo birra.
— Já terminou? — Ele esbravejou. — Você estraga tudo ao seu redor miserável, não é? Sempre a vítima. Sempre egoísta.
Fiquei olhando para os cacos no chão.
— Pensa o que quiser. — Eu disse. — Mas não quero mais viver assim.
Ele zombou:
— Não ouse dizer que eu estava errado em visitá-la. Você se esquece de que foi você quem a transformou nisso. Eu e Owen estávamos apenas... compensando ela por você.
Compensando ela por mim?
Pisquei os olhos lentamente.
Por que exatamente eu deveria me desculpar?
...
Eu já chamei Lila de minha melhor amiga.
Crescemos juntas, só nós duas, no início. Unidas como ladras, inseparáveis. Depois, comecei a namorar Elliot e, de repente, éramos nós três.
Três crianças nascidas em cantos diferentes do mesmo submundo.
Minha família gerenciava cassinos.
A do Elliot trafegava drogas.
E a Lila? Seus pais forneciam as armas que alimentavam tudo isso.
Uma vez, anos atrás, a família de Lila organizou uma reunião secreta em um dos cassinos dos meus pais. Um acordo que não era para ser visto por adolescentes.
Mas éramos jovens, imprudentes e curiosas.
Quando Lila disse que queria ir com seus pais ao cassino, não pensei duas vezes. Disse que sim.
Acabamos em um dos salões comuns, só nós duas, tomando refrigerantes, fofocando, rindo por nada.
Até que minha mãe me chamou para algo.
Lembrava-me de olhar para trás ao sair e ver que Lila ainda estava sentada lá, balançando as pernas sobre o sofá de veludo.
Quando voltei, ela tinha sumido.
Presumi que tivesse ido embora com seus pais. Nada de mais. Nem sempre nos despedíamos.
Foi só no dia seguinte que a porta da minha casa tremeu com os punhos de Elliot.
Ele bateu e bateu até que eu a abri, com o rosto deformado pela raiva.
— Como você pôde? — Gritou ele. — Você deu Lila para aqueles bandidos? Tratou-a como uma das putas que sua família leva para o cassino? Ela era sua melhor amiga!
Fiquei ali, atordoada, mal conseguindo processar suas palavras.
Aconteceu alguma coisa com Lila?
Mais tarde, meus pais me chamaram de lado, com vozes baixas e sombrias. Eles me disseram que, de alguma forma, Lila tinha ido parar em uma das salas VIP - uma sala reservada para homens poderosos e perigosos. Um deles tinha se aproveitado dela. Humilhou-a.
Quando seus pais descobriram, exigiram vingança. E acabaram mortos. Assassinados pelo chefe da máfia que tentaram enfrentar.
Mas eu não sabia. Estava em outra sala, lidando com algo mundano e esquecível.
Não tinha ideia do que havia acontecido enquanto eu estava fora.
E Lila contou a todos uma história diferente.
Disse que eu a tinha atraído para lá de propósito, que eu a tinha entregado àquele monstro para agradá-lo. Que tudo fazia parte de um plano perverso, vendendo-a como se ela não valesse nada.
Tentei explicar e me defender.
Mas não havia imagens de segurança. Não havia provas.
Apenas a minha palavra contra a dela.
E, aos olhos de todos ao meu redor, a história da vítima sempre parecia mais convincente.