CAPÍTULO 21
Era engraçado como o som do martelo contra a madeira podia ser reconfortante.
Ritmo, impacto, intervalo. Uma repetição quase terapêutica que preenchia os vãos do meu pensamento. Naquela manhã, os trabalhadores estavam concentrados na estrutura da varanda lateral, e eu havia me isolado em um dos salões do andar superior, onde a luz da manhã entrava com força pelas janelas recém-desobstruídas.
A poeira dançava no ar, suspensa, como se resistisse em aceitar que tudo ali estava mudando.
Eu também estava.
Depois da presença constante de André nos últimos dias e da conversa silenciosa com Miguel na noite anterior, algo dentro de mim parecia se reorganizar. Como se finalmente estivesse aceitando que não dá pra restaurar o passado, apenas aprender a conviver com suas cicatrizes.
Peguei a prancheta, me ajoelhei diante da parede desgastada e comecei a desenhar. Traços suaves, detalhados, seguindo a curva das molduras antigas. Aquela era minha linguagem. Meu jeito de sobreviver às co