DANÇANDO COM MALENA
DANÇANDO COM MALENA
Por: Day Torres
CAPÍTULO 1

-Não posso acreditar que isto está acontecendo! -Angelo murmurou, seu sotaque torceu de raiva, ao subornar o barman para tirá-lo pela porta dos fundos do clube.

Fugir assim não era como qualquer homem com o nome Di Sávallo, mas situações desesperadas exigiam medidas desesperadas, e neste exato momento ele não estava em posição de lidar com a imprensa, com as luzes da câmera, muito menos com perguntas curiosas. Afinal de contas, ele estava lá para umas férias, para relaxar....

-Quando eles vão me deixar em paz?

Ele saiu para o beco atrás do clube, cambaleando um pouco, e o ar da madrugada foi um choque frio que sacudiu as bebidas extras e limpou sua cabeça em um segundo. A temperatura havia baixado consideravelmente desde a tarde e prometia ser um inverno bastante frio. Graças a Deus ele tinha conseguido evitar os repórteres, porque seu irmão Marco arrancava literalmente sua cabeça se uma foto dele em fúria embriagada aparecesse no jornal do dia seguinte.

O nome de família tinha que ser protegido!

Ele sorriu para sua façanha de fuga e olhou para cima e para baixo no beco, sem saber ao certo a que novo clube ir àquela hora. Ele já havia estado em Milão muitas vezes, mas sempre acompanhado por um de seus irmãos e, é claro, nunca teve a brilhante idéia de ir sozinho para uma casa comum que não conhecia.

Ser um dos mestres do Império estava se mostrando um pouco prejudicial ao seu prazer, e se ele acrescentou a isso seu recém conquistado título após a terceira temporada do Campeonato Mundial de Rally, então a conclusão foi que ele não podia mover um pé sem uma horda de paparazzi correndo atrás dele. E não era esse o objetivo de sua viagem.

Ele tinha ido a Milão porque precisava relaxar e se divertir, conhecer algumas garotas fáceis, se divertir e esquecer que sua irmã Flávia estava desencadeando a Terceira Guerra Mundial na casa de sua mãe. Ele tinha ido a Milão porque novembro em Milão foi um mês muito agradável para liberar as tensões de sua vida agitada como piloto de corridas e, de tempos em tempos, como um magnata dos negócios.

O Império Di Sávallo, dirigido por seu irmão Marco, não tinha recebido esse nome apenas pelo gozo de sua existência. Foram necessários anos de esforço e sacrifício para que os seis irmãos construíssem e diversificassem a empresa em um consórcio multimilionário, mas a recompensa tinha sido que, depois disso, cada um deles tinha sido capaz de perseguir o que mais desejava.

Angelo, por sua vez, havia entrado no mundo das corridas de rali, não apenas como piloto, mas também como sócio sênior da empresa de produção Lancia, de modo que em seus trinta anos de idade sua vida foi um turbilhão de decisões.

Ele colocou suas mãos nos bolsos e exalou com resignação: tudo parecia indicar que ele não seria capaz de desfrutar de suas férias se não seguisse o conselho de Marco. Enquanto caminhava distraído, ele pensava nas palavras de seu irmão, ele precisava de uma equipe de segurança para "escoltá-lo".

Até este ponto, Angelo havia recusado com firmeza porque pensava que ter um par de salteadores em cada lado dele o dia todo, dizendo-lhe o que fazer, o deixaria louco, mas era óbvio que ele teria que ceder. A imprensa estava perseguindo-o nos lugares mais impensáveis, portanto ele não tinha outra escolha senão se proteger da insistência deles.

Ele olhou para trás por um segundo, intrigado por um barulho que não parecia vir de longe, mas no beco escuro, pouco iluminado por um par de holofotes, ele não podia nem mesmo ver sua própria sombra.

Isso foi o resultado de uma farra só! E, além disso, em sua pressa de fugir, ele havia esquecido de levar consigo uma das belas garotas que o perseguiam a noite toda.

Já passava das duas da manhã e a cidade estava, inacreditavelmente, em silêncio. Angelo esperava mais movimento de uma metrópole moderna como esta, mas de certa forma o silêncio era reconfortante. Havia sempre muito barulho ao seu redor, a qualquer hora do dia, e momentos como este não tinham preço.

No entanto, muito silêncio também não augurava nada de bom. Ele retomou seu ritmo, tentando chegar o mais rápido possível ao final da rua, o que o levou a uma avenida bem iluminada onde com certeza encontrou um táxi, mas um empurrão violento o bateu contra um muro a vinte metros de seu objetivo.

-Se você se move, você é um homem morto! - disse a voz fria e cascalhenta atrás dele.

No entanto, quando as mãos o agarraram pela parte de trás do casaco e o giraram, Angelo quase desatou a rir. O pequeno ladrão não tinha mais de 1,80 m de altura, magro e gangster, com olhos afundados, lábios trêmulos e uma expressão de fome que o fazia sentir mais piedade do que medo.

Era evidente que ele devia estar muito desesperado para ameaçar uma pessoa assim. Com mais de dois metros de altura, e com uma construção visivelmente poderosa que ainda era visível sob o enorme casaco, teria sido canja para o corredor deixar o homenzinho completamente inconsciente; mas duas coisas o impediram de se defender naquele instante: a primeira foi a faca que raspou sua garganta, e a segunda foi a mulher que de repente parou no cruzamento do beco e da avenida.

Angelo não pôde deixar de focalizar toda sua atenção nela enquanto o ladrão lhe revistou os bolsos. Ela parecia hesitante, expectante, como se estivesse prestes a correr, e ele continuava contando os segundos que levava para ela começar a gritar. Era o reflexo de uma mulher gritar para tudo!

Contradizendo suas suposições, ele a viu se agachar lentamente e a colocar as mãos em seus pés, como se estivesse brincando com seus sapatos. Será que ela poderia ser cúmplice do atacante? Estaria ela atenta para garantir que ninguém o socorresse no último minuto? Qualquer coisa poderia ser possível, embora a menina estivesse muito bem vestida para ser assistente de um criminoso comum.

-Seu relógio! -O ladrão o incitou, e Angelo instintivamente colocou sua mão em seu pulso para proteger as jóias.

Que Rolex tinha sido um presente de sua mãe para seu primeiro campeonato mundial e não estava prestes a perdê-lo, mas a frieza aguda do aço contra sua pele o dissuadia de permitir que ele fosse arrancado.

-Deixe por alguns minutos", disse ele com uma voz gelada. Eu o recuperarei assim que você tentar dar um passo de distância de mim.

Apesar de sua ameaça, não havia medo aos olhos do agressor, apenas desespero mudo. Será que ele pretendia matá-lo? Se assim fosse, ele logo descobriria que quebrar um Di Sávallo não era uma questão simples; mas os pensamentos de Angelo foram momentaneamente interrompidos por um leve gesto da mulher, que ainda estava de pé no beco.

Ele a viu remover sua grossa gabardine preta com um movimento sutil e a deixou cair no chão sem um murmúrio. Então ela tirou seus saltos de treze centímetros e... era isso que ela estava fazendo? Desatar seus sapatos?

Ela estava vestindo um vestido azul tempestade que expunha seus ombros e fazia delicadas pregas nos quadris. Ela nem sequer chegou ao joelho, portanto seus movimentos não foram impedidos, pois ela correu para ela com a agilidade e o silêncio de um felino atacante.

Descalço, gracioso, e tão misteriosamente belo que Angelo não podia fazer nada além de assistir com fascínio. Esta mulher era apenas mais uma sombra da noite, uma imperceptível rajada de ar, deslizando sobre as pontas de pés delicados, quase aéreos, envoltos em um silêncio fantasmagórico.

Quando o mais leve "clique" da faca desdobrável soou, não houve fuga para o ladrão. Apertada firmemente contra as costas, ela o segurou imóvel, uma mão segurando seu queixo e a outra delineando a curva de sua garganta com a lâmina de barbear.

-Ninguém lhe disse que a esta hora da manhã as crianças deveriam estar em casa? -Disse ele com uma voz suave, musical e com um leve sotaque estrangeiro. Se você vai fazer algo assim, então seja o melhor, senão deixe isso para os profissionais.

O homenzinho estremeceu por um segundo e Angelo se perguntou se ela era uma das profissionais. Era comum que os criminosos lutassem por terrenos de caça, mas...

-Teria a gentileza de parar de ameaçar o cavalheiro? Senão terei que ficar um pouco... violento, sabe?

O ladrão deixou cair a faca enquanto prendia a respiração.

-Agora quero que você devolva todos os seus pertences ao mestre", ele ordenou com tanta delicadeza que parecia mais um pedido do que um comando.

Angelo recebeu suas coisas, colocou seu relógio de volta e não pôde deixar de sorrir. A situação era tão incomum, tão louca! Ele olhou para ela com nitidez, mas ela parecia nem notar sua presença, ela estava completamente absorvida no colarinho que segurava.

-Muito bem, querida. Você gostaria de ir agora, ou prefere ficar e brincar um pouco mais com a gente?

-Não... não, senhora..." foi a resposta de parada do pobre homem. Eu... eu... eu vou...

-Espere! -Angelo o deteve.

Ele não sabia por que o fazia, mas pegou todo o dinheiro que tinha na carteira e o colocou no bolso da frente do casaco usado do ladrão.

Só então ela levantou a cabeça e olhou para ele por um longo segundo, seus olhos marrons o furaram, questionando-o e ao mesmo tempo se orgulhando, com uma expressão insondável, e no espaço de um piscar de olhos ela lhe deu um sorriso.

-Vocês podem ir agora. -Primeira vez, ela consentiu, mas ao soltar o homem, ela desenhou com precisão um fino corte na parte de trás do pescoço, manchando a lâmina com sangue.

Angelo mal teve tempo para reagir e fingiu um movimento para detê-la, mas um olhar de aviso zangado o deteve em seu rastro.

- Da próxima vez que você pensar em roubar alguém", disse ele enquanto o homem colocava a mão na parte de trás do pescoço, com medo de que o seu hálito se enroscasse, "pense que isso poderia acontecer novamente, e que seu oponente não o deixaria escapar tão incólume quanto eu.

A insinuação foi clara, e o pequeno ladrão correu com todas as suas forças em direção à avenida iluminada. Mas no meio de seu vôo ele parou de repente, abaixou-se, pegou os mackintosh e os sapatos que a mulher havia deixado no chão, e se perdeu na noite, deixando-os estupefatos.

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