Capítulo 2 - Reencontros

     Do outro lado do portal, o que viram foi uma visão que unia o passado, as ruínas do Parthenon, e uma construção com aspectos futuristas e mágicos ao mesmo tempo.

     O complexo do Conselho das Eras era ainda mais belo e imponente que na foto ou nas gravuras que conheciam.

     Eles estavam de frente para a Amm Them, a torre sul -- a menor das cinco, tinha a altura de um prédio de vinte andares.  Amm Thekra e Amm Thax, as torres que ficavam à direita (oeste) e à esquerda (leste) eram maiores que a anterior e tinham ambas trinta andares.

     No meio do terreno havia a maior de todas as torres, Adythemynnyn, o Conselho das Eras e todos os seus impressionantes cento e trinta andares e um disco giratório gigantesco que cobria quase todo o terreno, girando incessantemente emitindo luz e melodias suaves e maravilhosas através de suas cordas mágicas.

     Caminharam na direção da escadaria que os levaria para o complexo.  Foi então que o grupo notou os jardins e conseguiram ver a ultima das torres:  Amm Thyr, a torre norte.

     Pessoas caminhavam sobre calçadas invisíveis para quem olhava do térreo, indo de uma torre à outra, praticando feitiços, conversando, lendo, fazendo anotações com canetas encantadas.

     -Uau!--Adam foi o único que conseguiu produzir algum som.

     Os jardins eram outra maravilha.  Cada um tinha plantas diferentes, e como já era de se esperar eram plantas que não tinham visto ainda em suas vidas, nem mesmo no castelo de Zabareth.

     -Cada jardim representa um elemento, isso dá para notar:  ar, fogo, terra e água, mas ainda faltam os outros três elementos...

     -Os outros três estão presentes de outra forma:  a luz é emanada pelo disco que gira lá em cima.--apontou para o objeto.--a escuridão refere-se ao conhecimento, ao desconhecido... e o poder, bem esse acho que é auto-explicativo, não é? --Jules foi interrompido por uma simpática e sorridente senhora que passava por eles com uma pilha flutuante de livros grossos e de aparência pesada.

     -Acho que isso explica um pouco...--zombou Adam, provocando risos do grupo.

     -Senhora...  espere...--ela virou-se para Damien.

     -Pois não, querido.

     -Onde posso encontrar Awan Addryon Zabareth?

     -Ora, onde mais senão na torre central.  É onde todos os conselheiros estão.--respondeu ainda com a mesma simpatia e continuou seu caminho em seguida.--me desculpe...  estou atrasada para dar aula, se quiserem podem me acompanhar, vou passar por lá de qualquer forma.--disse sorridente.

     -Muito obrigado.--agradeceu Damien.

     -Não há de quê, meu querido. É a primeira vez de vocês no Conselho das Eras?

     -Sim. Até bem pouco tempo nem sabíamos que éramos magos.

     -Que interessante. Eu sou Odala, ensino feitiços defensivos na torre Norte.

     Enquanto cada um se apresentava para a simpática senhora, iam sendo apresentados por ela ao complexo de torres do Conselho das Eras.

     No caminho, cruzaram com um grupo de estudantes que se divertia com uma espécie de jogo mágico. Notaram inclusive que não era o único grupinho que se divertia com o jogo.

     -Garytheaa [pronuncia-se:  garrifeáa - sem tradução] é um joguinho muito popular entre muitos alunos aqui, vêem aquele rapaz na frente? Ele arremessa um ponto de luz e os outros usam varinhas para tentar capturá-la.  A cada arremesso a luz muda de cor por conta própria, não tem como saber qual será a próxima cor. Cada luz dá um diferente número de pontos dependendo de sua cor. Notem que cada jogador tem um bracelete e nele os pontos são somados automaticamente. Quando aparecer uma luz de três cores quem capturar ganha os pontos de cada luz e o jogo termina. Nem preciso dizer que quem tem mais pontos é o vencedor, não é mesmo?

     -Precisamos comprar umas varinhas dessas para tentar jogar qualquer dia desses.--falou Adam entusiasmado.

     -Sabia que ele ia propor isso.--reclamou Nathy.

     Mais à frente outro grupo treinava artes marciais com magias, eram visivelmente supervisionados de perto por homens e mulheres vestindo um uniforme diferente, como se fossem seguranças.

     -Monitores... é extremamente necessário quando estudantes querem treinar. Eles evitam que acidentes aconteçam, somente alunos muito avançados podem se candidatar a vaga de monitor.--falou séria.--É aqui que deixo vocês. Vou fazer a volta pela torre, minha turma me espera. Boa sorte para todos...  Ondaryamadl.

     Virou-se e nem deu tempo para que os cinco pudessem se despedir.

     Passaram pelo belíssimo arco da entrada da torre e entraram em um enorme saguão de chão de mármore de diversas cores que formava desenhos geométricos, havia várias plataformas de vidro que subiam e desciam ao centro sem a ajuda de nenhum cabo ou engenhoca.

     “Que máximo!”--pensou Damien.

     De frente para cada um dos quatro arcos de entrada, próximo às plataformas tinha balcões com atendentes dando informações.  Damien se aproximou do balcão enquanto seus amigos olhavam em volta as esculturas, quadros e até mesmo as outras pessoas que estavam ali.

     -Bom dia.

     -Bom dia, senhor.  Em que posso ser útil?--perguntou uma jovem de cabelos exageradamente vermelhos, cacheados e muito longos, parecia ser apenas poucos anos mais velha que Damien.  Vestia a mesma túnica verde com adornos prateados que os outros atendentes.

     -Estou procurando por Awan Addryon Zabareth, onde posso encontrá-lo?

     -Um minuto.--apertava freneticamente a tela transparente com a ponta dos dedos os textos iam mudando a cada pressão.--ele se encontra em seus aposentos, vou anunciá-lo, qual é o seu nome?

     -Damien Forst.--ao mesmo tempo que ela se espantou abriu um largo sorriso, e rapidamente colocou um dispositivo na orelha que lembrava um fone com microfone usado em computadores.

     -Vou avisá-lo imediatamente, solicitarei que um de nossos guias o acompanhe até a sala de espera no segundo andar.

     -Não estou só.--ela sorriu e respondeu com verdadeira simpatia.

     -Eu sei, Sr. Forst.

     Minutos depois estavam todos confortavelmente sentados em um grande sofá no segundo andar da torre aguardando o tal Addryon Zabareth chegar.

     O estômago de Damien revirava de ansiedade durante a espera.

     A porta de vidro da sala se abriu, ele estava de costas enquanto quatro pessoas, duas senhoras e dois senhores entraram.  Um deles, de olhos verdes claros, cabelos bem brancos com pouquíssimos fios pretos vinha à frente, com uma túnica cinza.  Ele viu o rapaz de cabelos negros, compridos até o meio das costas, de costas virar-se lentamente.

     Os dois se encararam, no primeiro instante sérios, aos poucos um riso de felicidade foi aparecendo no rosto de ambos.

     -Damien?--perguntou com uma voz rouca, já alterada pela emoção do momento.

     -Vô James.--o jovem olhou para os que estavam atrás.--Vô Xavier...  vovó Virgínia...  vovó Sandra.--todo o peso do mundo pareceu se diluir do ombro de Damien.

     -Olá, meu neto.--respondeu Xavier com sua grave voz.

     As duas matronas desabaram em um choro conjunto e apressaram-se na direção do neto até então desaparecido.  James e Virgínia eram pais de Richard, enquanto Xavier e Sandra eram pais de Adriana, a falecida mãe do jovem Forst.

     Passado o momento em que as duas perguntavam insistentemente se ele estava se alimentando bem, se o trataram bem, e avaliaram-no muito magro, no entanto ainda mais bonito.

     Em seguida fizeram o mesmo para Kate.  Os dois avôs não tiveram nem chance de falar nada, mesmo assim ainda tentavam conversar com o neto.

     Após a confusão Damien prosseguiu.

     -Esses são meus amigos, Adam, Jules e Nathalie.

     -Minha querida Nathy, sua avó vai ficar felicíssima em saber que está bem.--falou James.

     -Ela está aqui?

     -Sim, sim!  Claro que está, mas venham...  vamos para os meus aposentos, onde poderemos conversar com mais calma.--James foi até o telefone e pronunciou algo inaudível para os outros enquanto iam saindo da sala.--Como fizeram para chegar até aqui?

     -Portal.--respondeu prontamente.

     -Bem...  pelo menos seu pai não vai mais precisar guardar segredo de nada.--brincou Xavier.

     -Então o tal segredo era que eu e Liz somos magos mesmo?

     -Exatamente.--caminharam na direção da plataforma.  Sandra imediatamente agarrou o braço de Xavier e aproveitou para segurar o de Damien também e sussurrou em seu ouvido.

     -Eu detesto esses elevadores daqui.  Não me sinto nada segura.--Damien sorriu.

     -E ele, onde está?--queria saber de seu pai.

     -Só sabemos que ele saiu em busca de vocês dois.--falou James.--E Liz, você chegou a encontrá-la?

     -A única coisa que sei, e nem tenho certeza se é verdade é que ela é uma moderxyre agora.

     -As coisas estão piores do que imaginávamos.--sussurrou Xavier.

     -Não consigo entender porque meu pai escondeu isso de nós por tanto tempo.

     -Acho, meu neto, que só ele vai poder te dar uma resposta satisfatória.--falou Virginia acariciando os cabelos de Damien.--Você devia cortar esse cabelo...  ficaria muito mais elegante.

     -Estou bem assim, vovó.--respondeu olhando para os amigos, que olhavam para os andares enquanto o elevador se aproximava de uma parte onde havia apenas espaço para passar o elevador.

     Após contar todos os detalhes que tinha acontecido dentro do Instituto Bouloud, fizeram uma pausa.  Prosseguiram em seguida, após um farto lanche preparado pelas matronas, contando sobre o ocorrido no castelo de Zabareth. Durante todo o monólogo de Damien, com algumas intervenções raras de seus amigos, os anciãos prestavam atenção em cada detalhe.

     -Ele o fez procurar pela pirâmide de Zabareth?--perguntou James apreensivo.

     -Sim.  Mas ao chegar lá, depois de passar pelos desafios fiquei sabendo da verdadeira história de nosso ancestral e então não o soltei de sua prisão.

     -É...  a única coisa que trouxe foi...--foi interrompido por Jules que pousou a mão em seu ombro e fez um sinal negativo discreto com a cabeça.  Damien lançou-lhe um olhar que o fez sentir que apoiava a decisão de Jules.--dente, saliva, sangue e pêlo de lobisomem.--pensou rapidamente em uma saída.  Felizmente para ele, seus avós não perceberam que tinha algo que não havia sido contado.

     -Isso é tranqüilizador.--falou Xavier.

     -É...  mas minha irmã pode soltá-lo ainda.

     -Não acreditamos que ela o fará.  Anthonymws poderia apenas com um gesto eliminar todos os moderxyre se assim ele quiser.--James parecia ter total certeza de que isso não aconteceria.

     -O fato é que temos mais um Zabareth na família.--falou Damien animado.

     -Temos?  Quem?--os dois conselheiros perguntaram juntos.

     -Adam.

     -Como assim?

     -Eu o declarei meu irmão antes de entrar na pirâmide, mas isso só nós sabemos, não é?--sorriu.

     -Em drommyazl?--Damien balançou positivamente a cabeça para seus avós.

     -Bem vindo à família então!--animou-se Virgínia.--Acho que vou fazer meus famosos cookies para comemorar, o que acha Damien?

     -Excelente idéia!

     Era tarde da noite, o céu estava estrelado, e da varanda de James via-se toda a ala norte do complexo do Conselho das Eras.

     Damien admirava solitariamente o horizonte enquanto Adam, Jules e Kate dormiam cada um em um quarto depois de se empanturrarem dos biscoitos de Virginia Forst.  Nathy tinha ido até o apartamento de sua avó prometendo retornar na manhã seguinte.  James se aproximou de seu neto.

     -Como você está, Dam?

     -Tranqüilo agora que estou com vocês.  Mas...  sinto saudade de Liz e do papai.

     -Tenho certeza de que ambos estão bem.

     -Eu quero voltar lá.

     -Mas Damien...

     -Eu tenho que ver com meus próprios olhos que a Liz se tornou uma deles.

     “Será que era isso que a Visão de Richard e Adriana mostrava...  Liz se tornando uma inimiga?”--James ficou com o semblante contemplativo.

     -Vovô?!

     -Tem certeza que você quer ir mesmo?  Por que eu tinha outra coisa para te falar.

     -E o que é?--Damien olhou para o avô curioso.

     -Eu queria que seu pai fizesse isso, como eu tive o prazer de fazer com ele quando ele atingiu a idade, mas acho que não tenho escolha.--James encarou Damien nos olhos.--Você está em uma idade que pode optar por dois caminhos:  um deles é entrar para as aulas de magia aqui do Conselho.  Os ambientes são controlados por magos extremamente talentosos e poderosos, o que diminui as chances de ocorrerem acidentes.  O outro caminho seria se tornar um peregrino, ou um andaryll [pronuncia-se:  Andarríl.] como chamamos.

     -E qual é a diferença?

     -Sendo um aluno do Conselho você desenvolverá seus talentos, mas por ser um ambiente controlado em uma situação de necessidade poderá não estar preparado o suficiente, é quase como estudar a teoria, mas não ter a prática.  Por outro lado, o risco de ser um andaryll é altíssimo, contudo as chances de se tornar um mago extremamente apto para qualquer situação é muito maior.

     -Você optou por qual caminho, Vô?

     -Nenhum dos dois, eu fui treinado por meus pais, magos excepcionais.  Meu pai era um alto-mago, e conselheiro também aqui, na verdade eu herdei dele a cadeira no conselho.

     -E meu pai?

     -Seu pai é um mago extremamente poderoso, Damien...  ensinei muita coisa para ele durante a infância e a adolescência, mas ele se tornou um andarilho depois.

     -...-Damien se limitou a lançar um sorriso para James.

     -Pela sua atitude percebo claramente qual será seu caminho.  Acho, então, que seria melhor iniciar o quanto antes.  Voltar ao Instituto agora, pode ser prejudicial.

     -Mas eu tive treinamento antes.

-Sim, Damien... mas foi um treinamento muito rápido e básico. Enfrentar os moderxyre, é enfrentar um exército de elite, meu neto. Por mais talentoso que seja, você não tem preparo para uma situação dessas. Podem não ser muito poderosos individualmente, mas em conjunto é outra história. Façamos o seguinte, vou m****r apenas os Guardiões isolarem o local enquanto você procura ao menos os primeiros mestres e depois vamos investigar juntos. Está bem assim?

     Damien tornou a olhar para o ponto onde o céu toca o chão, ficou imaginando a sua irmã.

     -Parece que o destino está evitando que nós nos reencontremos...  mas tudo bem, entendo que seria melhor assim.  Por onde devo começar?

     -Primeiro com uma boa noite de sono...  amanhã vai ser um dia muito especial.

     -Por quê?  Só porquê vou me tornar um peregrino.

     -Você entenderá melhor depois...  vamos considerar isso uma surpresa, tenho certeza de que vai gostar muito.-James deu um sorriso malicioso.

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