Antoni Armandi
Encaro a pequena garota descendo as escadas, os pés descalços tocando suavemente cada degrau, o tecido da minha camisa batendo no meio de suas coxas, larga demais para ela, o que só reforçava o contraste delicado daquela cena. Por mais estranho que parecesse, algo dentro de mim se aquecia ao vê-la ali — não apenas pela presença dela em minha casa, mas pela naturalidade com que ela se encaixava naquele espaço.
— Ela dormiu? — perguntei, assim que se sentou ao meu lado no sofá, com a mesma leveza de quem já fazia parte daquela sala.
— Dormiu sim — respondeu com um tom calmo e baixo, quase cúmplice. — Deixei tudo organizado lá em cima e deixei um abajur aceso pra ela não acordar no escuro.
Assenti, observando a tranquilidade com que ela falava, como se cuidar de Kira fosse algo natural, instintivo.
— Quer um chá? Camomila? — ofereci, meio sem pensar. Talvez quisesse apenas uma desculpa para prolongar sua presença por ali, mais alguns minutos, quem sabe horas.
Ela riu com