Contrato Vitalício - Como não conquistar um CEO.
Contrato Vitalício - Como não conquistar um CEO.
Por: Autora Nalva Martins
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Samanta

Para uma família com o alto escalão e dona de uma rede farmacêutica reconhecida no mundo inteiro o ideal seria nascer homem e assim assumir as empresas sem ser observado pelos olhos julgadores dos associados o tempo todo. Infelizmente Hugo Morissette – meu pai não teve essa sorte. O jovem CEO descobriu muito o cedo o sucesso de criar um dos melhores laboratórios e acabou se casando muito cedo também. Uma linda história de amor que eu conheço de cor. Contudo, uma história bem curta também, pois Leslie Morissette morreu na sala de parto. Ou seja, eu deveria ser duas vezes menos indesejada, mas o presidente da Morissette LTDA nunca me menosprezou por roubar a vida do seu grande amor e menos ainda por eu ter ousado nascer menina. Pelo contrário. Ele se doou para me educar e me amou incondicionalmente ao ponto de não se casar outra vez. Portanto, como gratidão me empenhei a vida inteira para lhe agradar. Fiz um curso de administração, outro de empreendedorismo e estudei três línguas estrangeiras. Tudo para ser o seu orgulho e me tornar a melhor presidente que essa rede industrial já teve. Estão se perguntando se eu consegui? Quase. Sabe o fator nascida mulher? Pesou um pouco, pois os assédios masculinos caíram como uma onda gigante sobre a minha cabeça e logo me vi apaixonada, e isso me distanciou um pouco do meu propósito. Mas não vamos entrar nos detalhes sórdidos dos meus erros e sim dos meus acertos, porque nesse exato momento estou dando alguns passos largos pelo corredor comprido, que me levará a sala de Hugo Morissette. O motivo? Já tem algumas semanas que ele fala em aposentadoria e em viagens. E o que isso quer dizer? Que logo estarei sentada no seu lugar comandando todo esse universo e fazendo tanto sucesso quanto ele fez. Portanto, com um sorriso profissional eu levo a mão a maçaneta da porta e assim que adentro o seu amplo e bem iluminado escritório vou ao seu encontro para beijar-lhe o rosto.

— Bom dia para o pai mais lindo desse mundo! — sibilo amorosamente e acredite, não é falsidade. Papai e eu temos um relacionamento pai e filha perfeito. Ele conhece tudo sobre a minha vida, principalmente um fato que eu pretensiosamente mantenho escondidinho lá no fundo de um poço escuro. Devo dizer que foi um grande... grande não. Um enorme erro que pretendo não cometer mais. No entanto, o Senhor Hugo Morissette se manteve firme do meu lado e os seus conselhos muito bem-vindos foram prontamente ignorados. Confuso? Basta saber que eu sei exatamente do que estou falando. — Mandou me chamar?

— Mandei. — Ele faz um gesto para eu me sentar, mas só faço isso após deixar outro beijo carinhoso na sua bochecha. Ok, vamos nos preparar para a boa notícia do dia. — Não é novidade que pretendo me afastar da empresa definitivamente. — Não, não é. Penso ansiosa pela continuação dessa conversa. — Você sabe, longos anos preso a essas quatro paredes e me dedicando unicamente a você. Eu não estou reclamando. Sabe disso, não é? — Meu sorriso se alarga.

— Eu sei disso, pai.

— Ótimo! Filha, eu sei o quanto você se preparou para esse momento. O seu desempenho não passou despercebido aos meus olhos em nenhum momento. Você é simplesmente fantástica no que faz! Essa sua força, a sua autoridade, o jeito como resolve as coisas e como pensa... — Agora me diz se não é satisfatório ouvir tantos adjetivos da boca do seu próprio pai? Confesso que estou quase redonda de tanto inflar. — Mas... — O quê?! De onde veio esse, mas?! O que ele quer dizer com, mas?

— Mas?  

— Eu preciso de mais.

— Como assim precisa de mais, papai?

— Querida, você já fez vinte e três anos, está formada, e preparada para assumir uma empresa de grande porte como essa.

— Por que estou sentindo que vem algo bem desagradável por trás desse mais? — ralho. Ele solta uma respiração profunda, se levanta da sua cadeira e vai para perto de uma parede de vidro transparente.

— Relacionamentos. — Reviro os olhos para essa palavra. — Você sabe o que quase aconteceu da última vez.

— Papai, você não precisa se preocupar com isso. — Me levanto e vou ao seu encontro. — Eu não pretendo me casar...

— Como não? — Ele me interrompe bruscamente. — Eu quero ter netos, Samanta! — Sorrio confiante.

— Nada que uma adoção não resolva, papai.

— Você não entendeu. Eu quero netos legítimos.

— Pai, vê não fode!

— Olha essa boca suja, mocinha! — Ele rosna mal-humorado e eu bufo em resposta. — Você quer muito assumir a Morissette LTDA, não é?

— Você sabe que sim.

— Ótimo! Então me traga um marido.

— O QUÊ?! — grito a indagação.

— Mas, eu não quero qualquer marido, Samanta Morissette.

— Pai, se isso é algum tipo de brincadeira...

— Eu não brinco quando o assunto é a minha única filha e essa empresa! — Ele brada me deixando extasiada. — Eu preciso ter certeza de esse patrimônio estará seguro, Sam e para isso você tem trinta dias para me apresentar o marido perfeito. — Abro a boca para rebater uma malcriação, mas o seu telefone começa a tocar e ele faz um gesto de mão me pedindo para esperar. — Eu preciso atender, filha.

— Como assim? Essa conversa ainda não acabou!

— Você tem razão. Então lá vai. Se você se recusar aos meus termos, eu ficarei feliz em torná-la vice-presidente da Morissette LTDA e o seu primo Erick assumirá a presidência definitivamente. — Mais uma vez penso em rebater, porém, ele me dar as costas e atende o maldito telefone. — Erick, meu querido! Estávamos falando de você agora... — Solto um grunhido irritado e saio pisando duro do escritório, direto para a minha sala. Assim que entro bato a porta com força e me sento na minha cadeira, girando-a de frente para uma parede de vidro e fito a nebulosa Seattle em um dia chuvoso.

— Ele não tem o direito de fazer isso comigo! — sibilo baixo, segurando uma explosão.

— Samanta Morissette, se antes existia alguma dúvida sobre os seus dotes persuasivos, agora eu não os tenho mais. — Emily ralha invadindo o meu escritório, provavelmente abraçada ao seu tablet de estimação. Impaciente, reviro os olhos. Emily Green é a minha melhor amiga dos tempos do colegial. Ela é uma garota bem tagarela e gosta de falar sobre tudo o que pensa, principalmente sobre o seu relacionamento maluco com Tyler Harris. Ela é também a garota que me aguenta porque eu sei que às vezes eu posso ser um pouquinho difícil desde que... Enfim, sempre que estou na merda, é para ela que eu corro. — Acabei de receber o e-mail da D’angelo Corporation e advinha? — Giro a cadeira para olhá-la com interesse no assunto. — Eles querem uma reunião amanhã de manhã. — Abro um sorriso amplo.

— Isso é perfeito! Quem sabe essa parceria fará o meu pai mudar de ideia?

— Ideia? Que ideia?

— Papai quer que eu me case.

— O quê?

— Ele pensa que uma mulher sozinha no controle não é capaz de administrar uma empresa. Puro machismo!

— Você sabe que não se trata disso, não é?

— Uma vez! Eu errei apenas uma vez e juro que aprendi com o meu erro. Quem ele pensa que é para determinar o que devo ou não fazer?!

— O dono da porra toda? — Ela ralha e enfia a cara no seu tablet. — Você já viu a família D’angelo?

— E isso é importante? — rebato com nítida irritação.

— Gente, Heitor D’angelo é uma perdição de bonito! — Ela continua com os seus comentários, ignorando a minha rabugice. — A esposa dele é muito linda! Olha para essa pele de pêssego! — bufo audivelmente e volto a girar a minha cadeira de frente para a parede. — O casal tem três filhos, você sabia disso? Quê que isso, gente!

— Você não vai parar, não é? — ralho incomodada.

— Já viu a carinha de bebê desse Ethan D’angelo? Ele é o deus da perdição. Eu não pegava, simplesmente o devorava.

— Seu namorado sabe desse seu desejo descabido pelo primogênito D’angelo!

— Quer ver essa lindeza?

— Não tenho interesse, Emily!

— Eu tenho certeza de que o seu pai o aprovaria.

— Não importa, porque eu não vou me casar!

— Você sabe que nem todos são como ele, não é?

— Que se foda! Eu vou mostrar para esses machistas de merda do que uma mulher como eu é capaz!

— Ok, entendi, você hoje está impenetrável. Que tal sairmos essa noite? — Volto a fitá-la. — Dançar, hum? — Ela se remexe em cima da cadeira me fazendo abrir um meio sorriso. — Prometo que vamos beber até as nossas pernas tremerem e perdemos a consciência.

— Meu Deus, você é louca!

— Topa? — Ela ignora o meu comentário e o meu sorriso se amplia.

— Topo!

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