Capítulo 20 — Vicenzo
Ela pediu para ficar sozinha. As palavras ainda me queimavam a pele como sal em ferida. Aurora pegou a bandeja vazia nas mãos, o rosto pálido e os olhos tristes. Olhou para mim por um instante que durou uma eternidade e disse, em voz baixa e contida.
— Preciso ficar sozinha, Vicenzo. Vou para o quarto.
Não tentei segurá-la. Não naquele momento. Havia muita coisa em volta. Minha mãe respirava pesada nos olhando da porta. Henrique nos olhava espantado logo atrás da minha mãe, funcionários nos espiavam achando que estavam escondidos. A casa inteira parecia uma panela de pressão prestes a explodir. Eu a vi entrar na ala de funcionários sem olhar para trás. A imagem dela recuando pelo corredor me doeu mais do que qualquer grito.
Passei a manhã inteira no meu escritório fingindo presença em reuniões e decisões estratégicas, mas a verdade é que não fiz mais do que pensar nela. Quando o relógio marcou a hora do almoço, ela não estava servindo.
— Cadê a Aurora, o que fez