Contratei uma Babá e ela era Minha Noiva Fugitiva
Contratei uma Babá e ela era Minha Noiva Fugitiva
Por: Kayla Sango
Capítulo 1

— Eu nunca fui tão humilhada na minha vida! — A mulher que acabara de sair da sala de entrevistas praticamente gritou isso ao passar pela recepção como um furacão.

As outras candidatas se entreolharam. Algumas ajeitaram a postura. Outras checaram os currículos pela décima vez. Todas pareciam prontas para desistir.

Eu? Eu estava sentada numa cadeira desconfortável demais para um prédio tão chique, com uma barra de chocolate meio derretida na mão, que eu beliscava compulsivamente porque meus nervos estavam em frangalhos.

Calma, Mareu. Você consegue.

Mentira. Eu não conseguia. Mas também não tinha escolha.

Minha amiga Clara tinha me arranjado essa entrevista para digitalizar papelada no RH da empresa onde ela trabalhava. Algo temporário, entediante, mas era dinheiro. E era melhor do que continuar dormindo no sofá apertado dela, comendo miojo.

Ouvi a mulher ao meu lado suspirar alto e murmurar para outra candidata:

— Não sei se vale a pena tudo isso por uma vaga de babá de duas crianças birrentas...

Minha cabeça girou tão rápido que quase quebrei o pescoço.

Espera. Crianças? BABÁ?

A recepcionista tinha me mandado para a sala errada! Peguei a bolsa do chão com a mão livre, pronta para sair dali. Eu não fazia a menor ideia de como cuidar de criança — mal cuidava de mim! Tomara que ainda desse tempo de achar a entrevista certa.

Droga, tudo estava dando errado!

Mas para ser honesta, nada mais parecia dar certo na minha vida depois de Rafael, o golpista que fingiu estar apaixonado por mim só para ter acesso ao dinheiro da minha família.

Depois do escândalo, meus pais decidiram "resolver" minha vida. Arranjaram um casamento por contrato com um viúvo bilionário — alguém que eu nunca conheci, nunca vi, sequer quis saber o nome.

Fugi antes do jantar de noivado.

Já estava quase me levantando da cadeira, pronta para fugir daqui também, quando a outra candidata respondeu, com aquele tom de quem sabe de fofoca boa:

— Mas os benefícios são ótimos! Moradia, alimentação, salário generoso... e dizem que o patrão é um gato.

Congelei com a bolsa no colo.

Teto. Comida. Salário.

Sentei de novo, devagar, recolocando a bolsa no chão.

Bom... já que estou aqui...

Mordi mais um pedaço do chocolate e esperei.

Uma a uma, as candidatas foram chamadas, desapareceram pela porta e voltaram com cara de derrota.

— Homem grosso... — ouvi uma resmungar.

— Criança impossível... — outra completou.

O relógio parecia andar rápido demais e, ao mesmo tempo, não sair do lugar.

Quando a penúltima se levantou, já não restava ninguém além de mim e da minha barra de chocolate.

— Candidata número nove! — A voz da secretária ecoou pela recepção.

Levantei com as pernas bambas. A secretária abriu a porta da sala e anunciou:

— Senhor Novak, essa é a última candidata.

Depois olhou para mim e acenou com a cabeça.

— Pode entrar.

Respirei fundo e entrei.

A primeira coisa que senti foi o caos. Um bebê chorando alto num carrinho. O tipo de choro que perfura o cérebro. Uma menina de uns seis anos andando de um lado para o outro, mexendo num celular e falando alto como mini executiva, revirando os olhos para o choro do irmão.

E então... ele.

Céus! O homem estava sentado atrás de uma mesa enorme, terno impecável, gravata afrouxada, cabelo castanho escuro bagunçado como se ele tivesse passado a mão ali várias vezes por puro estresse. Olhos verdes, cansados, mas intensos. Maxilar marcado, ombros largos, presença que ocupava o ambiente inteiro.

Meu cérebro romântico e viciado em doramas pensou imediatamente: Nem na ficção tinha um protagonista masculino tão perfeito.

E então eu tropecei. No tapete. Meu pé prendeu na beirada, meu corpo se desequilibrou, e eu me agarrei na beirada de uma mesinha lateral. O copo plástico de água que estava em cima tombou. A água se espalhou pelo tampo e começou a pingar no chão.

O barulho ecoou pela sala. Até o bebê parou de chorar por dois segundos, confuso com o show de desastres.

Eu queria enfiar a cabeça num buraco e sumir do mapa.

Senhor Novak me olhou. Aqueles olhos verdes me analisaram de cima a baixo com uma expressão que eu não consegui decifrar. Cansaço? Incredulidade? Desprezo? Provavelmente tudo junto.

O bebê voltou a chorar, mais alto ainda.

Senhor Novak fechou os olhos por um segundo, como se reunisse toda a paciência do universo.

— Como pode perceber — disse, a voz grave, controlada —, minha filha derramou refrigerante em cima do seu currículo.

Olhei para a mesa. Havia uma folha de papel molhada, borrada, ilegível.

— O que eu preciso saber sobre você? Seja rápida. Eu não tenho todo o tempo do mundo.

Engoli seco.

— Meu nome é Maria Eu... — Merda. — Mareu. Meu nome é Mareu e...

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Você não sabe seu nome?

— Sei! É que... pode me chamar de Mareu. Tenho 26 anos e...

— Olha, Mareu — ele me interrompeu. — Você é a última candidata. Já entrevistei outras oito pessoas hoje. O bebê não para de chorar há horas e eu... — passou a mão pelo cabelo, bagunçando ainda mais. — Eu só preciso que alguém consiga fazer o básico. Se você fizer esse bebê parar de chorar, o emprego é seu.

— Sério?

— Sério.

É só um bebê. Quão difícil pode ser?

Caminhei lentamente até o carrinho. O bebê chorava mais alto ainda, como se soubesse que eu não fazia ideia do que estava fazendo.

Tentei empurrar o carrinho de um lado pro outro. O choro continuou.

Fiz uma careta engraçada. Nada.

Tentei balançar mais rápido. Só piorou.

— Então — a voz do Senhor Novak veio atrás de mim. — Como era sua rotina na última casa? Minha filha é bem ativa.

Ele quer conversar AGORA?

— Ahm... natação duas vezes na semana, tênis às quintas, hipismo no final de semana e depois do Rafael tinham as aulas de defesa pessoal...

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Defesa pessoal para criança? Interessante.

Ahh.

Ele estava falando de criança?

Eu tinha respondido sobre a minha rotina. A rotina que eu tinha quando ainda morava na mansão dos Valença.

Melhor improvisar.

— É! — forcei entusiasmo, ainda balançando o carrinho. — Super importante para... desenvolvimento da confiança delas! E autodefesa, claro. Defesa... muita... defesa. Auto.

Ele pareceu considerar isso, então continuou:

— E como você lida com birras?

Respirei aliviada. Essa eu sabia responder.

— Normalmente com chocolate e doramas. Quero dizer, depois de uma certa idade, não dá pra achar que birra vai resolver tudo. É só se sentar e esperar passar.

Os olhos dele se estreitaram levemente.

Merda.

De novo, Mareu?

Mas então ele disse, com um toque quase... divertido?

— Interessante. Chocolate como recompensa e distração visual. Funciona?

— ...Funciona sim.

Pelo menos pra mim.

— Viagens podem estar incluídas no trabalho. Tudo bem para você?

Tentei fazer cócegas no pé do bebê. Sons engraçados com a boca. Nada.

— Ah, eu amo viajar! — respondi, quase gritando por cima do choro. — Ano passado passei um verão incrível num cruzeiro de luxo pelas ilhas gregas!

Ele inclinou a cabeça.

— Então você está acostumada a trabalhar com famílias de alto padrão. Ótimo.

Trabalhar? Eu tinha falado das minhas férias. Mas se ele entendeu como experiência profissional, eu não ia corrigir.

— Sim. Totalmente acostumada.

O bebê estava inconsolável. Senhor Novak me observava com aquela cara séria. Eu estava falhando miseravelmente.

E então, sem pensar, comecei a cantar uma música idiota de um dorama que eu tinha assistido na semana passada, em um coreano ruim, que eu nem sabia o significado.

Baixinho. Desafinado. Ridículo.

Eu estava tentando acalmar mais a mim mesma, mas... o bebê parou de chorar.

Assim. De repente. Ficou me olhando com aqueles olhinhos arregalados.

Continuei cantando, com medo de parar e o choro voltar.

O bebê soluçou uma última vez e fechou os olhinhos, finalmente em paz.

Silêncio.

Parei de cantar devagar, quase sem acreditar.

Senhor Novak continuou me observando por um longo momento.

A sala em silêncio absoluto, só o som da minha respiração ofegante, enquanto até a menina mais velha me encarava por cima do celular como se eu fosse a coisa mais estranha que tinha acontecido naquele dia.

Então... eu consegui o emprego?

Olhei para a cara dele buscando algum sinal, mas ele apenas me encarou com aqueles olhos verdes penetrantes, a expressão séria, fria, ilegível.

Bem... talvez não...

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