A manhã seguinte chegou mais lenta do que Clara imaginava. O som suave dos passarinhos que cantavam do lado de fora da janela parecia uma ironia diante da tempestade interna que se formava em seu peito. Ela acordou cedo, muito antes de Enrico ou qualquer outra pessoa. O silêncio da casa era opressor, como se todos estivessem aguardando algo que, embora inevitável, ninguém queria enfrentar. Clara se levantou da cama com um suspiro, seus pensamentos ainda girando em torno do que Enrico lhe dissera na noite anterior. Ele havia se afastado, fugido de suas perguntas, e isso apenas a fez sentir que estava lidando com algo muito maior do que imaginava. Algo que ela não estava pronta para enfrentar, mas que agora parecia ser seu único caminho. Ela sabia que precisava seguir em frente, descobrir a verdade que ele tentava esconder, não importa o custo. Quando entrou no banheiro, olhou seu reflexo no espelho. Seus olhos estavam marcados pelo cansaço, e seu rosto pálido refletia a tensão que el
Clara estava sem palavras. A revelação de Enrico ainda ecoava em sua mente, mas, antes que pudesse digerir completamente o que ele acabara de dizer, ele a interrompeu, seu olhar grave refletindo a seriedade do momento. — Eu sei que você está confusa, Clara. E eu não espero que você me perdoe agora. Mas você precisa entender uma coisa — ele fez uma pausa, como se ponderasse as palavras que viriam a seguir. — Gabriel não é apenas meu irmão. Ele tem mais envolvimento com nossa família do que você imagina. Clara sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Gabriel. Tudo o que ela soubera até então parecia desmoronar diante dessa nova informação. Como ele estava envolvido? O que isso significava para ela? A dúvida a corroía, mas ela sabia que, se quisesse realmente entender a teia de mentiras em que estava enredada, precisava ouvir Enrico até o fim. — Eu preciso que você me explique, Enrico — Clara disse, sua voz tremendo levemente, mas sua postura ainda firme. Ela estava determinada a ent
Clara não sabia exatamente o que esperava encontrar quando decidisse confrontar Gabriel. Mas algo dentro de si a impulsionava para frente, como se ela já tivesse esperado por aquele momento há muito tempo. Ela sabia que ele possuía o poder de destruir tudo o que restava da sua vida, mas agora, com as peças do quebra-cabeça começando a se encaixar, ela sentia que não poderia mais viver na ignorância. Era uma tarde fria e chuvosa quando Clara decidiu que seria aquele o dia. O escritório de Gabriel ficava no centro da cidade, um prédio imponente que simbolizava o domínio que ele tinha sobre o mercado e sobre a vida das pessoas ao seu redor. Quando Clara entrou no edifício, a atmosfera parecia opressiva. A entrada era luxuosa, com mármores brancos e dourados em cada canto. Um contraste direto com o turbilhão de sentimentos que ela carregava dentro de si. Ela foi conduzida até a sala de reuniões, onde Gabriel a aguardava, sentado em uma cadeira de couro preto. Seu olhar não era o mesmo d
Clara se afastou de Gabriel, mas seu coração ainda batia forte, cheio de emoções conflitantes. Ela não sabia o que sentia, ou o que deveria sentir. O confronto com ele a havia deixado mais confusa do que antes. A sinceridade em sua voz a afetou de maneira inesperada, mas ela não podia simplesmente esquecer tudo o que ele fizera, tudo o que ele a fizera sentir. A chuva lá fora continuava forte, com os trovões ressoando no céu, como se o tempo refletisse o turbilhão em seu interior. Clara olhou pela janela, tentando encontrar algum tipo de resposta na paisagem cinzenta e distante. As ruas estavam vazias, as pessoas apressadas, buscando abrigo da tempestade. Ela sentiu uma necessidade quase urgente de escapar dali, de encontrar um lugar onde pudesse pensar, onde pudesse finalmente entender o que queria da vida, e o que ela realmente merecia. — Gabriel — ela disse, sua voz agora mais suave, mas cheia de um tom determinado. — Eu preciso de um tempo. Eu não sei o que sinto. Não sei se pos
O dia seguinte trouxe com ele um sol tímido, filtrado por nuvens que ainda ameaçavam, mas não se atreviam a deixar a chuva cair novamente. Clara se sentia como o céu: inconstante, mas com a esperança de que o dia poderia se transformar em algo melhor, algo mais claro. Ela ainda estava envolta nos pensamentos do dia anterior, mas já conseguia respirar com mais tranquilidade. O espaço para reflexão tinha lhe dado algum alívio, mas também deixado uma série de novas questões. Após o café da manhã, Clara decidiu sair para caminhar. Ela precisava de mais tempo sozinha, longe das expectativas da família, longe de Gabriel, longe de tudo o que a fazia se sentir perdida. Era hora de se reconectar com ela mesma. Quando saiu de casa, o ar fresco e levemente gelado lhe tocou a pele e, por algum motivo, isso fez Clara se sentir mais viva. Ela sempre fora alguém que se sentia presa às suas responsabilidades, à figura que os outros viam dela. Era hora de se libertar dessa imagem que ela nem sempre r
O vento ainda soprava com intensidade quando Clara voltou para casa, com as palavras do homem desconhecido reverberando em sua mente. A sensação de alívio, ainda que temporária, estava latente. Ele tinha razão: ela não estava sozinha e, acima de tudo, não precisava continuar sendo refém das escolhas feitas por outros, mesmo que fosse algo tão complexo como um casamento forçado. Ao entrar em casa, o ambiente estava tranquilo, mas Clara sentia que a pressão de sua decisão estava apenas começando a se intensificar. As paredes da casa pareciam ter se estreitado ao redor dela, como se a casa soubesse que sua escolha estava prestes a mudar tudo. Ela subiu para o seu quarto e olhou pela janela, sentindo os primeiros raios do sol da tarde aquecerem seu rosto. Sua mente ainda estava turva, mas o que ela sabia era que não podia mais continuar nesse impasse. Gabriel, o noivo, ainda não estava em casa. Ele tinha uma reunião com investidores, e Clara sabia que ele estaria ausente por algumas hor
A manhã seguinte chegou mais cedo do que Clara esperava. Ela não havia dormido bem, suas preocupações continuavam a consumir seus pensamentos, e o peso das decisões que se aproximavam se tornava insuportável. O sol, que começava a despontar no horizonte, parecia iluminar tudo ao seu redor, mas a escuridão que ela sentia dentro de si não se dissipava. O que parecia uma escolha simples de fazer—ou pelo menos uma escolha que poderia ser tomada facilmente—agora parecia se desdobrar em inúmeras possibilidades, e Clara não sabia qual direção tomar. Ela sabia que deveria enfrentar o problema de frente. Não poderia mais se esconder ou adiar decisões. Seu casamento com Gabriel estava marcado para daqui a poucas semanas, e os preparativos já estavam em andamento. Ela sentia o olhar de sua mãe sobre ela, repleto de expectativas, e o silêncio do pai, que parecia tão perdido em suas próprias crises financeiras que não era capaz de lhe dar conselhos. Todos ao seu redor esperavam que ela seguisse o
O dia continuou a se arrastar, e Clara sentia como se o tempo estivesse se arrastando mais lentamente do que nunca. Cada minuto que passava parecia ser uma eternidade, e ela sabia que, ao final da tarde, teria que tomar uma decisão. Ela ainda não sabia como iria fazer isso, mas sabia que precisava dar um passo. Não podia mais ficar apenas em um estado de indecisão. Não sem consequências. O telefone de Clara tocou enquanto ela estava na varanda da casa, tentando pensar no que fazer a seguir. Era Gabriel. Ela hesitou por um momento antes de atender. — Oi, Clara — disse a voz dele do outro lado da linha, fria e controlada, mas com um toque de preocupação. — Como você está? Já tomou alguma decisão? A palavra "decisão" ecoou na mente de Clara como um lembrete cruel de que ela tinha que escolher entre sua família e seus próprios sentimentos. Mas ela não sabia como explicar isso para ele, ou pior ainda, como justificar suas incertezas. — Eu... ainda estou pensando — disse Clara, tentando