Coelhinha Por Contrato
Coelhinha Por Contrato
Por: Linah Bunny
1 O HERDEIRO

Estava mesmo começando a me preocupar.

Meu tempo estava acabando e não encontrava outra saída cabível, a não ser ceder a vontade daqueles filhos da p**a.

Alguns acionistas levantaram a hipótese de votar sobre minha permanência, ou não, na presidência dos negócios durante a próxima assembleia anual. Segundo aqueles bostas, se não parasse de causar "transtornos"_ como chamavam as festinhas particulares que costumava participar _ tentariam foder com a minha cadeira na liderança da Medeiros Alencar empreendimentos. Meu lugar seria ocupado por um daqueles sacos de banha, como se algum deles fosse minimamente qualificado para gerir o negócio da minha família com o mesmo êxito que vinha obtendo.

Não iria tolerar ver a empresa que fui criado para liderar, sendo comandada por outras mãos além das minhas:

_ Deveria ter dado ouvidos quando alertei a respeito dessa vida de "astro dos negócios" que insiste em ostentar, Daniel. _ disse Emílio, amigo da família há muitos anos e uma espécie de mentor pessoal.

O homem trabalhou com meu pai desde o início e, já há alguns anos, atuava como diretor executivo logo abaixo de minha posição:

_ Estava óbvio que não demoraria para sua noitada regada a mulheres, bebida e sabe Deus mais o quê, virar manchete na porra dos tabloides. _ vociferou.

E o coroa tinha sua parcela de razão.

Sabia que minha vida de herdeiro jovem e mulherengo incomodava boa parte dos sócios mais conservadores. Os vermes desejavam que o império Medeiros Alencar fosse representado por alguém de pulso forte e moral ilibada.

Muito bem.

Meu pulso firme à frente dos negócios todos conheciam. Era irrefutável minha capacidade de saber exatamente onde e quando investir. E o fato de em poucos anos ter triplicado o faturamento de nossos empreendimentos, apenas corroborava minhas capacidades quanto gestor.

No entanto, para alguns daqueles merdas, minha moral era questionável.

Referiam-se a mim como um jovem impulsivo e até irresponsável. Insinuavam que minhas conquistas não passavam de blefes e que poderia por tudo a perder em uma mão de azar, como em um jogo de poker com cartas marcadas.

Promíscua, foi a palavra que elegeram para definir minha vida particular e ainda jogaram na cara que minha postura sensacionalista distinguia dos ideais da companhia. Por esta razão, temiam que minha imagem vulgar e midiática manchasse o aclamado renome do legado Medeiros Alencar. No entanto, vale salientar que falavam da empresa que foi erguida por minha família e elevada a multinacional por mim _ o jovem impulsivo, irresponsável e promíscuo _ durante os últimos oito anos. Foi graças a minha mais pura determinação e inteligência que hoje temos um nome mundialmente conhecido zelar.

Graças A MIM!

Não graças ao meu pai.

Não graças a nenhum sócio.

Como ousavam questionar minha capacidade liderar de algo que fazia parte de mim?

Aquela empresa era "Eu"!:

_ Esses merdas estão com inveja! _ pontuei frio, me acomodando melhor na poltrona de couro preto _ A maioria daqueles paus se quer levanta. Claro que o fato de presidir com maestria e ainda comer a porra da gostosa que eu quiser vai deixar um ou outro puto. "C'est la vie". _ finalizei dando de ombros.

Não disfarçava o desprezo em relação aqueles abutres. Eram uns velhotes de merda, antigos demais para se reinventarem ou agir de forma arrojada. A maioria passava os dias com amantes lambendo suas bolas enquanto eu permanecia lá, fazendo o dinheiro dos filhos da p**a multiplicar todos os meses. E ainda tinham a audácia de apontar em mim seus próprios desvios de caráter.

Pensava sobre isso quando Emílio atirou o jornal sobre a mesa de mogno:

_ Acontece que você está indo longe demais para alguém com a sua posição! _ exasperou-se apontando para o título da matéria "O playboy da Avenida Paulista". _ Encher a porra de uma limusine com modelos peladas e sair desfilando pelo centro de São Paulo? Manter a discrição não custa absolutamente nada e evita escândalos caralho! _ finalizou seu esporro com a expressão de cansaço marcando as rugas finas no canto de seus olhos castanhos.

A gargalhada foi inevitável.

Emílio me conhecia desde moleque e foi o primeiro a dar apoio quando assumi a empresa aos vinte e um anos. O coroa era quase sempre honesto, mas se tornou parceiro em algumas de minhas picaretagens, por isto sabia que podia contar com seu apoio incondicional. Com o passar do tempo, inúmeros conselhos e puxões de orelha, também me fez enxergar em si a figura de um segundo pai:

_ Sabe o quanto adoro essa merda Emílio. _ retruquei amistoso _ A imprensa me ama, vivem me perseguindo desde criança. E até faz sentindo porque, pensa comigo cara _ dei ênfase enumerando com os dedos _ um cara jovem, rico pra caralho, prodígio dos negócios, sarado e, modéstia à parte, bem bonitão. Sou tipo um príncipe pra essa gente, um Deus, sei lá! É natural que queiram falar sobre a porra da minha vida sempre que solto um peido, o que não posso é deixar de viver como quero porque eles vão fofocar.

Debochei em direção ao amigo que não parecia muito aberto a brincadeiras no momento:

_ Essa empáfia ainda vai leva-lo a ruína Alencar!  Qual vai ser a justificativa da vez? Porque simplesmente não dá para dizer aqueles vídeos são montagem como fizemos com fotos da última festinha em que aprontou todas.

_ Vou falar que foi um tipo de "despedida de solteiro" e acabei passando dos limites na comemoração, mas afinal, vou me casar e precisava celebrar em grande estilo. Depois que os jornalistas ouvirem a palavra "casamento" não vão falar em outra coisa, posso apostar! _ elucidei irônico.

_ Vai voltar com essa ideia ridícula de contratar uma noiva? Por favor imbecil, começa a levar tua vida a sério, já passou da hora de parar com essa vadiagem, porra! Se não quer ser tratado como um moleque, pare de se comportar como um. Essa merda não é uma brincadeira, não é apenas a sua imagem que está em jogo Daniel, é a porra da credibilidade da corporação que está manchando! _ esbravejou irritado.

Encarei o conselheiro com uma expressão divertida:

_ Você fica engraçado quando banca o paizão Emílio, mas me deixe cuidar das minhas merdas do meu jeito. _ usei um tom jocoso, entretanto, o executivo sabia que falava sério. _ Essa e a forma mais eficaz para acalmar os ânimos de todos! Assim dou uma resposta rápida aos acionistas mostrando que quero tomar um rumo na vida e vou manter a liberdade necessária pra continuar trepando com a gostosa que quiser. Será o melhor dos dois mundos! E de bônus, ainda vamos conseguir os holofotes da mídia em cima da corporação. O povo adora essas palhaçadas de romance e casamentos da alta sociedade dão mesmo uma p**a audiência. _ finalizei com a confiança de quem pensava ter um plano brilhante em mãos.

A ideia de um relacionamento sério nunca passaria pela minha cabeça, ao menos não agora.

Com vinte e nove anos tudo que queria era me tornar o cara mais influente no setor corporativo desse país e um dos mais ricos do mundo em um futuro próximo. Lógico que adorava as bocetas que caiam no meu colo pelo caminho, mas com toda certeza não pretendia me prender a nenhuma delas.

Muito menos garantir exclusividade:

_ Acho isso uma grande loucura, mas pedi a Laura que enviasse a lista de candidatas, realmente espero que essa merda agrade a todos, incluindo seu pai. _ ele usou o tom sombrio que costumava surgir quando o assunto era o Barão.

Ouvi a notificação enquanto o conselheiro anunciava:

_ Enviei por e-mail, presta atenção na merda que vai fazer Alencar porque, se isso der errado, teu pai te deserda de verdade dessa vez. _ encerrou ainda meio puto e depois saiu do escritório.

Se aquele clichê batido dava certo na ficção, repetindo-se de diferentes formas em incontáveis enredos de filmes e livros, imagina para mim que desejava a situação mais corriqueira na alta sociedade: Uma esposa "troféu" para carregar os chifres de forma elegante enquanto faz compras e finge que é feliz.

Abri o notebook disposto a encontrar a mulher perfeita para resolver meus problemas com os associados e com o meu próprio pai de certa forma. Que, mesmo que tivesse me passado o comando dos negócios para engajar em sua carreira política, ameaçava voltar a presidência caso minhas "farras" começassem a foder com o grupo.

Cliquei no e-mail com informações sobre umas trinta garotas, todas muito bonitas, algumas de famílias emergentes, já outras eram totais desconhecidas. A maioria se titulava modelo ou digital influencer, algumas atrizes em começo de carreira, mas também haviam advogadas, publicitárias, designers...

Todas pareciam o tipo que me faria feliz em uma terça feira enfadonha qualquer e era exatamente este o problema. O lugar ao lado de Carlos Daniel Medeiros Alencar não poderia ser ocupado por qualquer uma.

Minha noiva deveria ser extraordinária.

A aparência seria fundamental, mas a garota deveria que ser do tipo "certinha", dessas que a sociedade vende como sendo "para casar". Alguém muito rica, bem educada e elegante sem dúvida, mas também precisaria ser reservada, contida e até um pouco submissa diante da vida regrada que teria que levar.

Sabia que nenhuma das garotas da lista atenderia as minhas expectativas e precisava de mais opções, então eu mesmo comecei a procurar.

................

Passou-se uma semana desde que soltamos a nota sobre o noivado e os blogs de fofoca não falavam sobre outra coisa:

"O Herdeiro da paulista iria casar!"

As colunas sociais estavam em polvorosa e disparavam a notícia de forma massiva em todas mídias. Os sócios receberam a novidade com surpresa, é claro. Mas pareciam animados com as mudanças que o título de "homem casado" poderia trazer como bônus para ao presidente da corporação. As atenções estavam se voltando pra nós de forma positiva e aqueles putos já podiam sentir o cheiro de novos investimentos arrombando a porta depois que aquela merda de noivado desse certo.

O Barão me fuzilou com perguntas em uma conversa desagradável sobre eu estar me precipitando ao assumir uma qualquer como esposa. Ele sabia que havia algo estranho nesse noivado repentino e, porra, estava certo! O velho conhecia bem a máquina de fazer dinheiro e sexo que ele mesmo havia criado. No final, comunicou que quando viesse a São Paulo teria uma conversinha com a futura nora e só se veria satisfeito após entender toda a história. Meu pai nunca foi um homem paciente ou atencioso, mas insistiu em preparar o filho para ser o melhor no que quer que fosse. Mesmo que, para tanto, me fizesse sofrer como um cão no processo...

Nossos antepassados começaram seu legado ainda nos tempos do Brasil colônia.

No início do século XIX eram donos de grandes lavouras com cultivos que exportavam para a Europa. Fizeram fortuna às custas de oportunidades fáceis e da mão de obra escrava amplamente utilizada naquela época. Ganharam muito dinheiro e investiram em mais terras, mais escravos, mais imóveis e dessa forma compraram a notoriedade para o sobrenome Medeiros Alencar também.

Minha família foi uma das primeiras a lançar seus mais de dez mil negros a própria sorte, sem ter para onde ou como se manter para importar estrangeiros brancos, italianos em grande parte. Auxiliando assim a estratagema da monarquia para embranquecer a população através da miscigenação de raças. Os novos "trabalhadores" chegavam ao país presos à uma dívida enorme por sua viagem e transporte até as fazendas do "novo mundo". E lavoravam por anos recebendo muito pouco como retorno até terem a dívida da viagem _ e outras que eram forçados a contrair após sua chegada _ totalmente liquidada.

Por este, entre tantos outros feitos sociais e políticos, meu pai fazia questão de manter a tradição da família intacta e precisava de um herdeiro para garantir a continuidade de sua hegemonia. Então já nasci com a obrigação de ser o mesmo tipo de negociante oportunista como foram os meus antepassados. Por mais que tenha demonstrado aversão a tudo o que me foi imposto, não pude negar o dever de comandar o império da família e, com o passar dos anos, acabei pegando gosto pelo mundo corporativo. Mesmo que meus maiores sonhos passassem longe de cenários cheios de homens vestidos de terno, gráficos da bolsa de valores e reuniões intermináveis com os demonstrativos financeiros, era meu DEVER INATO ser bem sucedido no mundo dos negócios. 

E eu fui!

Mas quando se é obrigado a sustentar uma vida de mentiras, você precisa extravasar os desejos reprimidos em algum lugar, e minha válvula de escape sempre foram festas e mulheres. Foi inevitável me tornar muito bom em cair na esbórnia e geralmente ficava tudo no sigilo. Mas algumas vezes as coisas fugiam de controle e vasavam para imprensa. Nessas ocasiões arranjávamos qualquer desculpa plausível e disparávamos alguma nota de esclarecimento forjada. Porém, minhas escapadas se tornaram tão frequente no último ano que estava cada vez mais difícil inventar novas justificativas para os excessos que eu, invariavelmente, cometia.

Àquela altura já havia analisado mais de cem perfis diferentes e estava perdendo completamente a paciência com aquela merda de seleção. O problema é que todas as garotas pareciam inadequadas para ocupar o cargo como minha futura esposa. Cheguei a fazer entrevistas com algumas candidatas, mas tudo que me chamava atenção eram as coisas irritantes em seus modos de agir ou em suas personalidades.

_ E se contratássemos uma atriz? _ sugeriu Laura, minha assessora e parceira de trapaças desde os tempos de faculdade. _ Seria muito mais fácil fazer parecer que estão apaixonados.

Levantei da mesa e caminhei pela sala ponderando a sugestão.

Sim, era uma boa ideia, mas se já estava difícil encontrar uma garota que atendesse aos meus critérios físicos e comportamentais, imagina achar uma que se encaixasse em meus ideais e que ainda fosse atriz...:

_ Paixão é o menor dos problemas Laura! Até porque não quero que a garota se torne uma grudenta correndo atrás de mim com crises de ciúmes. _ corrigi minha colega e debochei a seguir _ Limite-se a procurar garotas gostosas, bem educadas e, se possível, que sejam menos rodadas que os pneus do meu carro.

Um dos maiores "problemas" que estava encontrado nas candidatas era exatamente este: As mais interessantes pareciam ter ido pra cama com a metade do estado de São Paulo ou tiveram algum comportamento que poderia ser considerado como “questionável” no passado. Esse tipo de conduta poderia ferir a imagem da família ou da empresa. Não podia escolher uma qualquer, deveria ser alguém que não tivesse nenhuma merda para ser jogada no ventilador no futuro. Lógico que as mulheres tentavam mascarar a verdade, mas bastava uma pequena investigação e as safadezas começavam a aparecer por de baixo dos panos.

Sei que pode parecer extremamente machista julgar estas garotas com base em seu comportamento sexual, já que eu mesmo não era nenhum exemplo de retidão nesse sentido. Mas estamos falando da futura esposa do herdeiro de uma das famílias mais tradicionais e ricas do país. Por mais que minhas putarias não fossem nenhum segredo, minha noiva teria que ter a conduta inquestionável perante a sociedade.

E isto não era negociável!

Depois de minha resposta atravessada sobre contratar uma atriz, Laura respondeu colérica:

_ Vá se foder Alencar! Limite-se você a escolher logo uma dessas coitadas e vamos seguir com o expediente, por favor. _ o deboche estampou-se em seus olhos negros.

_ Só não te demito porque sabe como gosto que esfreguem minhas bolas Laurinha. _ rebati carregado de sarcasmo, mas aceitei a sugestão enquanto Laura me mandava tomar no cu com o dedo. _ E quanto aos dados de faturamento do último trimestre? _ perguntei mudando o sentido da conversa.

Já havia gasto demais do meu precioso tempo com algo que deveria ter sido resolvido há semanas. Fui até a parede de vidro e observei o movimento dos funcionários lá embaixo, enquanto Laura discorria sobre os ganhos dos últimos três meses. Aquelas eram as informações que deveriam importar para os babacas da diretoria e não a quantidade de garotas com quem transava ou deixava de transar.

Diante da placa de vidro que simulava um espelho na parte externa, me sentia como uma águia observando seu território logo abaixo.

No centro da grande repartição as mesas ficam dispostas em forma circular, ali trabalhavam os assistentes da diretoria enquanto ao redor de todo o andar inferior ficam os gabinetes dos diretores. No piso superior, podia ver os escritórios dos executivos, suas paredes também tinham uma boa parcela de transparência e era principalmente nestas salas que eu costumava manter os olhos.

Laura concluiu o relatório falando sobre o crescimento de 12% em relação ao trimestre anterior, o que recebi com certa frustração já que esperava lucros superiores a 15% para esfregar meu sucesso na cara daqueles imbecis. Enquanto Laura articulava qualquer coisa, uma garota saiu pelas portas do elevador e deu alguns passos em direção a repartição.

Tinha os cabelos compridos, a cintura fina e parecia completamente perdida. Só de olhar para a calça jeans e um tipo de jaqueta branca que usava soube não trabalhava no meu setor. Observei a jovem caminhar até uma das mesas e falar qualquer coisa com uma das secretárias, nesse momento Laura lembrou sobre a reunião que teríamos em alguns minutos com novos investidores.

Vi a funcionária lá em baixo apontar para a sala de um dos diretores de operação, a garota misteriosa pareceu agradecer e caminhou até a porta da diretora comercial. Não era comum que funcionários de outros setores fossem autorizados a circular pela cobertura, acontecia algumas vezes, mas nunca tinha visto aquela moça por aqui.

Não demorou e partimos em direção a sala de reuniões no andar de baixo. Enquanto caminhávamos até os clientes a vi novamente atravessando o saguão em direção aos elevadores. Tinha uma expressão alegre e um leve sorriso nos lábios cor de rosa, seu cabelo era de um castanho muito claro, quase loiro, e escorria por suas costas formando espirais nas pontas. Fiquei atordoado por como parecia angelical e pedi que Laura desse início a reunião informando que em breve me juntaria a eles.

Primeiro, precisava olhar a desconhecida mais de perto...

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