CAPÍTULO 05 - Uma Mentirinha Que Não Faz Mal

Olhei por cima do ombro para saber se o homem havia ido embora ou se estava se aproximando, e sim, vinha em nossa direção com passos calmos, também tragando um cigarro.

Samuel por algum motivo me soltou.

Talvez não quisesse que alguém visse ele agarrando a ex, ainda mais parecendo tão bruto no agarre. O que pensariam sobre o garoto certinho?

— Eu estou ótima — foi o que disse, apenas.

Ele continuou andando até nós e Sam começou a se mexer, jogou o cigarro no chão e pisou em cima, olhou para as árvores fingindo demência, e tentou nem se importar com a presença de Travis, diferente de mim que agora sim fiquei sem saber o que fazer.

— Eu estava te procurando. O Bruce disse que precisamos nos juntar aos outros na reunião mais tarde, então não sei se você quer ir para casa tomar um banho, ou se prefere ficar direto… Eu não recusaria a proposta que me fez mais cedo.

Que caralhos ele estava falando? Ou melhor, por que estava falando tão doce e calmo?

Dizer que não recusaria minha proposta de um boquete não foi tão surpreendente, mas e o resto?

— Você é o Travis, não é? O melhor amigo do Bruce desde a infância.

Parecia que uma luz tinha acendido na cabeça de Samuel e ele passou a quase ignorar minha presença para só focar no Turner.

— Sim. E você deve ser o Sam, amigo do Bruce e ex da minha esposa, certo?

Ao proferir aquilo eu quis morrer!

Fala sério! Não! Lógico que não!

Qual é o problema do Travis?

Qual, porra?

— Você o quê? — gaguejou ao perguntar, assim como Henry a mim. — Eu, é… sim, eu sou o ex noivo da Terena.

— Bom, é um prazer conhecer um dos melhores amigos do Bruce. — Estendeu a mão para um cumprimento e eu fiquei com cara de tacho no meio dos dois, querendo acabar de uma vez com aquela palhaçada.

— Nossa, eu nem imaginava que você e a Terena tinham alguma coisa — disse coçando a nuca, desconcertado com o pensamento de que me acusou injustamente.

A questão é que era sim tudo uma mentira e pelo visto Travis sabia bem disso e estava disposto a sabotar ainda mais os meus dias enquanto estivesse ali.

Não era novidade, mas dizer que se casou comigo ia contra alguns de seus princípios.

— Pois é, já faz muito tempo que a gente tem algo, mas só agora ela quis dar continuidade e assumir — explicou mas não tirou os olhos um segundo sequer de mim.

— Muito tempo, tipo, meses?

Olha só, preocupado com um chifre, Samuel?

— Meses? Não! Meses é bem pouco. São anos mesmo, não é, Queen?

Filho de uma puta!

Que vontade de matar aquele desgraçado.

Como podia fazer isso? Como, porra?

— O Sam não sabe de nada porque achei irrelevante contar — falei entredentes, não querendo esconder meu ódio.

Ele que fosse pra puta que pariu! Nada disso ia me ajudar de forma alguma, se é o que estava pensando.

— Ah sim, tão irrelevante que nos casamos — disse descontraído fazendo com que o outro o acompanhasse em um riso falso.

— Bom, eu fico feliz pela Terena, e por você, claro. Teve todas aquelas vezes em que ela terminou os relacionamentos perto do casamento, e enfim, isso não é algo a se discutir, me desculpa, eu, é…

Ficou sem jeito o engraçadinho.

Até diante de um "marido" meu ele quis jogar na cara que eu fui a destruidora de corações que abandonou os noivos. Como se eu tivesse deixado cada um deles plantados no altar.

Me poupe também. Ninguém era tão inocente imaculado assim não, apenas Tomaz.

— Tudo bem, eu agradeço que esteja feliz por ela, e que não tenha insistido tanto na relação de vocês. Só eu sei como é preciso lutar uma guerra mundial para conseguir convencer essa mulher de algo. Se bem que, não precisei pedir duas vezes, ela disse "sim" sem pestanejar.

Os olhos claros que por tantos anos não via, agora me encaravam fixamente e eu só queria fugir e nunca mais ter que olhá-los, mas não foi possível porque mais uma vez eu estava congelada no tempo, com os pés colados no chão e o corpo quase que inconsciente.

Travis Turner havia feito merda, muita merda.

O que eu deveria fazer?

Bater naquela cara linda, dizer que ele precisava cortar aquele cabelo e deixar do jeito que eu gostava, ou que não deveria deixar a barba crescer, ou que não tinha que ter vergonha da cicatriz na testa, que tudo nele era lindo pra caralho mas que eu só estava pensando em deformar aquele rosto perfeito?!

Puta que pariu!

Eu sabia que ele ia me afundar. Se estava ali, se tinha chegado quinze dias antes do casamento, veio para ser meu inferno pessoal.

Sam limpou a garganta e passou a mão nos cachos bagunçados.

— Então, nos vemos mais tarde na reunião. Acho que o Bruce vai planejar a despedida de solteiro dele, você não vai querer perder isso — disse ainda sem jeito, se afastando depois de me olhar envergonhado.

Quando enfim respirei aliviada e me preparei para mandar Travis tomar no cu, percebi que nem tão longe havia um grupo de mulheres que ouviram toda a conversa. Uma das abençoadas era a mãe da noiva, e pronto, agora sim eu estava fodida.

Se a mãe de Louise confirmasse aquela merda toda, eu estaria super ferrada.

— Por que fez isso, filho da puta? — sussurrei querendo pular no pescoço do homem.

— O quê? Por que te salvei das ofensas do seu ex? E a propósito, não é tão difícil entender porque ele não foi o sortudo a te ter como esposa.

Tudo sempre seria tão natural para Travis? Desde me atormentar até me ajudar como se ainda fôssemos o que já fomos?

— Eu jamais diria pra qualquer pessoa aqui que você é meu marido. Posso estar sendo linchada, ainda assim não diria nada disso.

O homem alto e cinco vezes mais forte que antes, se aproximou ainda mais, colocou gentilmente uma mão em minha cintura e me puxou para ele.

Era a minha hora. Era aí que eu sempre fugia, corria para o mais longe que pudesse.

Só que dessa vez foi diferente.

Dessa vez parecia que não havia nada que me impedisse de ficar, e por um momento de insanidade, fiquei parada encarando os lábios e toda a face de Travis, como se não fizesse isso a tempos porque não fazia mesmo.

Anos se passaram. As amarras ainda continuavam em mim, mas dessa vez eu achei que tinha força suficiente para acabar com elas.

Por um súbito momento de insanidade eu pensei que nada agora era tão impossível.

— Acostume-se, porque a partir de hoje eu sou definitivamente o seu marido.

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