Capítulo 2
Ponto de Vista de Evelyn

Ele sorriu e deu um tapinha na parte de trás da minha cabeça, como se eu fosse uma criança.

— Se estiver se sentindo mal, amor, devia ir ao hospital.

Então ele se virou para uma das empregadas, com a voz dura:

— Não está vendo que a Sra. Graves está bêbada? Traga uma limonada para ela.

A empregada assentiu rapidamente e saiu às pressas do cômodo. Logo voltou com uma bandeja nas mãos e a estendeu em minha direção.

E então, num piscar de olhos, Eric sacou a arma e atirou na cabeça dela.

O som foi ensurdecedor, seguido pelo estalo nauseante de sangue e massa encefálica espalhados no meu rosto. A mão da empregada, já sem vida, ainda estendia o copo em minha direção, e a limonada se misturava com o sangue agora grudado na minha pele.

Não consegui conter o nojo. Quis vomitar, correr, gritar.

Mas Eric nem sequer piscou. Limpou a arma com a própria manga e me olhou como se nada tivesse acontecido.

— Ela falhou no trabalho, amor. Devia ter esperado minha ordem antes de te servir essa limonada.

Engoli em seco, sentindo a bile subir pela garganta, mas me forcei a permanecer imóvel.

Eric era um monstro.

Ele limpou meu rosto com um guardanapo, com um toque perturbadoramente suave.

— Agora você é a Sra. Graves. Nunca mais beba durante o dia, entendeu? Se alguém te visse assim, ia pensar que você é alcoólatra. E a Sra. Graves não pode ser alcoólatra.

Respirei fundo, tentando controlar as mãos que tremiam, o corpo inteiro tomado pelo medo e pela repulsa.

— Agora eu entendo. — Sussurrei, as palavras escapando enquanto eu lutava para manter a tempestade dentro de mim sob controle.

— Está se sentindo mal, meu amor? — A voz de Eric era suave, quase preocupada, enquanto ele examinava meu rosto. — Parece que vai desmaiar.

— Não dormi bem. — Menti, com a voz mal saindo.

— Que tal deitar um pouco? Amanhã podemos ir para o nosso resort favorito, só nós dois. — O tom dele era tão calmo, tão acolhedor — como se nada tivesse acontecido.

Num momento, ele era um monstro. No outro, o cavalheiro perfeito. Como pude ser tão cega por tanto tempo?

— Claro. — Consegui dizer, forçando um sorriso que não alcançou os olhos.

Assim que entrei no quarto, não aguentei mais. Corri direto para o banheiro e vomitei, enquanto a imagem do cérebro da empregada explodindo diante de mim passava pela mente sem parar. O sangue, a mão dela ainda estendida em minha direção...

Não conseguia afastar o pensamento apavorante de que, um dia, se eu o irritasse demais, poderia ser a próxima.

Quando o enjoo passou, voltei para o quarto. O celular de Eric estava sobre o criado-mudo. Ele deve ter entrado e esquecido ali.

Sem pensar, peguei o aparelho. Na tela de bloqueio, uma foto dela sorrindo enquanto Eric a girava nos braços.

E a senha... a data de nascimento de Isabella.

Abri as mensagens, com o coração martelando no peito. Eric claramente não imaginava que eu fosse mexer no celular dele, então todas as conversas com Isabella estavam intactas.

A mais recente era de hoje:

“Que tal um jantar juntos?”

Rolei a tela. Cada mensagem era como uma carta de amor de Eric.

Até que parei, congelada, com o dedo sobre a tela, diante de uma mensagem de Isabella:

“Achei que você tinha sido baleado naquela remessa de drogas para o Reino Unido. Como você está?”

A resposta de Eric foi um soco no estômago:

“A Evelyn tomou o tiro por mim.”

“Que heroína ela,” Isabella respondeu. “Você deve estar super comovido com esse gesto dela.”

“Mais pra chocado. Ela não poderia ser mais idiota.” Eric escreveu.

Pisquei, e uma lágrima caiu direto na tela do celular.

Naquela época, quando Eric me contou o quão perigosa seria aquela entrega de drogas para o Reino Unido, eu implorei para ir com ele. Não conseguia suportar a ideia de ficar longe dele.

Ele concordou. E, mais tarde, a viagem se transformou em um pesadelo.

Fui baleada. Eric também levou um tiro nas costas.

Ele se recuperou rapidamente. Eu, não. A bala danificou meu ovário. Hoje, eu não posso mais ter filhos.

Me sentia envergonhada por não poder dar um filho a ele, por estar "quebrada".

Estava prestes a devolver o celular quando meu dedo escorregou e rolou para a próxima mensagem. As palavras de Eric me acertaram como um tapa:

“Eu te amo desde que você me salvou no México. Aquilo foi heroico. Se não fosse por você e pela cirurgia de remoção imediata, eu não estaria vivo hoje.”

Salvar ele? Isabella nunca segurou um bisturi na vida.

Ela era a enfermeira. Eu era a médica.

Fui eu quem salvou um homem durante um tiroteio brutal no México. Eu que fiz uma cirurgia de remoção com uma arma apontada para minha cabeça.

Não Isabella.

Um pensamento insano e apavorante invadiu minha mente.

Fui eu quem salvou Eric naquele dia?

Mais assustador ainda: Isabella mentiu para Eric, dizendo que tinha sido ela?

Minhas mãos tremiam enquanto eu colocava o celular de volta no lugar.

Depois do que pareceu uma eternidade, finalmente consegui me recompor. Peguei meu próprio celular e disquei um número que estava salvo nos meus contatos desde que me lembrava.

— Você ainda quer tirar Eric de Nova York?

— O que você está sugerindo? — A voz do outro lado era baixa, curiosa.

— Me sequestre daqui a dois dias. — Meu olhar se fixou na foto sobre o criado-mudo — eu vestida de noiva, Eric ao meu lado, parecendo o marido perfeito. — Ele vai entregar tudo o que tem. De bom grado.

Encerrei a chamada no momento em que Eric entrou no quarto. Estava bêbado, os passos vacilantes, como se o álcool tivesse vencido.

— Com quem você estava falando? — Os olhos se estreitaram, sempre atentos, sempre desconfiados. — Espero que não seja algum homem.

Ajudei-o a deitar, como sempre fazia.

— Claro que não. Foi só alguém que ligou para o número errado.

Ele relaxou, se acomodando nos meus braços como se nada tivesse mudado.

— Ótimo. Nunca mais fale com outro homem além de mim.

O cobri e me deitei ao lado dele.

Mas o sono nunca veio. Fiquei acordada a noite toda, os pensamentos girando em torno de tudo o que tinha descoberto... e de tudo o que estava prestes a fazer.

No dia seguinte, Eric e eu estávamos a caminho do resort que ele havia mencionado. No meio do trajeto, ele recebeu uma ligação e cancelou a viagem na mesma hora. Disse que precisava resolver um problema no cassino — alguns bêbados haviam causado confusão por lá.

— Me perdoa, amor. Eu vou compensar isso, juro. Toma, usa esse cartão. — Ele me entregou um cartão preto, liso e gelado na palma da mão. — Compra o que quiser, amor.

E assim, ele foi embora.

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