Harlow
— Senhorita Davis! Desligue essa droga de aparelho! — O professor gritou pela terceira vez. Olhei para tela travada do meu smartphone e apertei sem parar. Era uma ligação do meu pai. A quarta que eu não conseguia atender. Tropecei ontem no trabalho e quebrei a m*****a tela do meu celular e não tive chance de consertar. Eu não era rica, mas consegui um bom trabalho em uma joalheira e consigo custear o básico pelo menos. Isso quando meu pai não pega metade do meu salário para encher a cara. Olhei para o professor Miller, tentando fazer ele entender minha súplica e voltei para tela do meu celular rebelde. Finalmente consegui recusar a chamada do meu pai. Isso era algo que eu poderia resolver depois. Só espero que não seja nada grave. O professor Miller caminhou em minha direção e parou com a mão estendida. Dei meu celular para ele e cruzei os braços, emburrada. — Quero conversar com você depois da aula. — Ele disse, enquanto voltava para o quadro. Que droga! Eu estava no meu segundo ano na faculdade como bolsista, uma advertência seria péssimo para o meu currículo. — Ele quer te ver depois da aula? Ou você está encrencada, ou é algo sexual. — Minha melhor amiga, Manuela, sussurrou. — Manu! — a repreendi. — O quê? Ele é um gato, Harlow. Olha essa bundinha. Tentei não olhar para a bunda do meu professor de História da Arte enquanto ele escrevia no quadro, mas era tentador demais para não olhar. Acabei dando uma espiadinha rápida. O Professor Anthony Miller era um gostoso. Cabelos pretos e olhos penetrantes. Era impossível não se sentir atraída. Mas ele também vinha com um sinal enorme de alerta por vários motivos. O primeiro é que ele é o meu professor. O segundo é que ele é misterioso demais. Ele já foi na joalheria que eu trabalho várias vezes e comprou joias que um salário de professor não conseguiria comprar. Ele sempre comprava relógios, vários deles e os mais caros. Mas da última vez ele comprou uma pulseira de ouro maciço cravejada em brilhantes da Cartier avaliada em mais de 15 mil dólares. — Veja como ele olha para você, amiga. — Pare, Manu. Pelo amor de Deus. Se concentre na aula. Ela revirou os olhos e virou o corpo para frente. Na verdade, era muito difícil me concentrar na aula e não pensar no motivo das ligações do meu pai. Ele estava tão estranho esses dias. Talvez estivesse com algum problema que não queria me contar. O meu medo era que ele estivesse devendo alguém da pesada ou tivesse voltado a jogar. Uma hora e meia depois e a aula havia acabado. Recolhi todas as minhas coisas lentamente. Afinal, eu tinha uma inquisição com o professor bonitão, que estava com meu celular. Sem chance de sair por aquela porta tão cedo. — Boa sorte com o professor bonitão. Eu espero que ele tire sua virgindade naquela mesa. — a Manu falou, sorrindo. — Meu Deus, Manu! Fala baixo, ele pode escutar. — Ela sorriu, ignorando meu total desespero. — Gostaria de te esperar, mas eu tenho que ir ao shopping com minha mãe. — E eu preciso trabalhar. Inclusive vou me atrasar. — Então, boa sorte duas vezes. — Ela soltou um beijo no ar para mim e saiu da sala. Olhei para o Professor Miller, que estava colocando suas coisas na bolsa. Me aproximei e pigarrei para ter sua atenção. — Será que o senhor pode me dá meu celular agora? Ele me olhou com testa franzida e apontou a cadeira à sua frente. — Sente-se, Senhorita Davis. Eu me acomodei na cadeira. — Eu sinto muito, professor. O meu pai estava ligando e meu celular travou. — Comecei a me desculpar. — Por isso que eu falo para desligar o celular na sala de aula. — Eu sei, mas isso nunca aconteceu. — E espero que não aconteça mais. — Mas é claro. Não vai se repetir. Ele pegou meu celular e sentou na beira do birô. — Senhorita Davis. Você está comigo desde o ano passado e é uma das minhas melhores alunas. — Sou? — Não seja modesta. Você é dedicada e tem ótimas notas. — Eu me esforço. — E eu aprecio muito seu esforço. É por isso que quero te dar mais. Algumas aulas extras que vão ajudar no seu currículo e na construção da sua carreira. Você quer ser professora, não é? — Ainda não tenho certeza. — As aulas extras vão te ajudar a decidir. Também posso te preparar para ser minha assistente nas aulas. Você sabe que sempre escolho um aluno para dar algumas aulas com minha supervisão, claro. — Ah, sim. Isso seria incrível. Mas sinceramente, eu não tenho tempo para aulas extras. Trabalho na joalheria quando saiu daqui. Aliás, já estou atrasada. — No Império King. Eu sei. — Notei uma ruga de irritação se formando no meio da sua testa. — As aulas podem ser no final de semana. Horário de aula. Ele levantou do birô. — Fica ao seu critério. Mas essa é uma boa oportunidade. — Eu sei. Posso pensar e dar a resposta depois? É que agora eu preciso realmente ir. Vou me atrasar para o trabalho. — Sim, claro. Recolhi minhas coisas e estendi a mão para ele. — O meu celular, senhor Miller. — Sim, claro. — Ele sorriu, dentes perfeitos alinhando a sua beleza. — Me chame de Anthony. Quando ele me deu o celular, nossos dedos se encontraram. Senti um arrepio estranho no corpo, alinhado ao seu olhar para mim. Era sombrio, não agradável. Era difícil decifrar. — Eu realmente tenho que ir, professor. — Para o império King. — Sim.