Capítulo 2

Capítulo 2

Era domingo e André estava na sala da avó, com seus livros espalhados na mesa, terminando umas tarefas e estudando para as cinco provas que teria nessa semana. História e inglês na terça. Era muita matéria para o mesmo dia.

A avó morava nos fundos de sua casa, na edícula. A sala era bem arejada e iluminada. O sofá azul claro e a poltrona rosa vibrante da avó davam um toque de humor ao ambiente. Ela era assim, bem-humorada, otimista, ativa.

Chegou da feira carregada de sacolas, mas Daniela vinha junto, carregando os itens mais pesados. Era uma jovem de cabelos pretos e longos. Olhos também pretos, sempre brilhantes. Era amiga de dona Luiza desde que se conheceram na igreja, no ano passado. Daniela liderava o grupo de jovens, a pedido do padre Rubens.

— Oi fio. Está estudando? Encontrei a Dani na feira.

— Oi vó. Oi Daniela. Por que não me chamou pra carregar as sacolas, vó?

— Eu ia pegar pouca coisa, depois me empolguei. A Dani caiu do céu...

— Imagina, dona Luiza. Eu não tinha nada pra carregar. Fui só pra comer pastel — disse sorridente.

— Senta, Dani. Eu vou tomar um banho e nós vamos juntas para a missa das dez. Ainda é cedo. Quer ir, fio?

— Não, vó. Tenho que estudar para as provas.

Quando dona Luiza sai, a jovem se aproxima da mesa.

— Desculpe se eu estou vindo muito aqui, André. É que eu estou super apaixonada...

— Olha, Dani... — ele corta impaciente. — Eu tenho namorada.

Um silêncio pesado e embaraçoso cai sobre o ambiente.

— Não precisa ficar envergonhada — ele tenta ser mais gentil, pois percebe no rosto de Dani, que ela é muito sensível. — Você não sabia...

— Não é isso. É que eu estou me sentindo como se o Rodrigo Santoro me avisasse de que é casado com a Mel. Tipo assim, mas se não fosse, eu teria uma chance? Impossível imaginar essa situação.

— Você me compara ao Rodrigo Santoro?

— Sim. Acho até que te admiro mais, porque você é real, não um sonho da TV, algum personagem da ficção, que é o que o ator nos apresenta.

Ele está se sentindo orgulhoso de ser visto dessa forma. Dani continua a explicação, como se quisesse se livrar do embaraço.

— Você é o cara que a gente conhece e respeita. Todo mundo está sempre se aproximando de você, porque você tem uma personalidade rica. Mas eu nunca pensei em você de forma romântica. Seria o mesmo que tentar passar umas férias em outro planeta.

— Que exagerada — ela é tão intensa que provoca risos no rapaz. É bom conversar com ela. Daniela fala construindo imagens, sua imaginação explora o assunto junto com ela.

— Não sou, não. Você namora a Vanessa, certo?

Ele acena que sim. Não quer interrompê-la, ela tem um brilho intenso no olhar.

— Então. Ela é a garota mais linda da escola, talvez da vila inteira. — Dani continua com sua linha de raciocínio, mesmo que isto esteja provocando mais risos em André. Ela tem um sorrisinho no rosto também. O senso de humor dos dois combina. — Ela anda bem vestida, com penteados da moda, perfumes caríssimos. O que ela gasta em produção, daria para alimentar a população carente de uma cidade pequena. Ela poderia estar em uma capa de revista, mas você merece alguém assim. São um casal lindo.

— Eu a acho linda mesmo.

— E você pensou que eu era uma destruidora de casais? Não sei como não me expulsou daqui.

— Olha, é normal se apaixonar. Afinal, foi o que você disse.

Ela apenas olha para ele por um instante.

— André, o que vou falar agora é a mais pura verdade. Não é pra salvar a cara porque eu fui rejeitada. Eu te garanto que eu odeio mentira. Já sofri muito com isso.

— Certo.

— Quando eu estava me expressando, você me interrompeu. E o que eu disse é mesmo só um jeito de falar. Eu ia completar que eu venho muito aqui porque estou apaixonada... pela sua avó.

Outro silêncio enorme cai sobre o cômodo. Ele está atônito. Nossa, como fora vaidoso!

Daniela sai apressada.

Quando a avó entra na sala, vai logo perguntando:

— Ué, fio, a Dani não me esperou? Vai ver ela tinha que chegar mais cedo. Essa menina é uma paixão. — André explode de rir. Ai, esse povo da igreja da vó. Eles eram assim mesmo, exagerados pra falar. — Está louco, fio? Rindo da vó desse jeito...

Ele abraça a idosa.

— Louco por você, vó. Como todo mundo, aliás.

Dona Luiza vai toda alegre guardar as mercadorias que trouxe da feira, antes de ir para a igreja. André fica pensando em uns olhos negros brilhantes de uma garota que tem um jeito todo engraçadinho de se expressar. Quando volta a se concentrar nos estudos, um sorriso permanece em seu semblante.

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