A mansão Vasques permaneceu iluminada durante toda a noite.
Lívia estava sentada no sofá, inquieta, com as unhas cravadas tão fundo nas palmas que fizeram sangue escorrer entre os dedos.
Mas ela parecia não sentir nada. Fixava o olhar no relógio de parede, viu com os ponteiros se moverem das doze da madrugada até às sete da manhã.
No exato instante em que o relógio soou sete badaladas, passos apressados ecoaram lá fora, aproximando-se rapidamente.
O olhar do Artur estava sombrio e carregado de fúria. A tensão que emitiam seus olhos fez o couro cabeludo de Lívia se arrepiar, um frio percorreu dos pés à cabeça.
Ele pegou um chicote das mãos de um dos empregados e caminhou em sua direção, passo a passo.
— Lívia, você faz ideia de que, por pouco, a Luana e o bebê poderiam ter morrido?
Bebê?
Luana estava grávida?
O choque tomou conta de Lívia, mas logo ela recobrou a consciência.
Sim... na vida passada, foi exatamente nessa época que ela engravidou também.
Nesta vida, quem ficou com Artur foi Luana. Era natural que fosse ela a grávida agora.
Sem tempo para digerir a informação, Lívia viu-se diante de um Artur que estava prestes a aplicar um castigo físico por Luana. Seus olhos se encheram de lágrimas, ela se esforçou para explicar:
— Eu não mexi no vestido. Nunca quis machucá-la. Desde o sequestro, passando pelas cartas que apareceram na festa, até o vestido de ontem... Você realmente não acha estranho tudo isso? Se eu quisesse prejudicá-la, teria mesmo conseguido tantas vezes seguidas?
Ela acreditava que, ao dizer isso, Artur, que sempre foi racional, veria as incongruências óbvias.
Mas ele estava completamente dominado pela raiva.
Sua voz gelou:
— Então, segundo você, a Luana está te armando armadilhas? Eu a amo. Vou me casar com ela. Por que ela faria isso com você?
Essa era exatamente a dúvida de Lívia:
— Eu não sei…
A frase mal havia chegado à metade, quando um grito de dor escapou de seus lábios, o chicote de Artur, que ela nem percebeu quando foi erguido, já descia com força sobre seu corpo.
— Lívia, você é mesmo teimosa até o fim!
Seu rosto perdeu toda a cor. Um sorriso amargo escapou de seus lábios.
Luana era a única em seu coração. Como ela ainda podia ter esperança de que ele acreditaria nela?
Por instinto, tentou correr.
Mas dois seguranças surgiram atrás dela e a forçaram contra o chão.
— Você vai admitir o que fez? — Artur gritou, enquanto o chicote caía novamente.
O corpo de Lívia tremia de dor, mas ela manteve as mãos cerrados, sem emitir um único gemido.
Ela não respondeu. O chicote de Artur desceu mais uma vez, com brutalidade, direto nas costas dela.
— Estou perguntando mais uma vez! Vai admitir ou não?
Ela continuava calada, os lábios firmemente fechados.
Porque ela não tinha culpa! Por que deveria admitir?
A insistência de Lívia apenas inflamou ainda mais a fúria de Artur.
O chicote descia uma, duas, três vezes.
Logo, as costas de Lívia estavam em carne viva. Mas mesmo assim, ela se recusava a ceder.
Foi só quando o mordomo, comovido, se aproximou e segurou o braço de Artur que a agressão cessou.
— Senhor, se continuar... pode acabar matando-a.
Só então Artur soltou o chicote e o jogou no chão.
— Não ouse fazer isso de novo, Lívia.
Sem forças, Lívia desabou. A cabeça encostou no chão, ela desmaiou.
Nos dias seguintes, Artur não voltou para casa.
Já Lívia, com as costas completamente em carne viva, não conseguia sequer levantar-se da cama.
Ficou de repouso por dias até conseguir, aos poucos, caminhar novamente.
Na manhã em que finalmente estava melhor, recebeu uma ligação do consulado: a autorização de residência permanente havia sido aprovada.
Com os documentos em mãos, não havia mais motivo para continuar na casa dos Vasques.
Lívia voltou apenas para pegar as últimas malas. Mas ao sair, deu de cara com Artur.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele já falava:
— Quantos anos você tem, Lívia? Ainda fazendo esse teatrinho de fugir de casa? Já te falei mil vezes para não ter sentimentos por mim. E ainda tem a ousadia de bancar a vítima? Você foi teimosa, cruel, atacou a Luana repetidas vezes, e agora vem me dizer que eu te puni injustamente?
Ao ouvir o que ele disse, Lívia apenas sentia cansaço.
Quantas vezes mais teria que repetir que não o amava, para que ele acreditasse?
Seu silêncio irritou Artur ainda mais. Ele suspirou, massageando as têmporas.
— Enfim… Vá respirar um pouco. Luana está com a gravidez instável, e eu estou ocupado com os preparativos do casamento. Se você ficar, quem garante que não vai causar mais problemas?
Então, pegou as malas da mão dela.
— Eu mesmo vou te levar ao aeroporto.
Lívia não respondeu. Nem tentou se justificar. Apenas o seguiu em silêncio.
O carro cruzou a cidade até o terminal.
Quando ela pegava as malas e se preparava para sair, Artur, finalmente, perguntou:
— Para onde é a sua passagem?
Os lábios de Lívia se moveram, mas antes que pudesse responder, ele disse friamente:
— Fique por aqui. Visite algumas cidades próximas. Não vá longe. Depois que eu e Luana nos casarmos, venho te buscar.
Dessa vez, Lívia não rebateu. Apenas respondeu:
— Está bem.
Despediu-se, puxou sua mala e entrou no aeroporto diante do olhar dele.
Quando o carro desapareceu entre os demais na rua, Lívia pegou o celular, bloqueou todos os contatos de Artur, e foi direto para o portão de embarque.
Voltar?
Não precisa, Artur Vasques.
Ela nunca… nunca mais voltaria.