Capítulos 4 | 5

— Eu acho que descobri uma coisa, meu professor de física... Te explico, quando você chegar, vou pegar o ônibus, tchau.

Ele sabia que se não desligasse iam surgir as mesmas perguntas que passou pela sua cabeça até entender o que tinha acabado de acontecer. Difícil seria explicar para seu pai.

— Entendeu? Ele vai “empurrar” a corrente, e quando não aguentar mais, volta tudo pro indutor. — Diego tentava explicar de maneira simples e didática aquilo que envolvia princípios físicos difíceis de se explicar para alguém que não teve o mesmo nível de escolaridade.

— Então tem como tirar energia dessa coisa, e dá pra usar isso para o que a gente quiser? Até pra carregar o celular?

— É bem isso, mas o funcionário da escola disse pra eu não falar pra ninguém.

— Também acho, muito menos pra sua mãe.

— Ué, mas se eu falei pra você, não pensei que teria problema falar pra ela o que aconteceu e explicar como o circuito funciona.

— Não sei... Talvez... Ela pode não gostar. — Roger estava pensando em um argumento para não ter que dividir o dinheiro com sua esposa.

— Tanto faz, só achei que ela fosse gostar de saber. – Um barulho, era a porta sendo aberta. A mãe de Diego acabava de chegar.

— Morreu o assunto.

Roger conhecia sua esposa, e sabia que quando se tratava de dinheiro, ela não pensava duas vezes antes de gastar tudo com roupas ou futilidades.

— Mãe, agora eu vou poder ir na festa de formatura da escola.

O pai estava longe demais, mas tentou dar um cutucão para que Diego se calasse.

— Ah vai? Mas eu achei que já tivéssemos acertado sobre isso, estamos sem dinheiro. — Rosa falou.

— Eu ganhei... uma gratificação no trabalho. É isso. Combinei com Diego que agora ele vai na festa de formatura.

— Desde quando Glauber dá gratificações? — Rosa perguntou desconfiada.

— Ele tem sido bastante generoso. — Roger mentiu.

— Que ótimo. Espero que tenha pensado em mim, também vou ganhar um presente?

— Claro, querida. Eu sempre penso em você.

Diego simplesmente engoliu o pedido de não contar sobre o acontecido, mas sabia que cedo ou tarde revelaria para sua mãe que ele era guardião de um segredo que, embora não tivesse se dado conta, se tratava de algo que poderia representar um grande avanço para o mundo.

As próximas aulas que estavam por vir seriam as últimas do seu ensino médio, então ele tentaria aprofundar o assunto com seu professor para entender melhor como o tal circuito funcionava. Com o final do período chegando, todos na escola falavam sobre a formatura e festas de fim de ano. 

Ele bem que queria contar para seus amigos o que aconteceu depois que saiu daquela aula e sobre o dinheiro que ganhou por ter realmente demonstrado interesse pelo circuito. Mas a mensagem do funcionário foi clara “só não conte para ninguém. Se contar, você perde”. Ficava a sensação de medo sempre que pensava em escrever algo sobre ou conversar com um amigo próximo sobre tudo que tinha acontecido. Um medo de que mais tarde ele descobriria ser um grande fardo que teria que carregar.

Naquela noite, Diego foi dormir com uma única vontade, imaginando se um dia ele poderia ser o grande descobridor da fonte eterna de energia. Ele estava deitado imaginando como seria ser alguém realmente importante. O pensamento veio como algo novo, uma vontade que nunca tinha sentido. 

Enquanto o sono ia chegando, foi sentindo algo diferente. Tinha algo errado no ar, uma sensação que já havia sentido antes na praça número dois, mas não sabia explicar o que era. O ar ia se adensando e pressionando sua cabeça, parecia estar entrando em um transe.

Em meio aos pensamentos, uma mudança foi induzida em sua mente. Ele nunca quis ser um cientista nem nada do tipo. Nunca teve vontade de ser famoso ou idolatrado por fazer uma grande descoberta. Ele sentia a partir daquele momento que tudo que sempre quis foi ser um astronauta. Algo estava melhor. A atmosfera ao seu redor se normalizava para um estado mais agradável, mesmo que antes ele não conseguisse perceber alguma alteração que afetasse seus sentidos.

 

07/2070 – Dias após o acidente.

Brenda chegava em casa após passar três dias no hospital. As complicações no parto e os eventos de força maior fizeram com que o processo de recuperação transcorresse mais devagar que o planejado.

A casa simples possuía apenas um andar, logo que se passava pela sala vinha um corredor com o quarto do casal, um quarto de visitas, e o quarto dos gêmeos, que ficava bem ao lado da cozinha. Os preparativos para a chegada dos bebês ainda estavam sendo feitos.

— Querida, os berços me deram mais trabalho que o esperado. — Marcos era o pai das crianças. — Mas eu prometo que vou terminar de montar antes do dia escurecer.

— Assim espero. Não quero ter que imaginar nós quatro na mesma cama.

Brenda era uma mulher séria, o bom humor da casa era mantido na grande parte do tempo pelo marido, que fazia questão de estar sempre alegrando o ambiente. Os acontecimentos durante o parto certamente fizeram o humor de Brenda piorar em um nível que ele só percebeu após chegar em casa. Apesar disso, ele faria de tudo para manter o clima agradável como sempre fez.

Os bebês foram resultado de um grande trabalho de convencimento feito principalmente por Marcos. Com a ajuda de alguns familiares, tentavam dar o exemplo de como era bom ter crianças em casa. Brenda demorou para ser convencida e decidir que realmente queria engravidar.

Junto com a mudança de ideia, vieram os preparativos para a chegada dos bebês, e a mudança de casa. Como era do costume de Brenda, foi ela quem ficou responsável por ajustar as finanças do casal e se adaptarem aos novos hábitos e estilo de vida que teriam com a chegada das crianças. Marcos sempre foi mais otimista.

— Eu acho que vamos ter que pedir comida para hoje à noite.

— Em alguns dias você vai chegar a minha conclusão de que precisamos de uma empregada. Por mais que eu esteja de licença, eles são dois. E não quero demorar para voltar ao trabalho. — Brenda trabalhava em uma imobiliária.

— Você definitivamente não vai precisar de muito para me convencer. Eu troquei a fralda do Arthur mais cedo e o próprio cheiro já me convenceu de que não vou querer fazer isso muitas vezes.

Os berços ficavam um em cada extremidade do quarto dos bebês. A proximidade com a cozinha contribuía com que ao passarem por ali para coisas comuns como beber água, os gêmeos fossem facilmente monitorados.

Marcos e Brenda já haviam jantado e ido se deitar quando os gêmeos começavam a chorar.

— Está ouvindo? — Brenda perguntava sem muita vontade de levantar-se.

— Estou ouvindo sim, acho que eles estão chamando você.

— Ah, francamente, eu mereço uma noite de descanso. Aproveita e faz o curativo do Lino. 

— Haha, você está certa, essa noite é minha.

— Põe comida pros gatos. — Brenda o lembrou.

Marcos levantou-se, e ao chegar no quarto dos gêmeos percebeu que apenas um deles estava chorando no berço.

— Quem chamou o papai?

Arthur chorava. Para não se confundirem, haviam combinado de que Arthur ficaria no lado esquerdo, e Lino no berço da direita. Além disso, as cores das roupas também eram diferentes para não haver confusão.

— Ah você de verde é o Arthur. Deu trabalho com aquela fralda hoje cedo, hein. — Ele conversava como se pudessem lhe entender.

Aquela era apenas uma das idas ao quarto dos gêmeos, que certamente se repetiriam algumas vezes durante toda a noite. Além dos bebês, estava no quarto Toby, um dos três gatos da família.

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