CODINOME: IGOR
CODINOME: IGOR
Por: Rafa Tofannetto
FAMÍLIA SANS

   - Como andam os estudos Vitor? (Meu pai pergunta. Era apenas isso que ele perguntava) 

   - Bem pai. Falta só mais alguns meses para terminar o estudo avançado de robótica. (Ao conversar comigo, ele não me olha. Apenas degusta sua refeição. Me sinto como um de seus empregados).

- Quais são seus planos quando acabar o estudo avançado? 

   Eu ainda não sabia o que faria. Bernardo, meu irmão do meio, percebendo meu silêncio, rapidamente me da um chute por baixo da mesa. Sutil, apenas para que eu olhasse para ele, e com uma expressão rápida de olhar, apontou para o papai, como se ele mesmo quisesse responder. Apesar da distância entre eu e meus irmãos, sempre tive uma certa sintonia maior com o Bernardo. Acho que é o que dizem sobre ser coisas de irmãos. Entendi o que ele queria e disse.

   - Se o senhor me permitir gostaria de iniciar uma carreira em alguma de suas empresas. Assim como meus irmãos. 

   Senti um alívio na expressão do Bernardo e espanto no rosto de Cristian, meu irmão mais velho. Mas não consegui ler nada na expressão do meu pai. 

   - Ótimo! (Foi apenas o que ele exclamou. Acho que em vinte anos essa foi a primeira vez que o agradei). 

   Ficamos novamente em silêncio. Sempre era o Bernardo quem quebrava o gelo durante as conversas do jantar, apesar do olhar desaprovador do Cristian. 

   - Seu aniversario é semana que vem Vitor, quais os planos? Terá uma festa? 

   - Não sei ainda Bernardo. Acho que vou sair com alguns colegas do estudo avançado. Você sabe que não tenho muitos amigos. Mas não é certeza ainda. 

   Não sei o que teria sido de mim se tivesse sido criado pelo meu pai. Seria quase como estar nas forças especiais da ilha país. Tudo sempre muito rígido e cheio de regras. Meus pais se separaram eu ainda era bem pequeno. Meus irmãos preferiram ficar com o papai, porque pensavam que com a mamãe eles seriam pobres. Meu pai é um dos homens mais ricos e influentes de nosso tempo, ele é dono da maior empresa de transportes da ilha país em que vivemos, além de empresas em outros ramos. Nossa ilha país fica ao centro do que um dia foi o continente americano. Depois da grande catástrofe do aquecimento do planeta e o derretimento das calotas polares, muitos continentes foram praticamente dividos em ilhas. Não tenho ideia de como era o cotidiano das pessoas a 100 ou 150 anos atrás, mas pelo que já pesquisei em artigos antigos da nova rede, acredito que não seja muito diferente de hoje. E não gosto de como as coisas são.

   Minha mãe sofreu muito com o abandono dos filhos. Mas ela sabia como eles eram, mãe sempre sabe. 

   Meu pai não nos deixou completamente desamparados. Ficamos com uma bela casa na terceira cúpula e minha mãe acabou assumindo o controle total de uma fábrica de tecidos e roupas, na qual ela já era sócia do meu pai, além de uma boutique na principal avenida comercial da terceira cúpula. Para mim não foi um grande susto vir morar aqui. Meus pais se separaram eu ainda era muito pequeno por isso só vejo a diferença entre a terceira cúpula e a primeira, onde meu pai mora com meus irmãos, quando os visito.

   As cúpulas são como bairros ou condomínios que existiam antes da grande catástrofe de inundações. Nelas, além das mansões e casas também há comércios, escolas e hospitais para seus moradores. 

   A primeira cúpula é destinada apenas aos milionários, ao nosso governador e seus ministros. Claro meu pai mora lá, pela fortuna e pelo império que ele levantou em mais de quarenta anos trabalhando com o transporte de cargas​ e outros investimentos. Seus navios transportam cargas comerciais entre as grandes ilhas. Desde alimentos a veículos de locomoção local. Não sei muito sobre as empresas dele, mas a imprensa diz que ele é mais poderoso que nosso governador.

   A primeira cúpula é a mais imponente e bonita, localizada no alto de uma colina. O ponto mais alto da nossa ilha país. Tem avenidas largas e arborizadas, onde os milionários desfilam em seus aerocars e aerociclos de última geração. Também é de lá que nosso governador e as forças especiais controlam e monitoram toda a ilha país 12. 

   A segunda cúpula é destinada a artistas. Inclusive artistas de outras ilhas que tem suas mansões de férias aqui na ilha país. Até já conheci alguns em uma das festas que de vez em quando meu pai realiza, com a presença do nosso governador e alguns ministros. 

   A terceira cúpula é onde eu moro com minha mãe. Meu pai deixou uma grande casa para nós, com um grande jardim e piscina, além de uma ampla garagem onde passo boa parte do meu tempo montando, desmontando e arrumando um veículo de locomoção local com rodas que adquiri em uma das minhas visitas em um ferro velho de sucatas na quinta cúpula. Temos apenas duas empregadas. Minha babá, que cuida de tudo para minha mãe e ainda cuida de mim e a nossa governanta, que cuida de todos os afazeres da casa. Algumas pessoas tem andróides ou robôs como empregados, mas minha mãe é avessa e isso. 

   A quarta cúpula é onde moram os empregados das cúpulas mais altas. Empregadas, jardineiros, motoristas, agentes das forças especiais, entre outros. Poucos moram na casa dos seus empregadores. 

   A quinta cúpula é o destino dos que fazem tudo funcionar na ilha país, todo tipo de empregado dos mais diversos ramos da indústria. A quinta cúpula já não é tão bonita como a primeira, segunda e terceira cúpulas, pois todas as fábricas e indústrias estão localizadas ali. 

   A sexta cúpula é onde quase ninguém quer ir. É o lar dos pobres e esquecidos pelas cúpulas mais favorecidas. Dizem que lá os hospitais vivem em situações precárias e as crianças não tem estudos, pois nenhum mestre tem coragem de dar aulas lá. Acho isso muito errado. Somos todos iguais portanto todos deveríamos ter as mesmas condições de moradia estudos e alimentação. 

Eu e minha mãe temos o mesmo pensamento talvez por isso sempre nos entendemos. Ela não gosta de chamar os trabalhadores da fábrica de empregados, ela os chama cada um pelo nome e eu também quando vou ajuda lá. Isso fica fácil pois ela faz questão que todos tenham seus nomes bordados em seus uniformes. Temos que tratar todos de igual para igual foi o que ela me ensinou. 

   Temos livre acesso a todas as cúpulas assim como todos da primeira e segunda. Porém moradores da quarta, quinta e sexta cúpulas só podem entrar na primeira, segunda e terceira se forem empregados ou se estiverem acompanhados de moradores. Caso contrário a entrada é proibida e havendo uma invasão são condenados a duras penas na pequena ilha prisão ao sul de nossa ilha país 12. 

   Estudo e ajudo minha mãe nas horas vagas. Pode se considerar que sou o filho perfeito. Sem vícios. Sem amigos. Sem graça nenhuma. Sem diversão na vida. Minha distração é trabalhar em meu veículo de locomoção local com rodas. Mas existe dentro de mim uma vontade escondida. Algo que não sei explicar, apenas sinto, mesmo não sabendo bem o que é. 

   As vezes visito meu pai, mas ele nunca tem tempo para mim, apenas para meus irmãos. Mais eu gosto de ir para a mansão da colina, até tenho um quarto só meu lá. Na verdade é praticamente uma casa só para mim. 

   A mansão tem três andares que se parecem com cubos de montar, uns sobre os outros tudo muito grande e reto, amplo e com uma ótima iluminação, em grande parte por ter quase todas as paredes externas feitas de vidro. Por onde andamos vemos todo o lado norte da ilha país 12, até o horizonte. Nossa ilha é uma das maiores da região central.

   Minha célula habitável fica no primeiro andar. É bem grande com um quarto todo branco e duas paredes de vidro que vão do chão ao teto uma cama grande e confortável, um banheiro, além de sala, cozinha e até um quarto de hóspedes. Sem contar a garagem privativa que também fica ali. Tudo foi decorado e escolhido por mim e minha mãe. Meu pai não economizou dinheiro na reforma da minha célula. Disse que queria que eu tivesse tudo do bom e do melhor. Não sei se ele fez isso na intenção de que eu ficasse na mansão e deixasse minha mãe, como meus irmãos fizeram ou apenas queria se redimir da sua ausência na minha vida. A célula habitável dos meus irmão é do outro lado da mansão. 

Sempre fui afastado deles, apenas o Bernardo era mais próximo, porém quando estava com meu pai e o Cristian ele mudava e ficava distante como se fosse outra pessoa. Quase não os via quando estava na mansão, apenas na hora do jantar, pois meu pai fazia questão de todos a mesa.

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