Irina Smith
O céu começava a escurecer quando ouvi o interfone tocar.
Parei por um instante, bem em frente ao espelho. Meus olhos fixos no próprio reflexo. Um frio percorreu minha espinha, e a respiração se tornou mais lenta, não de medo, mas de antecipação. O coração disparava em um ritmo estranho, como se soubesse que dali em diante, não haveria mais como voltar.
— A senhorita está pronta? — a voz do motorista soou do outro lado da linha, polida, profissional.
Engoli em seco antes de responder.
— Estou descendo.
A máscara prateada já estava entre minhas mãos. Leve, fria ao toque. Um acessório que me protegia… e ao mesmo tempo, me revelava. Como se usar algo sobre os olhos me libertasse do resto do mundo. Como se ocultar o olhar me autorizasse a ser tudo que eu sempre reprimi.
Mas, naquele momento, eu tremia.
Peguei minha clutch pequena e saí do apartamento. O corredor parecia mais silencioso que o normal, como se até os sons do mundo respeitassem a tensão que me atravessava o corpo.