Eu não consigo mais contar quantas noites chorei em silêncio, tentando entender como tudo isso aconteceu tão rápido. Fui vendida. Não por um estranho. Não por alguém que me odiava. Mas pelo meu próprio irmão. O sangue do meu sangue. Ele olhou nos meus olhos, me prometeu que tudo ficaria bem… e no dia seguinte, eu já estava nas mãos de Don Alexander. Três meses se passaram. Três longos meses. E eu ainda acordo com o coração acelerado, o corpo tenso, como se o medo tivesse virado parte de mim. Ele é frio. Controlador. Nunca grita — o que, de algum jeito, é pior. Tudo nele é ameaça contida. A maneira como ele me olha, como se fosse dono de cada parte minha, da pele até os pensamentos. Eu fui vendida, como se fosse um móvel antigo. Sem valor sentimental, sem história que importasse. Apenas entregue, para ele, e assim, minha vida passou a pertencer a Don Alexander. Eu sabia algumas coisas sobre ele, o quanto ele era manipulador e cruel, mas nunca havia visto pessoalmente, não até a
A luz fraca da manhã mal tocava o chão da cela quando Melinda se aproximou. Seus olhos, mais fundos a cada semana, ainda carregavam uma centelha de força que me lembrava o mundo lá fora — aquele onde o céu não era cortado por grades.Melinda: Dormiu alguma coisa? — ela perguntou, sentando ao meu lado no jardim. Briana: Não muito — respondi, olhando para o céu. — Ele está tentando... — falo para a mesma que me olha com pena, mas logo é tomada pela raiva. Melinda cerrou os dentes. Ela sabia o que aquilo significava.Melinda: Precisamos sair daqui, Briana — ela disse em voz baixa. — De algum jeito, em algum momento. Isso aqui... isso não pode ser tudo o que nos resta. — Eu lembro que quando cheguei aqui, ela não tinha esperança nenhuma em sair, mas agora, parecia que às coisas haviam mudado, havia esperança.Briana: Eu penso nisso o tempo todo — sussurrei. — Penso em Suzane... em Anastácia. Eu me pergunto onde estão. Se estão bem, se sentem a minha falta. Só de falar o nome delas, algo
O silêncio da madrugada me sufoca. As paredes frias do quarto parecem cada vez mais estreitas, como se tentassem me engolir junto com os pensamentos que insistem em me assombrar. Meus dedos estão trêmulos, agarrando o cobertor como se ele pudesse afastar a dor que sinto no peito. Briana… Ela era tão viva, tão cheia de sonhos, mesmo naquele inferno. E agora… foi vendida. Não por um estranho, não por um inimigo. Mas pelo próprio pai. Um pedaço de carne entregue a Don Alexander, como se ela fosse um objeto, como se não fosse nada. Anastácia ficou em choque, disse que quando Briana ficou muda, percebeu que ela não sabia de quem se tratava Don Alexander, e era óbvio que não, nunca tivemos o hábito de falar dos Don's, ela nunca demonstrou interesse nesse tipo de assunto, sempre foi uma menina sonhadora e apaixonada pela natureza, mas agora, está vivendo em um inferno ainda pior do que onde ela vivia, a minha doce, Briana... Don Alexander… aquele homem é a encarnação do horror. O que
Aquelas três mulheres... estavam quebradas. E não era só tristeza — era dor, era desespero. Eu vi isso nos olhos delas. Suzane, Anastácia e até mesmo Amber... estavam se agarrando a mim como se eu fosse a última tábua flutuando no naufrágio. E talvez eu fosse mesmo. Mas o que elas não sabiam... é que essa água escura em que estamos todos afundando já é minha há muito tempo. Alexander. Apenas ouvir aquele nome já me envenena. Aquele verme sempre se achou acima de tudo e todos. Sempre soube esconder a podridão por trás de títulos e discursos. Mas agora... agora ele mexeu com algo que vai além das regras não escritas da nossa irmandade. Ele mexeu com alguém que não devia. Briana. Não a conheço pessoalmente. Mas ver a dor no rosto da Suzane... isso diz tudo. E Amber... acolhei essa causa como se conhecesse a mesma o suficiente. E ela já fez tanto por mim, que eu também preciso retribuir... Eu não sou um salvador. Nunca fui. Meu mundo é feito de sombras, contratos e punições sil
As mãos de Melinda tremiam tanto quanto as minhas enquanto ela colocava mais uma pedra no parapeito da janela. O sol já estava alto, mas não passava de um reflexo cruel naquele lugar onde o tempo parecia estagnado. Eu ainda sentia o gosto do sangue na boca. O tapa de Don Alexander não tinha deixado só uma marca na pele — ele tinha rompido algo por dentro. Briana: Ele me bateu, Melinda — confessei em um sussurro trêmulo, sentando ao lado dela. — Me encostou com força, me ameaçou. Disse que vai me tomar, queira eu ou não. Ela virou para mim como se o mundo tivesse parado. Por um segundo, achei que fosse gritar, mas ela apenas fechou os olhos com força, como quem tenta conter o mar de dentro. Melinda: Desgraçado... — murmurou, entre os dentes. — Isso não pode continuar. Ele vai acabar com você, Briana. Com a gente. Briana: Já acabou, Melinda — falei, encarando o chão. — Eu não sou mais a mesma desde que entrei aqui. Mas eu juro... ele não vai me tocar de novo. Nunca mais. Ela seguro
A mansão estava estranhamente silenciosa. As cortinas das janelas balançavam devagar com o vento que entrava, já estava escuro, a noite havia chegado, e junto com ela, o medo... A angústia apertava o peito como uma mão invisível, e eu mal conseguia ficar parada. Andava pela sala, passava os dedos nervosos pelas bordas dos sofás, encarava a porta como se, ao fitá-la com força suficiente, ela pudesse se abrir. Amber: Suzane, por favor… — a voz da mesma soou tranquila, sentada no sofá com um cobertor sobre as pernas e um livro fechado no colo. — Vem se sentar um pouco. Essa ansiedade está te consumindo viva, logo você abrirá um buraco nesse chão. — ela tenta aliviar o clima tenso que está presente. Suzane: Como posso me acalmar, Amber? — retruquei, quase num sussurro. — Você não a conhece… não viu o brilho que ela tinha quando criança. Briana… ela era a luz daquela casa sombria. E agora… não sei nem em que estado ela está. Amber respirou fundo, levantando-se devagar. Seus passos era
O som do metal sendo revisado ecoava no ar abafado do galpão. As armas estavam alinhadas, os coletes, prontos. Meus homens me aguardavam em silêncio, atentos aos últimos detalhes. A tensão era quase palpável, mas o foco nos olhos deles me dava confiança. Eu não podia errar. Don Niklaus: Atenção — falei, andando até o centro. — Entraremos pela ala leste da mansão. As câmeras foram desativadas, temos quinze minutos de vantagem até que o backup entre. Melinda e Briana estão no terceiro andar, ala interna. Nosso objetivo é tirá-las com vida. — Os olhares se cruzaram, firmes, Alex havia hackeado às câmeras da mansão, então, isso nos daria tempo, talvez não o suficiente, mas ajudaria de qualquer forma... — Se houver mais alguém, resgatamos também. Trabalhadores, governantas, qualquer um que não tenha levantado arma contra nós, deixem vivos. Isso não é massacre. É resgate. Só atirem em quem oferecer resistência armada. Todos assentiram rápidos e silenciosos. Amber apareceu na porta, seus o
Mais tarde, as coisas foram se acalmando. Melinda não saía do meu lado. A mão dela continuava colada na minha, como se qualquer descuido nos separasse. Nos sentamos em um dos corredores, no chão mesmo, encostadas na parede. Ainda estávamos sujas, com os cabelos desgrenhados, os rostos marcados… mas vivas. Briana: Você acha que acabou mesmo? — perguntei, olhando pro teto alto. Melinda: Eu acho que o pior passou — ela respondeu, apertando meus dedos. — E agora… a gente vai ficar bem. Juntas. Olhei pra ela. A luz amarelada da lâmpada deixava seu rosto com sombras suaves. Eu nunca tinha sentido por ninguém o que sentia por Melinda. Era mais que amor — era sobrevivência. Um amor nascido da dor, mas que floresceu como um jardim num campo de guerra. Briana: Promete que nunca mais vai se separar de mim? — sussurrei. Melinda: Nunca mais — ela respondeu, firme, os olhos presos nos meus. — Se tentarem, eu luto. Eu morro. Mas não deixo. Sorri, mesmo com o gosto da tristeza ainda na ga