O rosnado ecoa pela fenda como um trovão abafado. Não é um som de lobo. Nem de humano.
É algo mais antigo. Mais profundo.
Lioran se coloca à frente, os olhos atentos, os músculos tensos. Eu me aproximo devagar, sentindo o ar mudar. Mais denso, mais pesado. O cheiro é de terra úmida, sangue seco e algo que não consigo identificar. Algo ancestral.
A criatura emerge da escuridão.
Gigantesca. Pelagem espessa, negra como breu, com placas ósseas nas costas e garras que poderiam rasgar rochas. Os olhos são pequenos, mas incandescentes, como brasas vivas. A mandíbula larga revela presas tortas e afiadas. Não é um urso. Não é nada que pertença ao mundo comum.
É uma fera primitiva. Um erro da natureza. Ou talvez um lembrete dela.
Lioran recua um passo. Eu não.
Sinto algo. Um chamado. Uma conexão que não faz sentido.
— Ei... — murmuro, sem saber por que estou falando. — Precisamos de ajuda.
A criatura para. Inclina a cabeça. Rosna baixo.
— Eles estão vindo. Vão nos matar. Mas você... você pode