Capítulo Vinte e Dois

As águas noturnas, negras e misteriosas, escorregavam sob o barco como se velejássemos num véu.

Pouco a pouco, a ilha sumia de vista. Olhei para o horizonte, ao oeste, onde mais tarde veria surgir o continente, e não pude evitar o arroubo de ânimo que me acometeu.

Eu mal podia acreditar, mas em breve chegaria à província. Parecia fazer séculos desde que eu tinha estado em casa. Podia imaginar a indignação no rosto do meu pai, a surpresa de Farid e a alegria de Lena.

De repente, a angústia das últimas semanas parecia pequena comparada com o prazer de eu me ver, desde tanto tempo, liberto.

Isso me remeteu ao meu velho dilema de infância, quando um pensamento parecia contagiar os sentidos, com tamanha intensidade, capaz talvez de durar a eternidade. A ideia de contemplar o sorriso da minha irmã; de visitar a madeireira; de correr pela floresta que ladeava minha ca

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